Ademar Ferreira Mota, de 68 anos, o Chocolate, tradicional vendedor de livros nas ruas de Itajaí, faleceu na madrugada de sexta-feira em sua casa, no bairro Cidade Nova. A informação foi comunicada por vizinhos e amigos de Chocolate ao DIARINHO.
Chocolate era natural de Governador Valadares (MG) e não tinha parentes em Itajaí. Amigos realizaram o funeral no cemitério do bairro Fazenda na tarde desta sexta-feira. Entre as coroas ...
Chocolate era natural de Governador Valadares (MG) e não tinha parentes em Itajaí. Amigos realizaram o funeral no cemitério do bairro Fazenda na tarde desta sexta-feira. Entre as coroas de flores que recebeu estava a mensagem: “O analfabeto que tentou fazer Itajaí ler. Chocolate, nosso amigo do coração”.
Em cima do caixão, foram dispostas flores e cinco livros – a paixão de Chocolate. Com uma infância difícil em Minas, Chocolate não pôde estudar. Ele só sabia escrever o nome e ler algumas palavras. Antes de chegar a Santa Catarina, nos anos de 1980, vendeu redes e tapetes em São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia. Chegou no litoral em um caminhão pau de arara para vender redes, tapetes e artesanato na temporada de verão.
Já nos anos 2000, ele foi flanelinha no Mercado Público, onde os clientes lhe doaram livros – que ele passou a vender nas ruas de Itajaí e Navegantes. Chocolate juntava os livros doados em uma caixa de peixe, amarrada na garupa de sua bicicleta, e saía pelas ruas vendendo, principalmente para os frequentadores do Mercado Público de Itajaí, nas praças da Matriz e Vidal Ramos, no centro.
A antiga livraria e sebo “CasAberta” sempre doava livros para Chocolate vender. O advogado Giancarlo Ghislandi sempre ajudava o amigo. Atualmente, tinha emprestado o pix para ele receber os valores das vendas e depois repassar para ele. “Pedia comida nos restaurantes e roupas… Há 10 dias me pediu pix para poder vender os livros, para eu repassar o dinheiro para ele”, conta Giancarlo. “Pediu roupas de cama para mim. Essa semana ainda me cobrou que eu não havia entregue os lençóis prometidos”, lembra o advogado.
Em 2016, através de amigos e do DIARINHO, ele conseguiu comprar uma passagem aérea para viajar para Minas Gerais, mas, como lembra Giancarlo, não o deixaram embarcar no avião. Acostumado a dificuldades, “Chocolate acabou indo de ônibus...”, conta. Ele teria quatro filhos, que deixou na década de 80 em Minas Gerais.