Por Alfa Bile - alfabile@gmail.com
Fotógrafo, poeta e escritor. Autor do livro Lume, suas obras Fine Art já decoram hotéis como Hilton e Mercure. Publicado pela National Geographic e DJI Global @alfabile | @alfabilegaleria
Publicado 01/12/2025 08:41
Alterado 01/12/2025 09:25
Há poemas que nascem como quem respira fundo antes de desaparecer. “O vento desfez” surgiu assim: silencioso, quente, quase intacto — até que o próprio vento tratou de levá-lo.
Escrevi este poema-objeto em 10 de novembro de 2025, num daqueles instantes em que a memória parece mais viva que a presença.
Deixo aqui o poema em sua forma original, como nasceu em mim:
O vento desfez
Por Alfa Bile
Data de criação: 10 de novembro de 2025
foste.
a cama —
ainda quente,
te esperava
(vazio)
em meus olhos
viraste
ilusão
~
o vento
levou
o que era
nós
A cama quente. O vazio apertado no centro dos olhos. A ilusão que insiste em se fantasiar de lembrança.
E esse vento — sempre ele — que se encarrega de desfazer aquilo que chamávamos de “nós”.
Quando escrevo “foste.” logo no início, é porque a partida foi tão absoluta que virou palavra de impacto único. Uma sentença inteira em uma sílaba.
O resto é consequência: o corpo ausente que ainda deixa calor, o olhar tentando recriar o que já não existe, e um silêncio que não cabe no papel.
Este poema-objeto é curto, mas funciona como um rastro: um gesto, um sopro, um espaço deixado para que cada leitor encontre a própria ausência.
E talvez seja esse o papel da poesia — recuperar o que o vento desfez, nem que seja por alguns segundos de leitura.
Na VersoLuz, deixo este fragmento como quem oferece um pedaço de algo que já passou, mas insiste em permanecer.
O vento carrega, mas a leitura devolve.
Comentários:
Somente usuários cadastrados podem postar comentários.
Para fazer seu cadastro, clique aqui.
Se você já é cadastrado, faça login para comentar.
R$ 25.900,00
R$ 49.900,00
R$ 700.000,00
R$ 19,00
R$ 19,99
Publicado 28/11/2025 20:12