A vida social e política entra no corpo pelo pensamento. Torna-se importante falarmos sobre ciências cognitivas ou mesmo de psicanálise social para se poder apreender a lógica segundo a qual as disposições individuais e as relações sociais são objetivadas nas coisas e nos indivíduos, e se inscrevem no mundo para constituir todas as cercanias que nos rodeiam e nos definem. O pensamento que é incorporado pela sua própria exigência é constituído de imposições de valores e princípios mapeáveis e colocados em “cardápios sociais e políticos” que nos formam como somos e se adaptam às transformações que somos capazes de exercer.
A política, como as variantes do mundo no qual vivemos e sobre o qual agimos, pode ser dramática, sentimentalista, emocional; traduz emoções e representa significados incompreendidos pelos próprios indivíduos. De um lado, recoloca o indivíduo na prancha da idolatria de herói ou salvador, com adição de ingredientes do sensível e do imediato, e desconsidera os sentidos lógico-racionais e histórico-culturais que se nos impõem. Sentindo-se livres para expressar suas emoções, os indivíduos se aprisionam às emoções e cultivam a revolta e a vingança como expressão de integridade. Integridade que resvala ao irracional, aos impulsos primitivos de espécie, a promover o castigo ao adversário como satisfação pessoal, o sofrimento do oponente como revanchismo íntimo. Não é o que se ganha, mas o que o outro perde.
Como a indústria da massificação da preferência musical, a sentimentalização da política traduz o gosto, recomenda, para depois impor, o que deve ser preferido. A política é gerada com condicionamentos da “indústria de massa”, da produção do que será preferido e que será sentido como pessoal, íntimo, integral da expressão individual. O sentimento trai aquele que sente, não lhe sendo ato autêntico porque, condicionado pela docilidade de se aceitar como se fosse individual, mesmo a agressividade, coloca, no ato individual, no disfarce de ser pessoal, o condicionante estrutural de se viver em família, grupos sociais, na sociedade.
O voto não é, e nem pode ser, um ato de decisão individual, porque é reflexo das organizações políticas construídas nas estruturas dos partidos políticos, das definições eleitorais, as ...
A política, como as variantes do mundo no qual vivemos e sobre o qual agimos, pode ser dramática, sentimentalista, emocional; traduz emoções e representa significados incompreendidos pelos próprios indivíduos. De um lado, recoloca o indivíduo na prancha da idolatria de herói ou salvador, com adição de ingredientes do sensível e do imediato, e desconsidera os sentidos lógico-racionais e histórico-culturais que se nos impõem. Sentindo-se livres para expressar suas emoções, os indivíduos se aprisionam às emoções e cultivam a revolta e a vingança como expressão de integridade. Integridade que resvala ao irracional, aos impulsos primitivos de espécie, a promover o castigo ao adversário como satisfação pessoal, o sofrimento do oponente como revanchismo íntimo. Não é o que se ganha, mas o que o outro perde.
Como a indústria da massificação da preferência musical, a sentimentalização da política traduz o gosto, recomenda, para depois impor, o que deve ser preferido. A política é gerada com condicionamentos da “indústria de massa”, da produção do que será preferido e que será sentido como pessoal, íntimo, integral da expressão individual. O sentimento trai aquele que sente, não lhe sendo ato autêntico porque, condicionado pela docilidade de se aceitar como se fosse individual, mesmo a agressividade, coloca, no ato individual, no disfarce de ser pessoal, o condicionante estrutural de se viver em família, grupos sociais, na sociedade.
O voto não é, e nem pode ser, um ato de decisão individual, porque é reflexo das organizações políticas construídas nas estruturas dos partidos políticos, das definições eleitorais, as quais, antes do eleitor acordar, pensa o pensamento que deverá ser pensado pelo eleitor como se fosse seu. A liberdade ao voto é glorificada para que seja justificável a inclinação e a predisposição do eleitor em se olhar, com lentes que não são suas, uma versão de si como se em si se colocasse todo o repertório das escolhas e das decisões. “Eu vou votar em...” está preparado como se, sentados à mesa de um restaurante, os comensais escolhessem o que está disponível, nas condições de disponibilidade, a degustar sabores e ingredientes preparados para lhe saciar a fome e produzir satisfação, sem saber mesmo como os ingredientes foram selecionados, acondicionados, introduzidos e dispostos. O desejo é a atração inseparável da fome impulsiva, das decisões sobre as preferências individuais que nascem antes de o indivíduo nascer.
É necessário racionalizar os processos da vida que se vive para se poder decidir sobre a vida que se deseja viver nas condições que o mundo exige a vida a ser vivida, as disposições políticas e os meios segundo os quais as expressões políticas se realizam. Para se cultivar a liberdade é preciso a racionalização das coisas e se libertar dos ídolos. A política e os políticos, no Brasil atual, vivem das vaias de terem vencido as eleições, em celebrações nos escombros de escolas e hospitais.
Mestre em Sociologia Política