ITAJAÍ
MP cobra informações da prefeitura sobre árvores da Marcos Konder
Promotoria entende que árvores só poderão ser retiradas quando corredor verde estiver finalizado na avenida
Franciele Marcon [fran@diarinho.com.br]
C om o início das obras de reurbanização da avenida Marcos Konder, no centro de Itajaí, o Ministério Público enviou à prefeitura um pedido de informações sobre o projeto que pretende mudar radicalmente uma das mais antigas avenidas da cidade e ainda pode derrubar a maior parte das 129 árvores que compõem a paisagem.
O pedido de explicações foi feito pela promotora ambiental Ariadne Clarissa Klein Sartori, da 10ª Promotoria de Justiça de Itajaí. O MP lembra que existe um Termo de Ajustamento de Conduta ...
 
Já possui cadastro? Faça seu login aqui.
OU
Quer continuar lendo essa e outras notícias na faixa?
Faça seu cadastro agora mesmo e tenha acesso a
10 notícias gratuitas por mês.
Bora ler todas as notícias e ainda compartilhar
as melhores matérias com sua família e amigos?
O pedido de explicações foi feito pela promotora ambiental Ariadne Clarissa Klein Sartori, da 10ª Promotoria de Justiça de Itajaí. O MP lembra que existe um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) de 2019, firmado entre o ministério Público e o Instituto Itajaí Sustentável (Inis). O acordo exige a manutenção de “corredores verdes” na avenida sob pena de multa.
O Inis, explica o MP, é o órgão que deve fiscalizar a instalação do corredor verde na Marcos Konder. As 129 árvores existentes na via só poderão ser retiradas ou transplantadas quando a nova área de plantio estiver pronta. “As árvores que estiverem saudáveis deverão ser transplantadas para o corredor verde”, continuou o MP.
O acordo firmado em 2019 encerrou um inquérito civil de 2018 que investigou suposta irregularidade no possível corte das árvores e na retirada no canteiro central da avenida para o projeto de reurbanização. O processo foi conduzido na época pelo promotor Álvaro Pereira Melo, então titular da Promotoria Regional do Meio Ambiente.
O município de Itajaí informou que ainda não recebeu nenhuma notificação do MP relacionada à obra revitalização da avenida Marcos Konder.
Canteiro de obra já foi montado na avenida Marcos Konder
Nessa semana quem passou pela avenida Marcos Konder já acompanhou o início da instalação do canteiro de obras da empresa Pacopedras, que será responsável pela obra de revitalização.
Os trabalhadores iniciaram a instalação em frente ao laboratório de análises da Unimed, ocupando o lado do início da rua João Bauer. A obra na Marcos Konder não prevê interrupção total do trânsito da avenida, segundo a prefeitura. A obra iniciará com a retirada do estacionamento no lado oeste da via.
“Medida de corte é insensata, precipitada e danosa”, alerta Agenda 21
Enquanto a prefeitura inicia os trabalhos na Marcos Konder, a sociedade civil segue se mobilizando para evitar a descaracterização da tradicional avenida. O grupo da Agenda 21, fórum permanente constituído por representantes comunitários e autoridades locais que buscam a construção de uma sociedade sustentável, publicou um “manifesto em favor de uma mobilidade urbana sustentável”. O documento foi enviado à imprensa, ao presidente da Câmara de Vereadores de Itajaí e ao gabinete do prefeito Volnei Morastoni (MDB).
“Diante da iminente derrubada de mais de 100 árvores em uma das avenidas mais emblemáticas de Itajaí, é crucial levantar a voz contra essa medida insensata, precipitada e danosa. Enquanto o mundo se mobiliza para combater as mudanças climáticas e preservar nossos ecossistemas, a administração pública de Itajaí parece estar indo na contramão, sacrificando a biodiversidade em prol de uma suposta melhoria na mobilidade”, diz o documento.
Além da preservação das árvores, a Agenda 21 defende o valor histórico e paisagístico da avenida. “Elas [as árvores] são testemunhas silenciosas do passado e guardiãs do presente, oferecendo sombra, oxigênio e um refúgio para a fauna local, além de amenizar as altas temperaturas nos meses de verão. Sua derrubada seria um golpe devastador na identidade e na qualidade de vida dos cidadãos de Itajaí. É lamentável que a administração pública opte por uma solução tão drástica, ignorando exemplos de sucesso ao redor do mundo”, destaca.
O grupo cita exemplos mundiais de preservação do patrimônio natural, como a cidade de Barcelona, na Espanha, que implementou medidas de mobilidade urbana sem sacrificar as áreas verdes. O grupo ainda citou Bogotá, capital da Colômbia, que transformou ruas arborizadas em espaços para pedestres e ciclistas, promovendo uma mobilidade sustentável e saudável para todos.
Outro exemplo mais próximo dos itajaienses foi o de Balneário Camboriú que mudou o curso da avenida Martin Luther para preservar a árvore centenária da vida. E o de Curitiba que manteve o canteiro central arborizado em uma de suas principais avenidas, mesmo quando implantado sentido único na via.
Veja abaixo o manifesto na íntegra
Manifesto em favor de uma mobilidade urbana sustentável
Diante da iminente derrubada de mais de cem árvores em uma das avenidas mais emblemáticas de Itajaí, é crucial levantar a voz contra essa medida insensata, precipitada e danosa.
Enquanto o mundo se mobiliza para combater as mudanças climáticas e preservar nossos ecossistemas, a administração pública de Itajaí parece estar indo na contramão, sacrificando a biodiversidade em prol de uma suposta melhoria na mobilidade.
É inegável o valor histórico e paisagístico que essas árvores representam para a cidade. Elas são testemunhas silenciosas do passado e guardiãs do presente, oferecendo sombra, oxigênio e um refúgio para a fauna local, além de colaborar amenizando as altas temperaturas nos meses de verão.
Sua derrubada seria um golpe devastador na identidade e na qualidade de vida dos cidadãos de Itajaí.
É lamentável que a administração pública opte por uma solução tão drástica, ignorando exemplos de sucesso ao redor do mundo. Em vez de destruir um patrimônio natural irrecuperável, poderiam se inspirar em cidades como Barcelona, que implementou medidas de mobilidade urbana sem sacrificar suas áreas verdes. Como Bogotá, que transformou ruas arborizadas em espaços para pedestres e ciclistas, promovendo uma mobilidade mais sustentável e saudável para todos. Ou ainda, como Balneário Camboriú que mudou o curso de uma avenida para preservar uma árvore centenária e Curitiba, que manteve o canteiro central arborizado em uma de suas principais avenidas, mesmo quando implementado sentido único.
Ao invés de cortar árvores, é preciso que a administração municipal corte pela raiz o pensamento arcaico de que o progresso está diretamente ligado à destruição das áreas verdes.
É preciso que Itajaí assuma o protagonismo e defenda verdadeiramente os direitos da natureza, assumindo os compromissos assinados durante a The Ocean Race que ficaram passados mais de um ano, apenas no papel.
A verdadeira evolução está em encontrar soluções que preservem nossa natureza enquanto promovem o bem-estar de toda a comunidade.
Portanto, exortamos veementemente as autoridades de Itajaí a repensarem esse projeto e a considerarem alternativas que respeitem e valorizem as áreas verdes do Município.
O legado a ser deixado para futuras gerações de nossa cidade e de nosso planeta depende da necessidade de ser pensado um DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL não apenas para atender o imediatismo do presente, mas com uma visão inteligente do futuro.
Ass: Fórum Permanente da Agenda 21 de Itajaí
Árvores da avenida serão avaliadas por especialista nesta sexta-feira
São necessários pelo menos 120 dias para concluir o transplante de cada uma das sibipirunas
As 87 árvores do canteiro central da avenida Marcos Konder passarão por uma vistoria técnica, a partir das 14h30 desta sexta-feira, que será feita pelo Instituto Itajaí Sustentável (Inis) e pelo técnico agrícola e tecnólogo em Gestão Ambiental, Heli Schlickmann. O objetivo é verificar “o estado fitossanitário” das árvores e confirmar quais estão aptas para transplante. A análise tem como base um estudo feito há sete anos pelo Inis e o trabalho de Heli foi contradado pela empreiteira que vai tocar a obra, a Pacopedras.
A Marcos Konder tem 129 árvores e 87 delas estão no canteiro central. Destas árvores somente 28 poderiam ser transplantadas e isso se todos os procedimentos preventivos fossem feitos corretamente.
O destino das outras árvores existentes na avenida e que não são acompanhadas por Heli ainda não foi explicado pelo Inis e nem pela prefeitura.
As árvores acompanhadas são 15 sibipirunas e 13 palmeiras imperiais que teriam condições de transplante, com 75% a 80% de chance de sobreviverem ao processo, segundo o técnico. Ele explica que é necessária a preparação, a remoção e finalmente o transplante das árvores.
“A sibipiruna tem um tempo de preparação de 120 dias, já nas palmeiras imperiais o transplante é imediato, ressalvando algumas notas técnicas no cuidado da retirada. Estamos agora no passo de analisar a situação de cada exemplar individualmente para apontar a situação das raízes, colo, tronco e copa. O laudo do manejo de cada unidade individual será feito com os técnicos do Inis”, completa.
Será confirmado quantas poderão ser transplantadas, para quais locais elas irão e então iniciadas as correções de doenças e feita a sangria de 50% das raízes. “O terceiro passo será a poda de equilíbrio entre tronco e copa para corrigir desequilíbrios existentes. A quarta etapa será a sangria dos outros 50% das raízes e a preparação para remoção para os novos berços de transplante”, explica Heli.
Somente após esses quatro passos, que levam em torno de quatro meses, se inicia a remoção para o novo espaço. “O processo requer o tempo mínimo de 120 dias antes do transplante, em virtude das características de cada árvore, como tipo de raiz, tamanho, profundidade, diâmetro, resposta ao stress...”, comenta. A partir do transplante, será feito o acompanhamento por 24 meses para corrigir poda, adubação e curar possíveis doenças.
Já as palmeiras, segundo Heli, podem ter o transplante imediato porque as raízes absorvem água e nutrientes muito próximo do tronco. “Nas palmeiras as raízes absorvem água, então quando você tira aquela parte com raiz e terra, essas raizinhas novas vão junto e seguem nutrindo as palmeiras. Já outros tipos de árvore, se eu cortar em volta dela, tanto de 80 centímetros ou metros, eu vou tirar todas as raízes que absorvem água. Eu preciso cortar uma parte para forçar a produção de novas raízes. Daí quando eu fizer o corte ao contrário, aquelas que estavam nutrindo vão dar espaço para as novas”, explica.
Urbanista alerta que obra às vésperas de eleição pode ficar inacabada
O arquiteto e urbanista Homero Bruno Malburg, que já foi secretário de Urbanismo de Itajaí, chama a atenção para o fato de uma obra tão impactante, que irá interferir em toda a parte central do município, iniciar às vésperas da eleição municipal de 2024. Pela informação da prefeitura, a obra tem prazo de conclusão de 12 meses com investimentos de R$ 50 milhões do financiamento internacional do Banco Fonplata. “Obra de tão grande impacto, de alto custo e de prazo de execução discutível – um ano – iniciada em ano eleitoral? Será que o próximo prefeito terá interesse na sua continuidade?”, questiona Homero.
O urbanista defende que a reurbanização da Marcos Konder siga um planejamento que inclua também as ruas paralelas. “A rua João Bauer está para receber o hospital da Unimed que será um futuro gerador de tráfego e deve ser objeto de atenção. O que falar então da Sete de Setembro? Foi-lhe amputada uma pista para via exclusiva de ônibus em uma largura que já não era tão grande, gerando um caos no tráfego. Planejamento urbano consiste em saber programar ações. Iniciar com obras em espaços vizinhos: na Sete de Setembro, João Bauer e transversais, antes de atacar a Marcos Konder que está dando conta do recado com certa folga”, analisa.
Veja abaixo o manifesto na íntegra do urbanista Homero Bruno Malburg
Comenta-se muito sobre a preservação ou eliminação das árvores que atualmente fazem parte da avenida Marcos Konder no seu projeto de urbanização.
A ideia é alterar totalmente o espaço da avenida – novas pistas de tráfego; reforma do sistema de água-esgoto; nova rede elétrica e iluminação. Tudo isso demanda mexer em muita coisa e fatalmente nas árvores existentes. Estas começaram a ser plantadas na década de 60 nos passeios e nos canteiros estreitos que separavam as duas pistas. Tais árvores, segundo alguém que as contou, são 129 exemplares variados, alguns em péssimo estado.
Para reurbanização da avenida Marcos Konder naquela grandeza pretendida, evidente que tais árvores serão as primeiras vítimas.
Segundo se espera, novas árvores deverão fazer parte da “criação de espaços verdes que abrigarão locais de lazer e contemplação”, segundo anunciam.
Estes espaços foram criados no parque linear à margem da avenida Beira Rio (Victor Konder) à sombra de inúmeras árvores plantadas em espaços maiores, proporcionando ambientes verdes muito bem utilizados por todos.
Penso então na nova Marcos Konder com tais ambientes e não com meras filas de árvores, algumas raquíticas, sem função, a não ser suporte da iluminação de natal. Canteiros centrais, se houver, de quatro metros de largura no mínimo.
Temos em Itajaí outro belo exemplo de arborização com palmeiras plantadas no canteiro central da avenida Joca Brandão. São belíssimas e não estão ali para gerar sombra – apenas adequadas a separar o trânsito com um aspecto alegre e festivo.
A reurbanização da Marcos Konder teria que obedecer a um planejamento que incluísse também as ruas paralelas. A rua João Bauer está para receber o hospital da Unimed, futuro gerador de tráfego, e deve ser objeto de atenção. O que falar então da Sete de Setembro? Foi-lhe amputada uma pista para via exclusiva de ônibus em uma largura que já não era tão grande, gerando um caos no tráfego.
Planejamento urbano consiste em saber programar ações. Iniciar com obras em espaços vizinhos, tipo Sete de Setembro, João Bauer e transversais, antes de atacar a Marcos Konder, que hoje está dando conta do recado com certa folga.
Obra de tão grande impacto, de alto custo, e de prazo de execução discutível – um ano – iniciada em ano eleitoral? Será que o próximo prefeito terá interesse na sua continuidade? Convenhamos que a questão das 28 árvores sobreviventes passa a não ter importância tão grande face à totalidade da obra.
Ass: Homero Malburg