DITADURA NO BRASIL

Ainda Estou Aqui: “São Eunices que seguram a onda e que buscam justiça”, diz Vera Paiva

Primogênita de Eunice e Rubens Paiva fala sobre sua trajetória política, legado do filme e Lei de Anistia

Foto de Pedro França/Agência Senado
Foto de Pedro França/Agência Senado

Agência Pública | Por Por Marina Amaral, Letícia Gouveia

Na semana que se completam 61 anos do golpe militar de 1964, a Agência Públicarecebeu Vera Paiva, a filha mais velha de Eunice e Rubens Paiva, para um bate-papo com Marina Amaral, diretora executiva e co-fundadora da Pública. A conversa foi transmitida ao vivo no canal de YouTube da Pública.

Continua depois da publicidade

Paiva é professora titular do Departamento de Psicologia Social do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP) desde 1987. Ela também atua na Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos desde 2014, da qual sua mãe, Eunice, fez parte, em 1996. Na conversa, a psicóloga falou sobre o sucesso internacional do filme Ainda Estou Aqui e os debates relevantes no Supremo Tribunal Federal (STF) influenciados pela obra, que podem afetar a Lei da Anistia, levando 18 ações a julgamento que envolvem pessoas mortas ou desaparecidas durante o regime.

“Eu me preocupo menos com a punição stricto sensu daqueles responsáveis pela morte do meu pai, por exemplo, – e eu gostaria de ver isso – e mais que se entenda a punição pela violência de Estado mais amplamente, que não se fique perdoando os caras [da polícia] que toda hora estão matando gente”, disse Paiva sobre a ação no STF, relatada pelo ministro Flávio Dino, de excluir da Lei da Anistia os crimes de desaparecimento de corpos.

“Se a gente não começar a punir os de hoje, eles ainda estarão aqui ameaçando de continuar sendo assassinos, de continuar perpetuando esse tipo de coisa”, defende. 

Para ela, Ainda Estou Aqui, premiado com o Oscar de Melhor Filme Internacional e com um público de mais de 5 milhões de espectadores brasileiros, furou a bolha e até foi assistido por quem votou em Bolsonaro, mas não chegou aos bolsonaristas mais convictos. Segundo a psicóloga, o sucesso internacional do filme também dialoga com contexto de ameaça mundial às democracias.

“Esse modo de reagir, de tocar a vida e cuidar dos filhos, é um modo de reagir de milhares de Eunices do Brasil […] As cenas do filme repercutem nas várias Eunices a violência de Estado hoje. Na periferia, são Eunices que seguram a onda e que ficam em busca da justiça”. 

Com estas referências, Paiva “viveu política dentro de casa”, mas, com o golpe, teve de aprender a “esconder e a silenciar”. Ela atuou no movimento estudantil e foi uma liderança importante na reconstrução dos Diretórios Centrais dos Estudantes (DCE Livre) da USP e da União Nacional dos Estudantes (UNE), proibidos pela ditadura militar. Na sua trajetória política, também participou da fundação do Partido dos Trabalhadores (PT). “Minha mãe, a primeira coisa que ela falou [sobre o movimento estudantil] foi ‘pelo amor de Deus não me ponha nessa situação nunca mais’”. Paiva conta que, ainda assim, Eunice a apoiava e a acompanhava ao Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) quando era obrigada a comparecer: “Ia toda vez, estava lá enfrentando firme e forte”.

Paiva também trouxe uma dose de esperança falando sobre a importância da participação da juventude nos movimentos de resistência no Brasil e terminou com um convite para a 5ª edição da Caminhada do Silêncio pelas Vítimas de Violência do Estado, um ato que pretende reforçar a continuidade da luta por memória, verdade, justiça e reparação. A Caminhada ocorre neste 6 de abril, a partir das 15h, com ponto de encontro em frente ao antigo DOI-Codi (Rua Tutoia, 921, Vila Mariana).

Assista a entrevista completa:

Continua depois da publicidade



WhatsAPP DIARINHO


Conteúdo Patrocinado



Comentários:

Somente usuários cadastrados podem postar comentários.

Clique aqui para fazer o seu cadastro.

Se você já é cadastrado, faça login para comentar.


Envie seu recado

Através deste formuário, você pode entrar em contato com a redação do DIARINHO.

×






216.73.216.31


TV DIARINHO


🚨🍁 ESTUFA DESCOBERTA EM CHAMADO DE SOCORRO | A GM de Itajaí foi atender um possível caso de tentativa ...



Especiais

Gigantes das criptomoedas movimentaram bilhões ligados a fraudes, traficantes e hackers

CRIPTOMOEDAS

Gigantes das criptomoedas movimentaram bilhões ligados a fraudes, traficantes e hackers

Mudanças no texto não resolvem problemas do projeto, dizem especialistas

PL Antifacção

Mudanças no texto não resolvem problemas do projeto, dizem especialistas

Na sede da COP30, falta água e saneamento em bairros de maioria negra

Belém

Na sede da COP30, falta água e saneamento em bairros de maioria negra

Raoni desafia planos de Petrobras e Lula na COP30: “Não queremos petróleo na Amazônia”

EXPLORAÇÃO DE PETRÓLEO

Raoni desafia planos de Petrobras e Lula na COP30: “Não queremos petróleo na Amazônia”

Obras bilionárias da COP30 revelam contradições entre progresso e precarização em Belém

COP30

Obras bilionárias da COP30 revelam contradições entre progresso e precarização em Belém



Blogs

Feriadão na área e...

Blog da Jackie

Feriadão na área e...

Pichador é preso em Brusque

Blog do JC

Pichador é preso em Brusque

O Amor Entre Linhas — quando o poema vira forma

VersoLuz

O Amor Entre Linhas — quando o poema vira forma



Diz aí

"Se vocês forem no fórum, vocês não vão ver juízes negros"

Diz aí, Márcia

"Se vocês forem no fórum, vocês não vão ver juízes negros"

"A parceria com Santos acabou ficando pesada para nós"

Diz aí, João Paulo!

"A parceria com Santos acabou ficando pesada para nós"

"Você não pode ajudar quem já tem tudo, puxar o saco do poderoso - isso qualquer idiota faz"

Diz aí, Colombo

"Você não pode ajudar quem já tem tudo, puxar o saco do poderoso - isso qualquer idiota faz"

"O Metropol era o melhor time do estado. O Marcílio era o segundo"

Diz aí, Anacleto!

"O Metropol era o melhor time do estado. O Marcílio era o segundo"

"Tem que entregar. Ninguém está garantido nesse governo. Nem nós."

Diz aí, Rubens!

"Tem que entregar. Ninguém está garantido nesse governo. Nem nós."



Hoje nas bancas

Capa de hoje
Folheie o jornal aqui ❯






Jornal Diarinho ©2025 - Todos os direitos reservados.