Intolerância
Neonazistas ameaçam destruir terreiro de Umbanda em Barra Velha
Mensagem com referências a Hitler foi fixada na porta de núcleo de matriz africana na Quinta dos Açorianos
Juvan Neto [editores@diarinho.com.br]

A tranquilidade do terreiro Casa de Ogum e Iansã, no bairro Quinta dos Açorianos, em Barra Velha, foi interrompida nesta quarta-feira, por uma mensagem anônima colada à porta da instituição religiosa de matriz africana, anunciando a “destruição” do local.
O cartaz traz símbolos e linguagem de inspiração nazifascista, em nome de um suposto “Partido Integralista dos Trabalhadores Brasileiros”, organização de extrema-direita, e motivou investigação anunciada por parte da delegada Milena Rosa, da Polícia Civil.
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O documento impresso, assinado pelo grupo extremista, vem com erros de português, e antecipa que os extremistas se dispõem a “destruir todo o local”, porque, segundo eles, Barra Velha é um “território cristão”. Esta é a segunda ameaça a grupos de matriz afro-brasileira em dois meses – em março, um grupo de quimbanda, também instalado na Quinta dos Açorianos, relatou ter sido ameaçado. Anos atrás, outra ocorrência registrada, quando o terreiro da saudosa Mãe Alzira, no São Cristóvão, também foi incendiado, e anos depois, reconstruído.
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O responsável pela casa atacada nesta quarta, Adailton da Rocha, o Pai Rocha, de 61 anos, relatou ao DIARINHO que imediatamente procurou a Polícia Civil ao encontrar a mensagem. O caso está sendo investigado como ameaça, com possíveis desdobramentos por apologia ao nazismo e intolerância religiosa.
Fundada há seis anos, a Casa de Ogum e Iansã é, segundo Rocha, um “espaço de trabalho espiritual e social”, com uma história marcada pelo auxílio à comunidade. Pai Rocha, que atua há mais de 40 anos na espiritualidade, destacou que nunca havia sofrido um ataque semelhante, e que as atividades seguirão normalmente com atendimentos espirituais quinzenais abertos à comunidade e ações sociais, como arrecadação de alimentos, roupas e brinquedos.
Pai Rocha reforça que a Umbanda é “religião genuinamente brasileira”, a qual prega a caridade e o respeito às diferenças, e que até então, seu convívio com vizinhos de diversas religiões era tranquilo. Como ato de resistência, o dirigente anunciou que neste sábado, dia 10, a Casa de Ogum e Iansã promoverá celebração em homenagem a entidades como Ogum e Preto Velho. "Não vamos parar por conta de ameaças", falou ao DIARINHO.
Neonazista preso em Joinville
A Polícia Civil de Santa Catarina investiga a atuação de grupos neonazistas, com recentes operações ocorridas em cidades como Blumenau e Joinville.
Em 21 de fevereiro deste ano, a polícia prendeu um homem investigado por integrar um grupo nazista em Joinville. Em sua casa, a Polícia Civil encontrou foto do próprio fazendo uma saudação nazista ao lado de uma suástica, além de outros símbolos criminosos.
No caso de Barra Velha, a mensagem fixada no terreiro, que traz símbolos associados ao nazismo, pode configurar crimes previstos na legislação brasileira, incluindo discriminação religiosa e apologia ao regime de Hitler, e ser enquadrada no Código Penal, que prevê prisão para quem vilipendiar publicamente objeto de culto religioso, além da lei que criminaliza a discriminação racial e religiosa.
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