Diz aí, deputada!
"Eu sei que eu vou governar o estado de Santa Catarina, é a minha meta”
A deputada estadual e presidente do Podemos de SC, Ana Paula Silva, a Paulinha, foi entrevistada pela jornalista Fran Marcon e pelo Jotacê. Política, projetos e futuras eleições estão no bate-papo
Franciele Marcon [fran@diarinho.com.br]




Deputada, diz aí pros espectadores do DIARINHO: a senhora vai deixar a Alesc e será candidata a deputada federal, representando a nossa região?
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Paulinha - Pra federal a gente tem um mar descoberto e embora os deputados federais hoje tenham buscado nos atender, nós não temos ninguém que mergulhe nas pautas que ...
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Paulinha - Pra federal a gente tem um mar descoberto e embora os deputados federais hoje tenham buscado nos atender, nós não temos ninguém que mergulhe nas pautas que a gente precisa que sejam resolvidas. E eu acho que é possível, se assim o povo desejar. [Mas você acha que o Podemos vai lhe dar legenda pra se eleger?] O Podemos é um partido de renovação e acaba sendo mais atraente pra quem quer disputar o mandato federal ou estadual, porque a nossa régua é menor. Então, eu realmente acredito que a gente vai fazer legenda, mesmo que muita gente duvide. [Mas o que foi determinante pra você aceitar esse desafio?] Sem hipocrisia, as pessoas não estão mais a fim de votar no mesmo político o resto da vida. É uma questão de você também puxar a fila pra cima, senão a gente continua fazendo mais do mesmo. E foi uma decisão coletiva, o pessoal começa a avaliar, amigos mais humildes, também amigos empresários: ‘se alguém tem condição de abrir a fila pra buscar um mandato federal pra região é a Paulinha’. E eu acredito que sim. [Mas isso quer dizer então que a deputada almeja cargos maiores no futuro? Pode ser até candidata a governadora?] Não tenha dúvida, eu sei que eu vou governar o estado de Santa Catarina, é a minha meta. Mas um passo de cada vez. Essa porta vai se abrir a hora que Deus permitir.
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"Não é uma ficha de filiação partidária que define o caráter pessoal”
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O deputado estadual Ivan Naatz (PL) tem uma briga pública por conta da Taxa de Preservação Ambiental (TPA). Naatz afirma que a taxa fere o direito de ir e vir, que perdeu seu objetivo de preservação ambiental e que beneficia a empresa responsável pela cobrança. Como responde a essas críticas?
Paulinha - Em 2018, a gente tem autorização para começar as cobranças das pessoas que passaram na cidade e não pagaram a TPA exatamente na véspera da eleição, agosto, setembro... Quando começam a chegar as cobranças, principalmente na casa do cidadão blumenauense que recebe aquela conta em casa, o Ivan Naatz vê uma oportunidade e começa a dizer: ‘não, eu sou contra esse absurdo’ E isso reverberou a ponto de ajudá-lo a chegar na Alesc com os 13 mil votos. Então, ele tomou essa como uma pauta para si. Agora, o Superior Tribunal de Justiça, mais uma vez, disse que a TPA de Bombinhas é legal e ponto, acabou. E ele ludibria a opinião pública, dizendo que vai continuar lutando, que vai derrubar a TPA, mas nunca vai. Eu não posso perder um minuto do meu dia para responder um político que defende uma tese mentirosa, que ludibria a opinião pública, para tentar se fazer útil e fazer valer o seu mandato. [Mas, independentemente dessas questões que a senhora rebate, não falta um pouquinho mais de transparência?] Todas as contas da TPA estão no Portal da Transparência. Tudo que se paga, tudo que se compra. As compras da TPA só são feitas depois de aprovadas por um conselho, isso está previsto em lei. A transparência está posta. E eu vou dizer para ti, a gente faz pesquisa de opinião todo ano... 98% da população de Bombinhas aprova a taxa. 74% dos turistas usuários aprovam a taxa. Não tá ruim assim, né?
"Eu sei que eu vou governar o estado de Santa Catarina, é a minha meta”
De que forma a senhora acha que a notícia do governo federal de zerar a taxação de alimentos, como a sardinha, impacta a indústria da região?
Paulinha - Vai ser péssimo. Nós precisamos de uma organização violenta aqui em Santa Catarina, mais que tudo em Itajaí, porque o impacto econômico vai ser muito significativo pra gente, do pescador à grande indústria. [O que pode ser feito de efetivo?] A decisão em Brasília já foi tomada. Nós fomos pegos de surpresa. É algo tão ruim para a economia catarinense, para a pesca, que não se imaginou que se consagrasse tão rapidamente. Por isso que eu não vejo outro meio que não seja a união das forças políticas do Estado para a gente conseguir reverter essa circunstância. Se isso se tornar uma briga política, nós não vamos avançar.
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"Eu tenho me esforçado ao máximo pra contribuir. Se eu me fecho pro governo, eu não resolvo porra nenhuma."
Quando foi eleita deputada estadual, em seu primeiro mandato, a senhora compareceu à cerimônia com um vestido decotado, o que gerou diversas reações. Na época, teria declarado: “A participação da mulher na sociedade é tão minúscula que um simples decote pode ficar enorme. Mas eu vou continuar a usar o que gosto, não pretendo violentar-me para agradar ninguém”. Como a senhora enfrenta desde então o preconceito e o machismo?
Paulinha - Eu não tinha a menor noção e discernimento que a gente pudesse sofrer aquele tipo de agressão em tanta escala. Eu fiquei até quatro horas da manhã apagando [comentários na rede social], porque eu tive vergonha da minha mãe, na época, do meu namorado, das minhas filhas. Se pudesse, eu tinha voltado pra dentro do útero da minha mãe de tanta vergonha. E aí a Dagmara [Spautz] me ligou pra perguntar como eu estava, se eu já tinha visto. Eu comecei a chorar no telefone. Ela disse: ‘Ei, levanta a tua cabeça, tu não fez nada de errado’. [É necessária uma regulação das redes sociais?] Ah, sem dúvida. Tem que ter! Na verdade, essa violência, ela sempre esteve escondida nas nossas casas. Ela passa a ser conhecida quando as redes sociais se apresentam. A regulação é mais que necessária. Nós somos o quinto estado que mais estupra mulheres. Um dos que mais mata. Cinquenta e duas mulheres foram mortas no ano passado. A gente tem avançado nas políticas de segurança em relação à mulher, mas os números não arrefecem. E a gente discute mal esse tema. Ou a gente vai falar com a sociedade inteira, com homens e mulheres, meninos e meninas, e discutir uma estratégia de superação desse tipo de violência, ou nós vamos demorar mais um século pra corroborar uma conquista. E eu acho que esse movimento antifeminista que se coloca aí, faz um desserviço tremendo. A maioria das mulheres que eu conheço, feministas de concepção e prática, não querem se admitir feministas por alguns excessos que foram cometidos — que é arrastar a mulher pra um outro lugar que não é o que todas querem. Isso contribuiu pra que o significado da palavra feminismo perdesse força. Eu acredito que o país tem que parar e assumir compromissos a despeito da esquerda e da direita, das ideologias partidárias, porque enquanto não se fizer isso, mais mulheres vão continuar morrendo, as nossas mazelas não serão resolvidas.
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"Sem hipocrisia, as pessoas não estão mais a fim de votar no mesmo político o resto da vida."
A senhora foi uma apoiadora e chegou a ser líder do governo Carlos Moisés (Republicanos). Inclusive, comentava-se que tinha grande influência em decisões do governo. No entanto, após a não reeleição de Moisés, já circula próxima ao governador Jorginho Mello (PL). Como vai se posicionar na eleição a governador do ano que vem?
Paulinha - Como eu presido um partido, hoje eu tenho que ter cuidado com a minha língua, porque ela representa um grupo. Primeiro eu preciso fazer a coisa mais importante, que é botar o meu partido de pé e fazer com que as pessoas acreditem que ele é de verdade. O que eu penso? Jorginho ganhou as eleições com uma aprovação muito significativa da população catarinense. O que eu fiz nesses dois anos? Eu tenho me esforçado ao máximo pra contribuir. Se eu me fecho pro governo, eu não resolvo porra nenhuma. E não é pelo recurso ou pelo emprego. É pelas causas. Se eu fico lá toda hora lanhando o governo, que vontade que ele vai ter de ajudar numa causa que eu lidero? Se tu tens um parente da tua família, um primo que vive te esculhambando, tu vai convidar ele pra passar o Natal contigo? [Mas nesse ponto de vista, o seu Natal está mais próximo do Jorginho do que do João Rodrigues?] O Jorginho, na verdade, a gente tem um excelente relacionamento. E o João Rodrigues é um grande líder. Eu não tenho dúvida que se ele, porventura, um dia for eleito, será um grande governador. Mas eu não acho que essa escolha deva ser feita agora. Porque, primeiro, a gente tem que entender quem é que vai estar vivo em 2026.
"Nós somos o quinto estado que mais estupra mulheres. Um dos que mais mata. Cinquenta e duas mulheres foram mortas no ano passado. A gente tem avançado nas políticas de segurança em relação à mulher, mas os números não arrefecem."
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Quantos prefeitos e vereadores o Podemos tem hoje em Santa Catarina? Como está a estrutura do Podemos no estado?
Paulinha - Nós somos o partido que proporcionalmente mais cresceu na última eleição. Nós tínhamos 53 vereadores e elegemos 90. Temos três prefeitos, elegemos 14 vice-prefeitos. E temos um diálogo aberto com muitos prefeitos que devem vir para o Podemos nos próximos meses. Pela primeira vez na vida eu tenho oportunidade de fazer política do jeito que eu penso. E eu não quero que quem esteja no Podemos se sinta usado. Quando eu assumi a presidência, a gente tinha em Balneário o Fabrício [Oliveira] candidato. O Podemos, em princípio, iria com ele. Eu sempre achei que a Juliana [Pavan] era muito melhor, independente de partido. Não é uma ficha de filiação partidária que define o caráter pessoal. Eu podia ter feito a nomeação de uma comissão provisória nova e mudado o partido do lado do Fabrício para o lado da Juliana. Mas eu não fiz isso por quê? Porque não é assim que se faz política. Eu queria falar com eles e convencê-los de que o melhor para Balneário Camboriú não era o Peeter [Grando], era a Juliana. E eu passei três meses vindo todo dia quase para Balneário Camboriú para convencer as pessoas a seguirem o novo caminho. Isso eu construí com respeito. [O Thiago Morastoni na época falou que houve intervenção em Itajaí. Aconteceu mesmo?] Não! Ele pegou o Podemos, o partido era dele. Ele deixou o partido morrer. Aí quem é que estava fazendo a nominata de vereadores do Podemos para a eleição passada não era o Thiago, não era o líder dele. Era o MDB. Eu disse para ele: ‘Se tu queres o partido, ótimo. Então vai a Florianópolis. Me prova que tu vai fazer um partido de verdade'. Eu avisei que sem ele poder me oferecer nada eu seria obrigada a mudar a direção. E foi isso que eu fiz. [Osmar [Teixeira] candidato, Liba [Fronza] está se assanhando de ser candidato também. Vocês querem os emplumados que teria Anna [Carolina] candidata. Como conciliar isso?] Eu gostaria demais de ver o Osmar eleito, o Liba eleito e a Anna eleita. Nós temos voto para tudo isso? Eu acho que na hora da disputa tem que fazer a conta: com qual partido eu me identifico e em qual eu tenho chance de fazer os votos necessários para vencer a legenda e chegar. As pessoas não estão nem aí se eu sou do Podemos, do PSD, do PL ou do MDB. As pessoas querem que eu esteja lá para entregar resultado. Claro, o meu compromisso eleitoral de incentivo maior é com quem está no Podemos, não vamos ser hipócritas. Nós temos o Marquinhos [Kurtz], em BC, presidente da Câmara. Ele é um pré-candidato a deputado estadual que já está a mil, colocando o seu barco na rua. E vai ter todo o nosso apoio. [A senhora já foi vereadora. Como vê essa situação de convergência... Muitas lideranças de lá vêm aqui e recebem apoio das lideranças daqui, de vereadores, entre outros, que trabalham para esses candidatos de lá...] Se tem alguma coisa que não tem racionalidade lógica e métrica é a política. A política é o ambiente mais insano e louco. Porque a escolha do voto é muito irracional. E eu acho que tem a ver com essa coisa do vínculo. Vamos supor, o vereador de Itajaí escolhe um deputado lá do oeste para trabalhar. Ele vai lá um dia no gabinete do deputado. O deputado o recebe bem, ele se sente valorizado, arruma uma emenda, liga pro cara no aniversário, se constrói uma relação pessoal... A política é um ambiente cuja sedução e a conquista fazem toda a diferença na fidelização de um cabo eleitoral.
"As pessoas não estão nem aí se eu sou do Podemos, do PSD, do PL ou do MDB. As pessoas querem que eu esteja lá para entregar resultado."
A gente falou um pouquinho da sua trajetória, que foi sempre ligada mais à centro-esquerda, ao PDT, o partido do Leonel Brizola. Hoje, você é presidente estadual do Podemos, um partido mais de centro-direita. A senhora mudou a sua ideologia ou isso não tem nada a ver com ideologia?
Paulinha - Eu não acho que nem a ponta da esquerda e nem a ponta da direita vão salvar esse país. As discussões têm que ser pautadas mais pelo centro. Ah, se você vai dizer que uma pessoa que está enquadrada na orientação sexual LGBTQIA+ merece ser respeitada, de onde que isso é uma pauta exclusiva da esquerda? Não podia ser. Nós não podemos ficar olhando pro retrovisor e querer repetir modelos da época dos nossos pais, dos nossos avós. Acho que a gente pode ter bom senso, respeito entre as pessoas. Essa é a minha filosofia de vida.
"A política é um ambiente cuja sedução e a conquista fazem toda a diferença na fidelização de um cabo eleitoral."
"Nós não podemos ficar olhando pro retrovisor e querer repetir modelos da época dos nossos pais, dos nossos avós. Acho que a gente pode ter bom senso, respeito entre as pessoas."