EXCLUSIVO

Investigado por lavagem de dinheiro do PCC revela voos com malas de dinheiro a Brasília

Dalton Baptista Neman, dono do Banco Neman, nega relação com facção e decide revelar tudo o que sabe – ou quase tudo

Agência Pública [editores@diarinho.com.br]

Por Alice Maciel | Edição: Thiago Domenici

 

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Na manhã de 3 de maio de 2021, o empresário Dalton Baptista Neman, seu filho e sua esposa foram presos pela Polícia Federal (PF) sob a acusação de envolvimento com o Primeiro Comando da Capital (PCC). Um inquérito da PF concluiu que o negócio da família, o Banco Neman, lavava dinheiro para o tráfico. Dois anos depois, a ação penal foi extinta por “nulidade dos elementos de prova”, mas em agosto de 2024 os Neman foram novamente associados a uma das maiores organizações criminosas do Brasil, numa operação da Polícia Civil de São Paulo, que agora os acusa de lavar capitais para traficantes que atuam na Cracolândia.

Além de ter sido apontado como “banco do PCC”, investigações policiais nos últimos anos também levantaram suspeitas de que o Banco Neman teria servido de lavanderia de dinheiro de propina. 

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Em entrevista exclusiva à Agência Pública, Dalton Neman negou todas as acusações de forma veemente, disse que não deve nada à Justiça, mas admitiu, em mais de seis horas de entrevista, que foi ele quem indicou o doleiro Wilson Decaria Júnior para trabalhar com o PCC e que ele próprio transportava dinheiro para poderosos em Brasília. “Tudo dentro da lei, com nota fiscal e declarado no meu Imposto de Renda e no IR da empresa”, defendeu-se. 

“Meus clientes tinham CND [Certidão Negativa de Débitos] para trabalhar para o governo. Se me pedem para eu sacar 1 milhão, porque eu tenho know-how, e levei o dinheiro com nota fiscal, o que fazem com o dinheiro é problema deles. Vão atrás deles e prendam eles”, ressaltou Neman. “Nunca teve R$ 1 de droga na nossa conta, mas eles insistem em falar que nós somos do partido”, acrescentou, referindo-se ao PCC. 

O empresário, hoje com 60 anos, recebeu a reportagem vestido com camisa gola polo, calça jeans e pés descalços em um apartamento de quatro cômodos em São Paulo, nos dias 26 e 27 de agosto. Neman estava acompanhado da mulher, Cristiane Cheruti, e a cachorra Xereta, da raça beagle, por quem tem grande adoração. Durante as horas de conversa, com pequenos intervalos para ouvir música clássica (outra paixão do anfitrião, que é pianista), dois maços de cigarro e incontáveis xícaras de café foram consumidos. 

Neman nega relação com PCC: “Fui conhecer o PCC porque fui preso, e só fiz amigos lá dentro, não tenho negócio com nenhum, mas fiz amigos, por conta da prisão”, destacou (Foto: José Cícero/Agência Pública)

Sentado em frente a uma réplica da Santa Ceia, o empresário contou sobre sua relação com o PCC, como operava o Banco Neman e o perfil dos seus clientes; falou das viagens que fez para Brasília com milhões em espécie; e sobre a criação de grandes projetos que lhe renderam fortunas, com direito a Gugu Liberato (já falecido) de garoto-propaganda. Ele revelou ainda que está prestes a lançar um novo negócio, que vai possibilitar saque express a partir de R$ 10 mil. 

Como operava o Banco Neman, segundo seu fundador

Músico de formação, Dalton se vangloria de ter criado, em 2005, o que chama de primeiro banco virtual “do planeta terra”. O projeto surgiu, segundo ele, da demanda de um amigo advogado, que abriu uma empresa nas Ilhas Virgens Britânicas, um paraíso fiscal, de jogos online (popularmente conhecido como bets). Segundo Neman, esse amigo precisava receber e pagar os apostadores no Brasil. Foi então que o pianista teve a ideia de criar o Banco Neman, que, apesar do nome, não era um banco de verdade, mas uma empresa de cobrança, segundo seu fundador. 

O negócio funcionava da seguinte maneira, conforme ele explicou: Neman abria contas correntes no Banco do Brasil e na Caixa Econômica Federal em seu nome e no nome de sócios do Banco Neman (seu filho e sua mãe). Ele fornecia ao cliente acesso ao seu computador (por meio de uma ferramenta de acesso remoto) e, consequentemente, às contas bancárias. Dessa forma, os empresários dos jogos online, por exemplo, podiam acompanhar remotamente, de qualquer lugar do mundo, “quem pagou; quanto depositou; e quem ganhou”. 

Além disso, ele diz, o Banco Neman entregava em mãos o dinheiro aos jogadores que venciam as apostas. Para fazer o serviço, o empresário cobrava do cliente uma comissão que variava de 2,5% a 3,5%. 

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O atendimento individualizado de saques de grandes volumes em dinheiro com frete para todo o país virou um grande atrativo do banco, que operou também para empresas com contratos públicos e para políticos, conforme contou Neman, preservando o nome dos seus contratantes. 

O modelo inovador que ele se orgulha de ter criado no mercado financeiro, para a PF, no entanto, teria servido para lavar capital destinado ao pagamento de propina. O empresário nega o crime, mas reconhece que alguns clientes distribuíam o dinheiro em troca de favores. 

“A gente só fazia saque, não fazíamos depósito. Nós recebíamos o valor em conta da própria empresa interessada e retornávamos em espécie, para que eles, com esse dinheiro, fizessem os pagamentos de político, de funcionários, das ‘bolas’ [gíria para propina] de quem assinou para eles ganharem a licitação, porque isso é mais velho que andar para frente. E isso é problema deles”, argumentou Neman, referindo-se às acusações.

O Banco Neman tinha um escritório no aeroporto Campo de Marte, em São Paulo, de onde ele dizia que saíam as malas de dinheiro que eram transportadas em aviões e entregues pessoalmente para o freguês. “As transportadoras de valores Protege e a Prosegur levavam o dinheiro para nós, dentro do hangar. Eu emitia a nota fiscal e voava para Brasília, para o Rio, com o dinheiro para clientes. Como eles não queriam aparecer, eles pediam para eu levar o dinheiro”, detalhou o empresário. 

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A Protege informou, por meio de nota, que atendeu “pontualmente” o Banco Neman e, “tão logo teve conhecimento da investigação, imediatamente encerrou a prestação de serviço”. Já a Prosegur destacou que “atua dentro da legislação, além de submeter suas operações à área interna de Compliance da companhia”. “A empresa reitera que toda e qualquer operação que demande ser submetida ao Coaf ou a qualquer órgão legislador é cumprida pela Prosegur Brasil”, acrescentou. 

Neman contou que entre 2012 e 2019 se hospedou diversas vezes no Meliá Hotel, na capital federal. Lá, segundo ele, foram transferidos de R$ 100 mil a R$ 1 milhão para assessores de deputados, cujos nomes, mesmo com a insistência da reportagem, ele se recusou a revelar. “Eu ficava no hotel e entregava as malas de dinheiro lá dentro e no dia seguinte eu pegava o avião e ia embora”, lembrou  o empresário. 

Entre 2012 e 2019, Neman se hospedou diversas vezes no Meliá, em Brasília, prestando serviços para assessores de deputados (Foto: Divulgação Mélia Hotel)

De acordo com ele, o Banco Neman, cuja razão social é Elias José Neman Consultoria & Logistica Ltda., movimentou no primeiro mês de sua criação, em 2005, R$ 24 mil e encerrou a operação, em 2021, com movimento milionário. A empresa encontra-se inapta na Receita Federal desde outubro de 2023. Neman afirmou que vai “acertar todas as pendências” e fechar o negócio. 

Atualmente, há duas firmas registradas no nome de Dalton Neman na Receita Federal: a Fair Play Intermediações e Cobrança e a Piraju Produtora de Projetos Especiais. Com a Piraju, ele diz que pretende lançar um negócio semelhante à operação do Banco Neman. O empresário contou que vai oferecer saques e depósitos a partir de R$ 10 mil, com delivery grátis, em até 24 horas. “Nós vamos trabalhar com real, dólar e euro”, destacou. 

Os clientes do Banco Neman e as investidas da PF 

Na cartela de clientes de seu banco, de acordo com Neman, estavam grandes bets, o que ele diz ter sido seu principal mercado de atuação. 

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Ele diz ter operado também para o bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, que já ficou preso sob acusações de envolvimento no crime organizado e corrupção. E foi por conta dessa relação com os jogos de azar que o negócio de Neman entrou pela primeira vez na mira da PF.

Ex-cliente: o empresário Carlinhos Cachoeira (ao centro, todo de preto) ao prestar depoimento em 2016 para a Polícia Federal (Foto: Arquivo/Fernando Frazão/Agência Brasil)

Em 2012, a empresa foi alvo da Operação Monte Carlo, que revelou um esquema de exploração de jogos ilegais e corrupção em Goiás e no Distrito Federal que teria sido liderado por Carlinhos Cachoeira. “Eles bloquearam minhas contas, tomaram o dinheiro de todos os meus clientes”, lembra Neman. Segundo ele, poucos dias depois o montante foi liberado por decisão judicial.  

Após quatro anos, em 2016 seu nome apareceu no vazamento de dados confidenciais sobre a atividade empresarial da Mossack Fonseca, uma firma de advocacia baseada no Panamá que se dedicava à abertura de offshores em paraísos fiscais. As informações foram divulgadas na série jornalística “Panama Papers”, por veículos associados ao Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ), entre eles a Pública

O empresário admitiu à reportagem que abriu a empresa Farlow Development, nas Ilhas Virgens Britânicas, que aparece nos vazamentos, mas ele alega que não movimentou recursos por ela. “Nós nunca tivemos dinheiro de fora. Nós abrimos a conta [da empresa], mas nunca foi colocado R$ 1 na conta”, destacou.  

Um episódio de 2019 confirma o modus operandi do banco criado por Neman. À época, mais uma vez, os Neman foram alvo da PF. Em 28 de outubro daquele ano, o irmão do empresário, Douglas Baptista Neman, foi flagrado pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) transportando R$ 160 mil em um ônibus que saiu de São Paulo com destino a Brasília. A abordagem ocorreu na Rodovia Anhanguera, no município de Araras (SP). Douglas alegou que estava a serviço da Bidu Cobranças, Investimentos, Transportes e Participações, antigo nome do Banco Neman. 

O dinheiro, conforme documento apresentado pela defesa em pedido de restituição do montante à Justiça Federal, seria da empresa VA & Informática Ltda., que possui contratos com o governo federal. Conforme dados do Portal da Transparência, a firma, que atualmente se chama GRG Tech Assessoria em Informática, já recebeu R$ 108,6 milhões dos cofres públicos, de junho de 2014 a junho de 2024. 

Ainda de acordo com os documentos anexados aos autos, a intermediação do negócio teria sido realizada pelo escritório de advocacia Petry Advocacia e Consultoria, comandado pelo advogado Edilberto Nerry Petry. Assim como Neman, Petry foi alvo da Operação Tempestade da PF, em maio de 2021, montada para desarticular o núcleo financeiro do PCC. 

“Os documentos apresentados demonstram que houve contratação do serviço pela empresa – VA & Informática Ltda, localizada em Brasília/DF, intermediado pelo escritório de advocacia Petry Advocacia e Consultoria, serviço que estaria dentro do objeto social da pessoa jurídica, que realiza cobrança, recebimento e repasse de valores”, destacou a juíza da 10ª Vara Criminal Federal de São Paulo Fabiana Alves Rodrigues, em sentença que autorizou a restituição do valor apreendido pela PRF ao Banco Neman.  

A Pública procurou Petry por meio dos contatos divulgados no site do seu escritório de advocacia, mas não obteve retorno. A GRG Tech Assessoria em Informática também não respondeu às tentativas de contato. 

O Ministério Público Federal (MPF) recorreu da decisão, mas o recurso ainda não foi julgado. Entre os argumentos, o procurador destacou que a contratação de uma empresa “para geração de recursos em espécie” é uma estratégia geralmente “utilizada para pagamento de propina e lavagem de dinheiro”. 

O Banco Neman também foi apontado pela PF na Operação Tempestade por ter lavado o dinheiro que teria sido usado para pagamento de propina pelo Instituto de Atenção Básica (Iabas), pivô de um escândalo de corrupção durante a epidemia de covid-19 no Rio de Janeiro, que levou ao impeachment do ex-governador Wilson Witzel. 

“Nunca soubemos que o Iabas era nosso cliente. Acredito que isso foi uma total armação da PF para nos prejudicar”, acusa Neman, acrescentando: “Eu tenho uma empresa de intermediação, de cobrança. Eu fazia um recebimento e repassava em dinheiro e com nota fiscal e ganhava uma comissão de 2,5% ou 3,5%. Fora isso, é tudo ilação, invenção, mentira que está se tornando verdade. Porque a história contada dez vezes vira verdade”. 

Banco Neman também foi apontado pela PF na Operação Tempestade, que tentou desarticular o núcleo financeiro do PCC (Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil)

Prisão e ligação com o PCC: “Aqui não, Caião!”

Dentre todos os escândalos dos Neman, o que mais deixa Dalton Neman irritado se refere às acusações de que ele estaria envolvido com o PCC. 

Além da sua empresa ter ganhado apelidos como “Banco do Crime” e “Banco do PCC”, foi por causa da operação da PF batizada de Tempestade que Neman e a família ficaram três meses presos e outros dois anos usando tornozeleira eletrônica. “Fui conhecer o PCC porque fui preso, e só fiz amigos lá dentro, não tenho negócio com nenhum, mas fiz amigos, por conta da prisão”, destacou.

Ele e seu filho, Caio Neman, ficaram 25 dias detidos no Centro de Detenção Provisória (CDP) Pinheiros IV, na ala dos presos acusados de envolvimento com a facção. Depois, eles foram transferidos para a Penitenciária Regional de Presidente Venceslau, unidade de segurança máxima, onde permaneceram até 15 de agosto de 2021. 

A Operação Tempestade chegou aos Neman após o piloto que trabalhava para o PCC, Felipe Ramos Morais, afirmar, em acordo de delação premiada com a PF e o MPF, que o Banco Neman operava para o grupo. Felipe foi preso em 2018, acusado no envolvimento do assassinato dos líderes da facção Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, e Fabiano Alves de Souza, o Paca. 

Em setembro de 2021, o piloto declarou à Justiça ter sido “forçado, torturado e pressionado pelos policiais federais” a realizar a colaboração premiada e, em fevereiro de 2023, ele foi morto pela Polícia Militar de Goiás. Após sua morte, o juiz substituto da 6ª Vara Federal Criminal de São Paulo, Diego Paes Moreira, extinguiu o processo por “nulidade dos elementos de prova”.  

“Ainda que não tenha sido demonstrado que Felipe fora efetivamente coagido, a confiabilidade no acordo está fragilizada, não havendo mais a segurança necessária acerca dos fatos objeto da colaboração. E, com o óbito do colaborador, não é mais possível realizar tal apuração”, concluiu o magistrado. A ação penal foi arquivada em maio de 2024.

Dalton Neman contou que Felipe Morais era amigo de escola do seu filho. “O delator era amigo do meu filho de ginásio. Quando ele conseguiu ter uma condição financeira melhor, fez um curso de piloto, foi trabalhar para o partido [PCC] e chamou o meu filho para operar. Eu falei: ‘Aqui não, Caião! Eu não vou mexer com isso’”, destacou o empresário.  

Ele contou que na ocasião indicou o doleiro Wilson Decaria Júnior para operar para a facção. “Eu sou proibido de ter um amigo que é doleiro?”, afirmou. Dalton alega que Decaria teria deixado dívidas com o PCC. “O Wilson ficou devendo para o Felipe e para o Cabelo Duro [antigo líder da facção que também foi assassinado]. Na briga, envolveram a gente”, destacou. 

Em 23 de agosto deste ano, o nome dos Neman voltou a ser associado ao PCC. A Polícia Civil de São Paulo deflagrou a quinta fase da Operação Downtown, que investiga a participação de empresas nacionais e internacionais na lavagem de dinheiro para o crime organizado. 

 

Em São Paulo, Operação Downtown mirou lavagem de dinheiro para o crime organizado e banco Neman é investigado (Foto: Governo de SP)

A investigação, conforme apurou a Pública com policiais que atuaram no caso, teria concluído que o Banco Neman integra um “sistema financeiro do PCC”, com diversas outras empresas. 

“Nós identificamos que esse grupo de empresas transacionavam grande volume de dinheiro entre si, de modo a distanciar a origem do dinheiro. Em relação ao Banco Neman, identificamos muita entrada de dinheiro em espécie”, contou uma fonte que atua no caso. “A investigação a partir da Cracolândia acabou possibilitando a descoberta de um sistema bancário que recebe dinheiro de todo o PCC, inclusive da Cracolândia, mas também de vários outros ramos de atuação”, acrescentou.  

As novas acusações de envolvimento com a facção, noticiadas pela imprensa no dia da operação no mês passado, motivaram Neman a falar pela primeira vez com um veículo de imprensa. 

O empresário diz que desde que saiu da prisão, em 2021, tenta retomar seus negócios, mas que tem encontrado barreiras por conta do que alega serem “falsas acusações”. 

O começo da carreira em negócios milionários

A primeira vez que um negócio dos Neman virou notícia nos jornais foi em 1994, e não foram nas páginas policiais. À época com 30 anos, Dalton Neman criou uma empresa de sorteios de carros “inovadora”, o Grupo Neman Promoções e Eventos. Um modelo hoje muito disseminado no mercado, em que cupons de sorteio são distribuídos em estabelecimentos comerciais como brinde aos clientes. 

“Uma espécie de rifa coletiva”, como definiu a revista Veja, em matéria publicada em 30 de novembro daquele ano, sobre o sorteio de uma BMW. “Uma criação da empresa de promoções Neman”, informou o impresso. Neman contou que por causa do projeto também participou do programa Porta da Esperança, de Silvio Santos, e foi entrevistado pelo apresentador Amaury Júnior. 

 

Reprodução de matéria da Revista Veja sobre a empresa (Foto: reprodução)
Bilhete para sorteio de BMW (Foto: reprodução)
Bilhete para sorteio de BMW (Foto: reprodução)

 

Segundo ele, na edição do sorteio noticiado pela Veja, foram mais de 1 milhão de números vendidos em uma semana. “Eu tinha bastante lucro. Eu me assustei com tanto dinheiro que entrou na minha conta. Comprei apartamento no Guarujá, comprei apartamento em São Paulo, carro zero quilômetro. Começou ali o meu primeiro projeto de grande sucesso”, se gabou.

O projeto durou três anos (1992-1994) e só acabou, de acordo com o empresário, porque a PF e o Exército “bateram em sua porta’” por terem associado o negócio a jogos de azar. “Eles começaram a vir atrás de mim falando: ‘Se eu vir mais um cupom desse, eu te ponho na cadeia’. Eu falava: ‘Não é jogo de azar, eu estou fazendo promoções comerciais, a pessoa não compra, ela ganha o cupom’. Mas tanto fizeram que eu recebi um ultimato e parei”, lembra Neman. 

Por causa disso, ele contou que decidiu criar um projeto “com autorização” do governo, que foi apelidado de “Trock Troco”, lançado em São Paulo em 4 de novembro de 1999. Neman diz que inventou um novo modelo de sorteio, em que a pessoa trocava moedas reais por moedas de papel, que podiam render diversos prêmios, como bicicletas, automóveis e até dinheiro. “No primeiro dia do lançamento do projeto, foram vendidos 36 milhões de cédulas.” 

A propaganda do Trock Troco foi parar nas maiores emissoras de rádio e televisão do país com a cara do apresentador Gugu Liberato. O pianista também foi quem criou o jingle do negócio: “trok troco, trok troco, a sua sorte agradece, trok troco pela sorte, a sua sorte aparece…”. 

Para essa empreitada, o empresário conseguiu atrair banqueiros como investidores, como por exemplo o falecido Aloysio Faria, do Banco Real, e o Antonio Carlos Canto Porto, do BTG Pactual. “Cada investidor que chegava para participar comprava uma cota de R$ 1,5 milhão”, destacou. “Esse projeto ficou um ano e meio na rua, me rendeu também uma bela remuneração, tanto pela ideia, mas eu também entrei como sócio. Eu tinha 20% de participação”, ressaltou. 

Apesar do estouro, esse projeto também não durou muito. Dessa vez, segundo Neman, a sociedade se desfez, após um ano e meio, por causa de brigas entre os sócios. “Era tanto dinheiro, gerou tanta briga, que acabou desfazendo a sociedade e parou o projeto.” 

Após o fim do Trok Troco, Neman fundou seu mais longevo negócio, que lhe rendeu milhões, uma prisão e alguns escândalos: o Banco Neman. 

 

 

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