Pra que o prefeito da Penha, Evandro Eredes dos Navegantes (PSDB), entregasse todos os papélis que os vereadores da oposição queriam, foi preciso uma ordem da dona justa. Mas os documentos solicitados pelos parlamentares que denunciaram as supostas irregularidades na compra de materiais escolares foram entregues. “De posse dos documentos que faltavam, é fácil perceber por que não queriam que nós tivéssemos acesso. É o atestado de corrupção do governo do Evandro”, afirma Aquiles Schneider da Costa (PSDB), líder da bancada de oposição.

O trio de vereadores do PMDB da Capital do Marisco já tinha feito denúncias no Ministério Público Federal (MPF), Tribunal de Contas da União (TCU) e até pra polícia Federal (PF), porque contava que a grana envolvida no rolo era do governo federal. E, segundo Aquiles, foi justamente o que eles constataram quando receberam os papélis que faltavam: o dindim pago nos apontadores, canetas, réguas e outros materiais escolares caríssimos era do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb).

“Agora vamos juntar estes novos documentos na representação que já fizemos na PF, no MPF e no TCU. Já sabíamos, mas só agora conseguimos confirmar que era dinheiro do Fundeb”, conta Aquiles. No mês passado, a bancada de oposição tentou instaurar uma comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) pra investigar as denúncias, mas os seis vereadores da base governista derrubaram a proposta de Aquiles, Sérgio de Mello (PMDB) e Benjamin Neto (PMDB). Por três votos a cinco, a CPI não foi pra frente.

“Eles queriam criar um fato político e trazer isso pra dentro da câmara”, justificou o presidente da casa do povo, Cleiby Darossi (PTB). Na época, além de pedir que a tal “CPI do Apontador” bizolhasse os rolos na compra de materiais escolares que teriam sido pagos num preço muito acima do valor de mercado, os vereadores do PMDB cobravam a falta de acesso deles aos papélis da prefa e reclamavam que as secretarias não teriam respondido a requerimentos aprovados na câmara.

Cleiby também teve uma explicação pra não ficar do lado dos colegas de trampo. “Na outra administração eu também não recebia as respostas, muitas vezes. Nós não somos invioláveis, mas tem de ser de forma organizada”, lascou o líder do legislativo. No início das denúncias, os parlamentares da oposição chegaram a ir na secretaria da Fazenda, mas lá foram barrados e saíram de mãos abanando. Foi o maior auê.

Abobrão da Fazenda vai sair da prefa

O mesmo abobrão que impediu os vereadores do PMDB de terem acesso aos papélis sobre as denúncias de superfaturamento na compra de materiais agora pede o boné. Zaqueu Rogério Francez anunciou que só fica na pasta até o fim do ano. Em janeiro ele já estará fora da administração da city. Apesar da coincidência, o abobrão jura de pés juntos que não vai sair por causa desse rolo dos apontadores e afins. “Essa situação foi na minha secretaria, mas não tem nada a ver comigo, porque foi na parte de licitação”, sisplica.

Zaqueu garante que já anunciou a saída com antecedência justamente pra não parecer que é por causa dessas denúncias feitas pelos parlamentares do PMDB. “Tive uma complicação cardíaca em 2009. Agora o médico me falou que vou ter que colocar um marca-passo. A cirurgia já tá marcada pro dia 11 de janeiro e eu só não saio antes da secretaria porque o prefeito me pediu pra encerrar o ano”, conta o abobrão. Ele diz que sai de cabeça erguida e que foi o responsável pelo crescimento da arrecadação da city.

Mesmo com a decisão de cair fora e a justificativa de que a razão é um problema de saúde, Aquiles não acredita. “Se ele tá saindo é porque sentiu que a água bateu na bunda!”, detona, sem dó nem piedade. O líder da oposição diz que, se sobrar pra mais alguém além de Evandro, esse alguém vai ser o responsável pela secretaria da Fazenda. “O ordenador é o prefeito, mas se os órgãos federais entenderem que tem um coautor, com certeza o primeiro é o Zaquel”, dispara.