ITAJAÍ
Pastor da Mevam minimiza caso de estupro contra criança de cinco anos
Acusação pesa contra marido de cantora gospel, que aguarda julgamento
João Batista [editores@diarinho.com.br]
O pastor Luiz Hermínio, líder da igreja Mevam, com sede em Itajaí, minimizou uma investigação de estupro contra uma criança de cinco anos que teria sido violentada pelo marido da cantora gospel Heloísa Rosa, Marcus Grubert. Em conversa com um pastor não identificado, Luiz Hermínio diz que “não houve estupro, mas sexo oral”, dando a entender que a violência sexual não seria crime.
Marcus Grubert é amigo do líder da Mevam e foi preso no dia 21 de maio, em Orlando, nos Estados Unidos, acusado de abuso sexual contra uma criança em 2023. Ele foi liberado cerca de um mês depois da prisão e está aguardando o processo ser julgado. Marcus teria confessado o crime para líderes da igreja Alcance, em Orlando, em 2023. A instituição, em maio, negou ter havido confissão.
Nesta semana, o pastor Anderson Silva, que lidera um projeto de combate a crimes sexuais em ambientes religiosos, divulgou trecho de uma conversa do pastor Luiz Hermínio com outro pastor, em que o líder da Mevam tenta minimizar o crime de violência sexual. O áudio foi compartilhado com postagem da Hope and Justice Foundation, organização que presta apoio à família da vítima.
“Você está falando em hímen, mas a menina não foi estuprada. O que aconteceu, a acusação, é de sexo oral. E segundo o promotor, ele diz que desistiu do caso porque não tinha provas. A menina não foi violentada, ela não perdeu o hímen, ela não perdeu a virgindade. Não houve penetração em hipótese alguma, segundo os relatórios da investigação”, diz o líder da Mevam na conversa.
A advogada Anna Paula Moreira Alves-Lázaro, fundadora da Hope and Justice, afirmou que a organização recebeu com indignação e repulsa das “palavras irônicas e esdrúxulas do líder religioso Luiz Hermínio. “Que com bastante ironia tenta minimizar os efeitos do bárbaro crime cometido pelo filho do seu amigo [pastor] Irineo Grubert e esposo da cantora gospel Heloísa Rosa”, diz a postagem.
“Os efeitos negativos que a desinformação pode causar em casos de abuso sexual, principalmente quando essa desinformação vem de líderes que supostamente deveriam buscar ter o verdadeiro entendimento sobre esses crimes para, assim, agir de maneira coerente e em concordância com a lei são por demais danosos”, destaca a manifestação. Segundo a fundação, o estatuto da Flórida (Estados Unidos) é claro sobre o que considera crime de estupro. Pelo Código Penal Brasileiro, também não precisa ter conjunção carnal ou rompimento do hímen pra haver estupro.
O crime fica configurado diante de qualquer ato libidinoso, conceito que engloba comportamentos sexuais que visam satisfazer o desejo sexual de alguém. Entre as práticas que se aplicam na definição estão beijos lascivos, toques inapropriados, masturbação forçada, forçar alguém a fazer sexo oral e exibição de partes íntimas com intenção sexual.
Para a entidade que presta apoio à família da vítima, a fala do pastor Luiz Hermínio vai além de uma simples conversa, configurando uma interpretação errônea do crime que revitimiza a criança e que aprofunda o trauma ocorrido. “A tentativa de encontrar justificativas para o injustificável com essas frases infelizes e monstruosas, abre uma porta para abusadores praticarem o mesmo crime com novas vítimas, fortalecendo o silêncio que protege esses criminosos”, completa.
Líder da Mevam se manifesta
O caso levou a Mevam a se manifestar nesta semana, em esclarecimento postado nas redes sociais da igreja e do pastor Luiz Hermínio. O comunicado diz que cabe às autoridades estatais investigar e julgar pessoas que cometem qualquer tipo de crime.
“O Ministério Mevam e seus pastores jamais transigiram, compactuaram ou acobertaram qualquer conduta criminosa e/ou pecaminosa dentro ou fora da igreja. Pelo contrário, cremos que só há arrependimento genuíno naquilo que é trazido à luz”, diz a nota.
Na mensagem, a igreja diz defender que toda e qualquer atitude com indícios de práticas criminosas sejam devidamente apuradas, com a responsabilização dos envolvidos, após o devido processo legal.
“Respeitando os princípios constitucionais da ampla defesa e do contraditório, sempre objetivando que nada fique encoberto, com os devidos esclarecimentos, independente da complexidade, na forma da Lei”, frisa.
Pastor diz que fala está fora de contexto
Na terça-feira, logo após os áudios vazarem, o pastor Luiz Hermínio divulgou uma nota sobre o caso. “Jamais acobertaria ou tentaria minimizar um crime. “Um pecado praticado por quem quer que fosse! Ainda que fosse meu filho teria que arcar com as consequências de seus atos”, disse.
O pastor alega que a conversa foi divulgada fora de contexto. “Alguém pegou uma conversa minha, onde eu tentava explicar sobre o que eu sabia do que tinha acontecido em determinada situação, e essa pessoa má pegou isso, gravou e editou, cortando um trecho para parecer que minimizei o ato criminoso. Na minha ingenuidade e bondade eu só queria explicar o que eu sabia sobre a situação - e o que eu sabia, soube pelas notícias da internet. Desculpe pelo transtorno. Me perdoe por minha ingenuidade. De novo peço perdão se causei algum dano ao seu coração e seu ministério. Jesus vai trazer luz sobre isso”, falou.