A força da economia azul no litoral catarinense vai muito além das embarcações que zarpam todos os dias da foz do rio Itajaí-açu. É nas indústrias, nas mãos das operárias e até nas linhas de crédito a custos acessíveis que a riqueza do mar ganha novas formas, impulsionando negócios, tecnologia e identidade regional. Em Itajaí, a pesca artesanal e industrial se reinventa, agregando valor à produção e abrindo caminho para um novo ciclo de prosperidade sustentável.
Segundo Agnaldo Higino dos Santos, presidente do Sindicato dos Armadores e das Indústrias da Pesca de Itajaí e Região (Sindipi), a modernização do setor começa dentro das embarcações. “ ...
  
Segundo Agnaldo Higino dos Santos, presidente do Sindicato dos Armadores e das Indústrias da Pesca de Itajaí e Região (Sindipi), a modernização do setor começa dentro das embarcações. “Mais de 70% da frota está certificada. O trabalho de qualificação e boas práticas garantem rendimento maior na indústria e qualidade superior ao consumidor”, explica.
 
        
        
        
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Essa busca pela excelência transformou Itajaí em um polo que alia tradição e inovação — um modelo de gestão que valoriza o produto e o trabalhador. “O próprio sindicato tem incentivado boas práticas. Já lançamos o segundo manual e promovemos cursos dentro das próprias embarcações. Hoje, mais de 70% da frota está certificada, o que garante melhor rendimento na indústria e maior qualidade ao consumidor”, destaca. Agnaldo acrescenta que a qualidade precisa ser mantida do porão da embarcação até a mesa do consumidor.
 
Entre os exemplos de destaque está a Caviar do Brasil, produtora da reconhecida Bottarga Gold. Nascida em 2009 de um desafio econômico, a empresa transformou o excedente de ovas de tainha em produto de luxo. “A botarga virou símbolo de Itajaí. Foi uma forma de dar destino nobre à nossa tradição com a tainha”, lembra o fundador Cassiano Fuck. Hoje, a produção chega a 70 toneladas anuais, entre a botarga e ova in natura, das quais 95% são exportadas para países como Taiwan, Emirados Árabes e Estados Unidos. A iguaria artesanal, conhecida como o “caviar do Mediterrâneo”, conquistou chefs e mercados internacionais, levando o nome de Itajaí a novas fronteiras gastronômicas.
  
No mesmo caminho, a Tours do Brasil consolidou-se como referência nacional em conservas gourmet de atum. Instalado em Itajaí desde 2008, o empreendimento une a tradição das fábricas europeias ao saber artesanal da pesca brasileira. “Cada lata passa pelas mãos de nossas funcionárias. O processo artesanal garante textura, sabor e autenticidade que a automatização não reproduz”, explica o sócio proprietário e CEO Guillermo Barañano.
 
A empresa processa 1,6 mil toneladas de atum por ano, com 11 produtos no portfólio e novos lançamentos em desenvolvimento. Para Barañano, a conexão com Itajaí é vital: “Aqui encontramos a rede de apoio que faz a indústria florescer — técnicos, fornecedores, serviços e um porto que liga o Brasil ao mundo”.
 
O valor agregado, contudo, não está apenas na ponta mais sofisticada da cadeia. Ele se constrói na base — entre os pequenos empreendedores e pescadores autônomos que vivem do mar. É aí que entra o papel da Profomento Serviços Financeiros, organização qualificada como Oscip e atuante no Programa Nacional de Microcrédito Produtivo e Orientado, do Ministério do Trabalho e Emprego. “Nossas linhas de crédito atendem desde o pescador artesanal até o empreendedor formalizado. É um crédito humano, que escuta, entende e orienta”, explica Larissa Fachini, gerente administrativa da instituição. Somente em Itajaí, entre janeiro e outubro, foram liberados R$ 3,7 milhões em empréstimos, beneficiando 338 pequenos negócios. O modelo de atendimento presencial e personalizado se tornou referência, ampliando a inclusão produtiva em toda a faixa litorânea entre Barra Velha e Bombinhas.
  
Do microcrédito ao mercado gourmet, a economia azul em Itajaí reflete um ecossistema onde cada elo — do pescador ao exportador — fortalece o outro. A integração entre saber tradicional, tecnologia, certificação e investimento social transforma a vocação marítima da região em estratégia de desenvolvimento sustentável.