Matérias | Geral


PREVENÇÃO

SC vai tirar da gaveta “estudos japoneses” contra as enchentes

Propostas feitas após enchentes de 2008 e 2011 estão travadas e podem andar através de parcerias com a iniciativa privada

João Batista [editores@diarinho.com.br]

Construção de mais barragens, alargamento e dragagem de rios são as principais ações (Foto: Secom)


As inundações que destruíram cidades do Vale do Itajaí em outubro fizeram o governo estadual resgatar projetos contra as cheias elaborados pelo programa da agência japonesa Jica, após as enchentes de 2008 e 2011. As propostas serão desengavetadas por um grupo de trabalho chefiado pela Secretaria de Planejamento, que vai levantar os projetos existentes e apontará quais obras são mais viáveis.

Algumas ações do projeto Jica saíram do papel, como as elevações das barragens de Taió e Ituporanga e ferramentas de monitoramento. O programa abrange a construção de mais barragens, alargamento e dragagem de rios, mas pouca coisa andou de lá pra cá.



A barragem de Botuverá, contra as cheias no rio Itajaí-mirim, é o projeto mais avançado, com estudos concluídos desde 2014. A retomada do projeto, que chegou a ser licitado, voltou às discussões em outubro. A obra está no encargo da Casan e serviria também como solução para o sistema de captação de água.

O diagnóstico do governo estadual pretende juntar propostas antigas e projetos em andamento. Segundo o secretário do Planejamento, Edgard Usuy, a ideia é conhecer as ações e ver as que são viáveis pra execução. O foco, num primeiro momento, é a Bacia do Rio Itajaí.


“Esse grupo vai ser multidisciplinar. Com a participação de várias secretarias, tem o objetivo de coordenar, buscar, entender e diagnosticar todos os estudos, ações, projetos que visem dar mais resiliência ao estado perante as questões climáticas”, disse.

O programa da Jica prevê três novas barragens na região de Rio do Sul e obras de contenção de encostas em Blumenau. No rio Itajaí-mirim, além da barragem em Botuverá, foi indicado o alargamento e a dragagem em toda a calha, aumentando a capacidade de vazão.


O presidente do comitê do rio Itajaí, Odair Fernandes, destacou que ações do plano de recursos hídricos da bacia avançaram nos últimos anos, como sistemas de alerta, ferramentas de previsão e estações fluviométricas. Os projetos da Jica foram discutidos pelo comitê como medida de gestão pra reduzir os efeitos das inundações.

“O comitê se posicionou favorável às intervenções, mas apresentou aos órgãos de execução do governo recomendações para aperfeiçoar os melhoramentos fluviais e as novas barragens de contenção de cheias”, analisa.

Odair ressalta que viu obras darem resultado nas barragens de Taió e Ituporanga e acredita que o governo tem interesse em continuar as ações. “O estado tem condições de avançar na implantação das barragens do Itajaí-Mirim (Botuverá) e dos rios Taió (Mirim Doce) e Perimbó (Petrolândia)”, disse.

 

Parcerias privadas para bancar a conta


As obras dependem de grandes investimentos. Só a barragem de Botuverá custará cerca de R$ 300 milhões. Parcerias com a iniciativa privada, como pra projetos de geração de energia nas barragens, facilitaria conseguir os recursos e a manutenção das estruturas, mas podem não ser viáveis nos locais para as obras.

O presidente do Comitê do Rio Itajaí avalia que uso múltiplo das barragens – contenção de cheias e geração de energia – é possível, mesmo em rios com baixas quedas, usando novas tecnologias de turbinas. Mas também é preciso que o sistema de gestão seja interligado com o de prevenção de desastres climáticos.

“Creio que ainda precisamos aperfeiçoar e amadurecer nossos modelos de previsão e simulações, para que este tipo de operação se torne eficiente, confiável e sustentável”, considera. Odair frisa que ações importantes estão nas mãos dos municípios, pois eles definem as regras de uso e ocupação do solo.

Recuperação da mata ciliar, redução do assoreamento, melhorias nos planos de contingência e estruturação da defesa civil são medidas listadas como necessárias. Segundo Odair, as ações nas cidades, com o pleno funcionamento das barragens, já dariam maior segurança à população contra as cheias.

Gastos com desastres são maiores


do quem com obras preventivas

O professor Victor Valente Silvestre, mestre em engenharia ambiental e pesquisador em Avaliação de Impactos Ambientais, teve contato com o programa Jica quando trabalhou na antiga Famai e no Semasa. Ele comenta que os projetos previstos seguem relevantes porque o uso de estruturas como barragens, canais e comportas é reconhecido como eficaz na gestão de inundações.

Victor considera prudente, porém, uma revisão dos dados que embasaram as propostas, à luz das mais recentes projeções climáticas feitas em relatório da ONU. “A adaptação dos projetos para refletir as condições climáticas em constante evolução da região pode ser necessária para assegurar a eficácia e resiliência no enfrentamento das cheias no Vale do Itajaí”, pontua.

O pesquisador reconhece que os projetos são complexos, envolvendo desapropriações e impactos em diversos municípios, além de entraves ambientais que podem emperrar as obras, mesmo havendo recursos. “Por outro lado, quando os recursos não estão disponíveis, o senso de urgência tende a diminuir, pois acredita-se que a execução real da obra pode estar em risco”, analisa.

Para Victor, é preciso encontrar o equilíbrio entre as demandas ambientais e a urgência de investimentos, levando em conta que os prejuízos com os desastres são bem maiores que os custos das obras. E pra que essas obras saiam do papel, ele opina que o estado deve colocar os projetos dentro de um plano concreto de prioridade.

“Os custos são extremamente elevados e deve-se pensar numa forma mais moderna de financiamento, PPPs, participação do setor privado... Da mesma forma, deve haver um esforço conjunto entre os órgãos ambientais, Ministério Público e sociedade civil para que as questões ambientais não sejam problemas”, destaca.

 

Para além de ações emergenciais

Na avaliação do professor Victor Silvestre, a dragagem e o desassoreamento são cruciais pra melhorar a capacidade de escoamento dos rios e reduzir os riscos para comunidades ribeirinhas. “Essa medida é eficaz, embora não substitua a necessidade de grandes obras que contemplem toda a bacia do Itajaí-Açu”, pondera. A cobrança pelas obras mobiliza entidades empresariais.

No final de outubro, lideranças de Brusque, Guabiruba e Botuverá se reuniram pra cobrar do estado a retomada do projeto da barragem no Itajaí-mirim. Na ocasião, o coordenador regional de Infraestrutura de Santa Catarina, José Luiz Colombi, ex-prefeito de Botuverá, disse que a obra tem condições de ser destravada, porque não enfrenta conflitos locais e sociais e já conta com as licenças ambientais.

As obras da Jica também foram defendidas pela Fiesc no lançamento da Agenda das Águas 2023, neste mês. O documento traz uma série de propostas pra gestão dos recursos hídricos. Contra as cheias, ainda foram listadas como necessidades a dragagem do rio Itajaí-açu, obras de drenagem, eficiência das barragens e plano estadual de adaptação às alterações climáticas.

                 

 




Comentários:

Somente usuários cadastrados podem postar comentários.

Para fazer seu cadastro, clique aqui.

Se você já é cadastrado, faça login para comentar.


Envie seu recado

Através deste formuário, você pode entrar em contato com a redação do DIARINHO.

×






18.217.183.76

Últimas notícias

Realeza

Rei e Rainha da Marejadinha visitaram o DIARINHO

ITAJAÍ

Semasa pede economia de água por dificuldades de captação

Santa Catarina

Empresários promovem evento  sobre governança em Floripa

Série D

Barra perde para o Concórdia fora de casa

Receita controlada

Zolpidem vai virar tarja preta no Brasil

LABORATÓRIO

Ford disputará o Rali Dakar 2025

CHUVAS

Itajaí tem alagamentos em ruas do bairro Cordeiros

Chuvas

SC tem 24 cidades atingidas pelas chuvas

Vôlei

Brasil se despede do Rio de Janeiro invicto na Liga das Nações

TREVO DE BRUSQUE

Edital das alças de acesso à Antônio Heil tem orçamento de R$ 54,5 milhões



Colunistas

JotaCê

Montibeller indeciso

Coluna Exitus na Política

Um passeio nas cavernas

Via Streaming

Amor do passado

Na Rede

Morte de produtor, garotinho com orgulho do pai na enchente e mais: confira os destaques do DIARINHO

Artigos

O combate ao abuso e à exploração de crianças e adolescentes é um compromisso coletivo

Jackie Rosa

Niver da Chris

Mundo Corporativo

A importância do equilíbrio da autoestima no mundo organizacional

Coluna Esplanada

Palácio x Lira

Gente & Notícia

Níver da Margot

Ideal Mente

Luto coletivo: navegando juntos nas ondas da perda

Show de Bola

Vitória da base

Direito na mão

Mulher entre 54 a 61 anos: como antecipar a aposentadoria?

Coluna do Ton

Chegando de Mendoza

Histórias que eu conto

Armação da infância II

Foto do Dia

“O mar, quando quebra na praia”

Coluna Existir e Resistir

Designação geral sobre o fim do mundo

Coluna Fato&Comentário

Anuário de Itajaí - 100 anos da 1ª edição

Empreender

Balneário Camboriú atrai cada vez mais clientes do eixo sudeste



TV DIARINHO


Uma mulher foi arrastada pela correnteza do rio Itajaí-Açu em Rio do Sul. Ela se agarrou em um pedaço ...





Especiais

NA ESTRADA

BC oferece rolês gastronômicos, culturais, de compras e lazer

RIO GRANDE DO SUL

São Leopoldo: a cidade gaúcha onde quase todos perderam o lar

RIO GRANDE DO SUL

Governo Eduardo Leite não colocou em prática estudos contra desastres pagos pelo estado

Retratos da destruição

“Não temos mais lágrimas pra chorar”: A cidade gaúcha destruída pela 3ª vez por enchentes

MEIO AMBIENTE

Maioria de deputados gaúchos apoia projetos que podem agravar crise climática



Blogs

A bordo do esporte

Maratona fecha etapa de Ouro Branco da Estrada Real

Blog da Jackie

Tá na mão!!!

Blog do JC

Visita na choupana do Chiodini e Rebelinho

Blog da Ale Francoise

A pílula da felicidade

Blog do Ton

Amitti Móveis inaugura loja em Balneário Camboriú

Gente & Notícia

Warung reabre famoso pistão, destruído por incêndio, com Vintage Culture em março

Blog Doutor Multas

Como parcelar o IPVA de forma rápida e segura

Blog Clique Diário

Pirâmides Sagradas - Grão Pará SC I

Bastidores

Grupo Risco circula repertório pelo interior do Estado



Entrevistão

Vilfredo e Heloísa Schurmann

"Nós reciclamos só 6% no Brasil. Na Europa já é 50%. A própria China já está com 35% de reciclagem” (Vilfredo)

João Paulo

"Essa turma que diz defender a família ajudou a destruir a boa convivência em muitas famílias. Na defesa de um modelo único, excludente"

Entrevistão Peeter Grando

“Balneário Camboriú não precisa de ruptura, mas de uma continuidade”

Juliana Pavan

"Ter o sobrenome Pavan traz uma responsabilidade muito grande”



Hoje nas bancas


Folheie o jornal aqui ❯








MAILING LIST

Cadastre-se aqui para receber notícias do DIARINHO por e-mail

Jornal Diarinho© 2024 - Todos os direitos reservados.
Mantido por Hoje.App Marketing e Inovação