Bota-fora eleitoral
Barca do DIARINHO ilustra o vai e vem das forças políticas nos últimos 40 anos
Tradição começou em 1982, quando o país vivia o fim do regime militar e a entrada em cena de novos partidos políticos
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]
Por Renata Rosa
Em 20 de novembro de 1982 teve início a saga da Barca do DIARINHO, página satírica e ricamente ilustrada com os personagens da política que nadaram, nadaram, nadaram, mas morreram na praia, ou melhor, no rio Itajaí-açu. Por ali passaram candidatos de todos os matizes ideológicos, como Amilcar Gazaniga, Arnaldo Schimitt, Volnei Morastoni, Deba e Leonel Pavan. Uns se ofendiam, outros achavam engraçado, mas todos ficavam na expectativa de ver como seriam retratados no próximo pleito pela veia sarcástica do véio Dalmo - fundador do DIARINHO, o primeiro jornal diário de Itajaí e região no longínquo 1979.
Fazia apenas três anos que o jornal tinha sido criado pelo advogado Dalmo Vieira, numa época em que a impressão era caseira e numa máquina de off-set. Em meados dos anos 1980, o colunista JC era responsável por montar a capa do jornal, colando letrinha por letrinha do icônico Notícias Populares (SP) - o famoso paste-up. E de acordo com políticos da época, como o historiador Edison D’Ávila, o Diário (como se chamava nos primeiros anos) já era relevante na cidade, principalmente para quem queria saber dos bastidores da política.
Foi com a ajuda do historiador que esta reportagem conseguiu identificar os “eleitos” para figurar na primeira barca, inspirada na barca publicada em 1961 no extinto jornal Tribuna do Povo. Em 1982, os grandes derrotados eram candidatos do PDS, a antiga Arena.
Estavam na barca: João Américo, Paulinho do Barroso, Lídio Sandri, Fernando Krobel, Luís Schimitt de Carvalhinho, Sabino Anastácio Paulo, Konder Reis, Célio Mendonça, Luís Carlos dos Santos, Laureano Bittencourt Jr, Dalmo Feminela (rádio Clube) e o próprio Edison D’Ávila, que era secretário de educação de Amilcar Gazaniga, retratado no píer afirmando que voltaria dali seis anos, junto com o vice Nilton Kucker. Ele perdeu a eleição para o Arnaldo Schimitt (PMDB).
Entre humilhados e exaltados, salvaram-se todos
“Os perdedores das eleições de 1982 ficaram muito abalados, decepcionados, foi a primeira vez que a oposição venceu”, recorda Edison, que voltaria à barca nos anos 2000, quando Volnei Morastoni levou a melhor. Ele lembra quando Dalmo criou a barca em conversas com Amilcar Gazaniga, que era seu amigo, mas afirma que o véio nunca poupou ninguém. “O Dalmo era muito crítico, quando tinha algo a dizer, não tinha papas na língua”, revela.
Uma veia ferina que o fez ir em cana nos anos 1990, depois de “bater” seguidas vezes no prefeito Arnaldo Schimitt e nas freiras que administravam o hospital Marieta. “Eu era vereador da oposição na época e achamos a prisão um absurdo. Não gostou, processa. O jornalista tem que ter liberdade de expressão”, defende Edson.
Amilcar Gazaniga lembra quando Dalmo contou que pretendia criar "sua barca" e disse que adorou a ideia. E nunca se sentiu ofendido. “Aprendi com o Konder Reis que são coisas da política, dali a pouco tem outra eleição”, argumenta. Ele conta que naquele tempo não havia tanta briga ideológica, era apenas situação versus oposição.
“Na velhice aprendi a enxergar as coisas de outra forma. Nem sempre o jovem é o novo, quem chega tem que ter a sabedoria para manter o bom ou aprimorar”, analisa. O ex-prefeito voltou à política como deputado estadual em 1983, e nos anos 90 foi diretor da Eletrosul, secretário do governo Kleinubing, presidente dos Correios e superintendente do Porto de Itajaí. Amílcar apoiou agora em 2024 a chapa que elegeu Robison Coelho (PL).