Colombo: Não. Para mim, isso é um processo da Justiça. Cabe à Justiça decidir. Acho, inclusive, que está demorando muito para julgar se cassa ou não. É claro que, a partir do momento em que as campanhas passaram a ser financiadas com dinheiro público, o uso de recursos privados passou a ser proibido. Acho que ali está bem evidente o abuso do poder econômico. Mas a Justiça ainda não concluiu o julgamento. A Justiça Eleitoral existe para ser rápida e eficiente. Não pode demorar três anos para julgar uma questão, porque aí perde todo o sentido.
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O senhor foi seminarista, queria ser padre, e acabou político. Como foi essa mudança?
Colombo: Eu era presidente do movimento da Igreja Católica na Diocese de Lages. Houve um vendaval muito grande lá e destruiu o seminário. A gente não tinha dinheiro para recuperar. Na época, eu tinha 18 anos, e estavam chegando a Lages o Jorge Bornhausen e o Konder Reis. O Konder era o governador e o Jorge já tinha sido escolhido como próximo governador. Tentei falar com eles, mas não tinha relação política nenhuma. Fui lá e disse: “Olha, temos um problema sério com essa situação aqui, e eu queria que vocês apoiassem”. Eles começaram a discutir com os líderes que estavam na reunião sobre a construção de um centro social urbano. O encaminhamento que estava sendo dado era para um lugar muito longe, fora da cidade. Pedi a palavra e disse: “Governador, isso aí está tudo errado. O centro social urbano tem que ser numa região onde as pessoas moram. Senão, para se deslocar até lá, não vai funcionar”. Ele pediu que eu esperasse um pouco, porque queria conversar comigo. Quando terminou, perguntou o que eu fazia. Eu disse que ajudava meu pai na fazenda, que tinha comércio e pecuária. Que eu estudava pedagogia e fazia parte do movimento. O Konder Reis falou: “Isso aqui nós vamos atender. Quando o Jorge vier, você reúne o grupo e eles entregam”. Eu reuni uns mil jovens. "A população quer que seja feito no bairro mais pobre, que é este aqui”. Ele olhou e disse: “Você vai trabalhar comigo no governo”. Respondi que não achava que poderia, que estava estudando e era difícil sair. Jogava futebol, era famoso na cidade, nosso time era muito bom. Quando o Jorge assumiu, ele me chamou para trabalhar na Fundação do Desenvolvimento Comunitário.
O senhor, na sua vida política, só não foi vereador e presidente da República. Disputou 12 eleições. Se aposentou ou estará no pleito de 2026?
Colombo: Eu, sinceramente, acho que quero contribuir. É meu dever como cidadão e como alguém que adquiriu experiência e recebeu tanto apoio. Mas eu preferia que houvesse renovação. No sábado, em Lages, teve uma reunião e eu disse para as pessoas: o que é o melhor? O melhor é encontrarmos uma pessoa nova para ser candidata. E mesmo que ela não se eleja, estará se preparando para a próxima. [Por que o estado tem dificuldades em produzir novas lideranças?] A política vive um momento muito crítico. Houve uma criminalização da política, e isso afastou muita gente. Também existe um desejo de mudança muito forte, mas ninguém está encontrando o caminho. Aquele sistema que a gente tinha, baseado no mérito, você começa como vereador, depois vira secretário municipal, prefeito, deputado, e vai construindo uma carreira pelo seu desempenho, pelo trabalho, foi desestruturado. Hoje vivemos muito pelas redes sociais. Há muita crítica, os radicais tomaram uma posição muito forte. Isso inibe as pessoas. É mais fácil ficar em casa, ou no telefone, criticando, do que ir buscar um mandato. [E muita gente votou por um número...] Isso desanima mesmo, porque quando um número vale mais do que uma história política... [O senhor acha que isso vai acontecer na próxima eleição ou já há uma queda nesse cenário?] A queda é significativa. A busca por qualidade está grande. A decepção com o cenário atual também. A discordância, o contraponto, quando bem feitos, são saudáveis. Essa linha mais agressiva vem muito de uma filosofia desenvolvida nos Estados Unidos, que o Olavo de Carvalho adaptou e trouxe para o Brasil. É a ideia de atacar no lado pessoal, partir para a agressão, para a intimidação.
Como vê a polarização política vivida no Brasil? O senhor sempre foi um político de centro-direita. Como se posiciona hoje?
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Colombo: Na época em que comecei na política, havia um predomínio muito grande da esquerda. Eles tinham aquele discurso forte contra a Revolução [golpe militar] Quando houve a Revolução, eu tinha oito anos de idade. Então, não tinha nada a ver com aquilo. Mas eu era presidente da Juventude Democrática Catarinense e rodava o estado inteiro. Quando você ia a uma universidade, não conseguia dizer a primeira palavra, já era vaiado. Era um radicalismo do outro lado. Eu paguei esse preço na época por ser de direita. Agora, tem gente dizendo que o Colombo é de esquerda. Não vão conseguir colar isso nunca. Eu defendo que o Estado tem que ser humano, tem que ser solidário. O Estado existe para promover e proteger as pessoas. Mas ele também precisa ser eficiente, porque só no discurso ele não se sustenta. Não tenho dúvida de que é preciso diminuir o tamanho do Estado, reduzir impostos — não aumentar —, aumentar a eficiência, terceirizar uma série de serviços. Isso é uma pauta absolutamente de direita. Agora, sob o ponto de vista humano e social, tem que haver o princípio da solidariedade. Você não pode ajudar quem já tem tudo, puxar o saco do poderoso — isso qualquer idiota faz. [O senhor é a favor da tributação dos mais ricos e isentar quem ganha até R$ 5 mil?] Eu não tenho dúvida de que tem que taxar, e também de que é preciso reduzir o imposto. Acho que estão fazendo isso muito perto da eleição, e isso é um erro. Hoje, o que se tributa com imposto de renda não é renda, - é o salário da pessoa. Eu não sou nem de direita nem de esquerda. Sou justo. Essa medida está correta, não importa qual é o governo.
Em 2020, a Justiça encerrou com sua absolvição uma denúncia indevida contra o senhor. Na Operação Lava Jato, o senhor foi acusado de fazer caixa 2 com a construtora Odebrecht. Passados quase 10 anos da operação, como o senhor avalia a Lava Jato: foi mais espetaculosa e destrutiva para reputações ou teve feitos importantes contra a corrupção no Brasil?
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Colombo: Eu acho que todo combate à corrupção tem um mérito. Se você não combate, ela se alastra. Agora, acho que o Moro não teve critério, não teve justiça. Ele foi um irresponsável. Criminalizou todo mundo. Hoje estamos pagando esse preço. Tinha coisas para corrigir? Sim, tinha e tem. Mas não destruindo tudo o que havia. Essa acusação, da qual fomos absolvidos por unanimidade, deixou marcas. Eu nunca tinha sido acusado de nada em 40 anos de vida pública. A Odebrecht não tinha nenhuma obra em Santa Catarina. Nenhum contrato. Nunca recebeu um tostão. Quando fui absolvido, noticiaram: “Raimundo Correia foi absolvido”. Certamente erraram sem intenção. Mas Raimundo Correia não sou eu — é um escritor antigo do Brasil. Esse é um preço que se paga.
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"Hoje o que se tributa com imposto de renda não é renda - é o salário da pessoa"
O que o senhor acha da chegada do filho do ex-presidente Bolsonaro, Carlos Bolsonaro (PL), para disputar o Senado por Santa Catarina?
Colombo: Acho que são duas coisas. Primeiro, o direito de ser candidato. Agora, nós, catarinenses, precisamos olhar para o que queremos do nosso estado. O que é um senador? É o representante do estado. É alguém que precisa conhecer a vida do estado. Cada estado tem apenas três senadores — diferente de deputado federal, que representa o povo. Ele precisa conhecer as lideranças, a história, a cultura, os sonhos, as necessidades e dificuldades do nosso povo. Um candidato que vem de fora, seja filho do Bolsonaro ou não, não conhece isso. Vamos fazer um contraponto: o Esperidião Amin tem 50 anos de atividade, desenvolvendo com talento e qualidade sua vida pública. Não há catarinense que não saiba quem é o Esperidião Amin. O catarinense terá duas escolhas: ou escolhe alguém que não é daqui, que não conhece o estado ou escolhe alguém experimentado. Cabe ao catarinense decidir.
O governador Jorginho Mello (PL) não tem diálogo com o governo federal. O governador, por exemplo, não recebeu o presidente da República quando esteve aqui. Como o senhor avalia essa atitude?
Colombo: Acho um erro muito grande. Você pode ter o contraponto das ideias, a diferença política, mas precisa ser respeitoso. Nunca fui apoiado pelo PT. Mas, quando a presidente Dilma veio a Santa Catarina, procurei demonstrar como a gente faz em casa quando recebe uma visita: com o maior carinho, com a maior atenção. Ela me perguntou: “Você tem algum projeto para Santa Catarina?” Eu disse: “Tenho um projeto que preciso muito. Tínhamos sofrido uma enchente, era logo no começo do nosso mandato, em 2011, e o Estado não tinha condições de bancar sozinho.” Ela chamou um general e disse para marcar comigo. Dali para frente, tivemos uma relação normal. Ela cuidando da vida dela, eu da minha, mas ambos cumprimos nosso dever.
O João Rodrigues, neste mesmo espaço que o senhor participa, deu declarações de que é pré-candidato ao governo do estado e que não estará com o MDB. O senhor acredita nessa candidatura?
Colombo: Acho que ele vai estar coligado com outros partidos. O João está trabalhando, e acredito que ele tem condições eleitorais. Está fazendo um bom trabalho em Chapecó, e a sociedade catarinense quer o contraponto. Precisamos ter o grupo que governa e o grupo que se contrapõe. [O senhor nunca pensou que poderia haver uma união, João Rodrigues junto com Jorginho?] Não, não acredito nisso. Acho que nosso grupo tem o dever de apresentar o contraponto à sociedade. O governo precisa ter oposição. Para a democracia, isso é fundamental.
João Rodrigues não é unanimidade no PSD. Como lidar com essa situação? Se fosse chamado, o senhor disputaria o governo do estado pela sigla?
Colombo: Na minha época também havia um grupo que achava que eu não tinha força política, que minha região não tinha base eleitoral, que eu não conseguiria agregar outros partidos. Baixei a cabeça e fui trabalhar. Fizeram uma pesquisa em todos os estados e o Paeco, de São Paulo, foi a Brasília apresentar. Ele mostrou os números de Santa Catarina. Eu era o quinto, o último. Aí o Paeco falou: “Quero destacar algo sobre Santa Catarina. O Colombo tem 8,7%, mas onde ele é conhecido tem 90% de aprovação. Nunca vi isso, 90% de aceitação. Esse cara pode ganhar até no primeiro turno.” Eu pensei: “Sou o último colocado e vão dizer que posso ganhar no primeiro turno? Brincadeira.” O Jorge Bornhausen, que era presidente nacional do partido, me ligou e me confortou: “Vamos insistir, você não pode desanimar.” E realmente, acabamos ganhando a eleição no primeiro turno. Acho que o João pode repetir um cenário como esse.