JC: A partir do meio-dia deste sábado, na Sociedade Fazenda, o pessoal vai ter aquilo que é o maior mote da Gororoba: um encontro de pessoas. Vai ser um encontro de políticos, mas é um encontro de pessoas. Fora a comida boa, música, vai ter o Cantinho da Pirralhada para quem quiser levar suas crianças, uma gentileza do DIARINHO. [Tem uma urna para o pessoal votar em você?] A urna vai ser a presença. [Como está o clima de bastidores? Tem muita disputa de grupos políticos? ] Está bem concorrido. Quando fechar as urnas, a gente vai ter essa contagem. Eu, piamente, acredito numa eleição. [Tens voto mais da esquerda ou da direita?] Esquerda e direita têm comparecido lá na Choupana e demonstrado apoio. Eu acho isso bem legal, porque fica de lado essa questão da polarização.
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Qual caso mais inusitado que já aconteceu no evento?
JC: Já aconteceu de tudo. Uma vez eu estava no Angeloni e encontrei o marido de uma ex-vereadora, na época ela ainda não era vereadora, e eu perguntei: “Não foi na Gororoba?” Ele disse: “Nós recebemos do partido uma mensagem para boicotar o evento”. Quando chegou a mulher dele, que é muito mais diplomática, eu perguntei e ela disse: “Pois é, teve um evento...”. Eu respondi: “Devias ter combinado com teu marido, porque ele já me contou a realidade”. Mas faz parte do jogo. [Quem lhe surpreenderia positivamente comparecendo na Gororoba?] Eu acho que todas as pessoas estão convidadas, independentemente de elas gostarem ou não do que eu escrevo. Na minha choupana, eu recebo até quem eu não quero. Todas as pessoas são bem-vindas, independentemente de algum tipo de posicionamento, de alguma crítica, coisa e tal. [Mas tem uma figura que tu achas que, se fosse, te surpreenderia?] Acho que ninguém. Já teve diversas pessoas que não gostam do que eu escrevo, não sabem lidar com a crítica, não têm maturidade, que acabaram indo na Gororoba, foram bem recebidas. Tem que entender uma coisa: não se deve pessoalizar na vida e na política.
Esquerda e direita têm comparecido lá na Choupana e demonstrado apoio"
Tem algum tipo de climão por reunir num espaço fechado centenas de adversários políticos?
JC: Na Gororoba nunca teve confusão. Isso demonstra que os políticos são adversários, não inimigos. Esperamos que continue assim. Eu lembro que um jornalista, há muitos anos, convidou o Mosquito. O Mosquito era um blogueiro polêmico. Inclusive, quando o Pavan foi tomar posse na Assembleia, como governador, estava tudo em silêncio e o Mosquito gritou: “Ladrão!”. Prenderam ele na cela da Assembleia. O Mosquito estava polemizando, então o jornalista pensou: “vamos trazer o Mosquito”. O Mosquito chegou, vestiu a camiseta, e então chegou o ex-prefeito de Florianópolis, Edson Andrino. Na hora em que o Mosquito o viu, porque o Edson tinha colocado diversos processos contra ele, tirou a camisa da Gororoba, mostrou uma camiseta de guerra e queria partir pra cima do cara.
Você conseguiu fazer os prefeitos Jandir Bellini e Volnei Morastoni apertarem as mãos em uma das edições da Gororoba, num momento de forte racha político na cidade. Como foi essa história?
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JC: Quando teve a reeleição, que o Volnei perdeu, foi bem pesado — operações da Polícia Federal, uma série de coisas. O Volnei chegou, ainda era do PT, com a turma toda. Era no antigo Tiradentes. Ele entrou lá no salão e ficou lá dentro. Depois chegou o Jandir. Eu queria, logicamente, a foto. Disse: “Jandir, o Volnei está lá dentro, vamos até lá”. Cheguei no Volnei, me abaixei, falei no ouvido dele: “Volnei, o Jandir tá aí. Vamos mostrar pra todo mundo que Itajaí é maior que nós todos”. Bateram a foto, se abraçaram. A foto icônica saiu na capa do DIARINHO, com a Ângela abaixando os óculos.
"Todas as pessoas estão convidadas, independentemente de elas gostarem ou não do que eu escrevo"
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Quem nunca faltou na Gororoba do JC?
JC: Eu sempre brinco: duas pessoas nunca faltaram. Uma delas foi o Esperidião Amin. Quem é a outra pessoa? [Você]. Exatamente. Teve um ano que foi meio muvucado e eu pensei: acho que não vou na Gororoba, vou deixar o Esperidião me representar. Na sexta-feira à noite, o Esperidião me liga: “Posso fazer qualquer coisa, posso comer feijoada, mas não posso viajar...”. Ele tinha feito uma cirurgia quase no cóccix, então não podia viajar. Lamentou muito... O Esperidião já chegou a ir à Gororoba quando era a eleição da Ângela, em Florianópolis. Num sábado, dia excelente para pedir voto, ele veio na Gororoba. Nunca faltou. Ano passado, fizeram uma caminhada do Robison em Cordeiros, estava inclusive o Jandir e o Esperidião falou para o Jandir: “Vamos na caminhada, mas depois vamos lá no JC”.
Como surgiu a ideia de promover a Gororoba do JC? O que mudou ao longo dos anos?
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JC: Um jornalista de Balneário Camboriú, o Pedro Paulo, o Pepa. Eu trabalhei no DIARINHO de 1985 a 1990. Saí, montei uma banca de revistas e em 2001 fui para o Diário da Cidade, onde fiquei três anos. Em 2004, a Samara me convidou para voltar ao DIARINHO. Desde então, estou aqui. Comentei que estava fazendo três anos de casa, e o Pepa disse: “Por que não faz um evento, faz uma camisa e escreve assim: almoço com o JC?”. Eu respondi: “Almoço com o JC está mais para coluna social. Tem que seguir a linha do DIARINHO”. Aí veio o nome Gororoba. O primeiro prato foi um carreteiro. A gente não sabia se ia dar certo. Eu ainda lembro que o prefeito era o Volnei. Ele chegou com a Nausicaa, veio cumprimentar, aquela coisa toda, mas tinha um evento lá no Beto Carrero. Veio o Esperidião Amin, o César Souza Junior, o Paulinho Bornhausen, o Túlio Cordeiro — que eu não sei se estava naquela época no DIARINHO — chegou e disse: “Parece coisa de artista”. Começou a chegar gente, fotografar e desde então conseguimos fazer o evento. Só paramos na época da pandemia.
"Tem que entender uma coisa: não se deve pessoalizar na vida e na política"
Todos os anos você acaba sendo eleito. Nunca teve problema com o crime eleitoral, na medida em que você dá comida?
JC: Eu não ofereço, eu não dou nada. A pessoa compra as coisas. Fui acusado agora, nesse processo, de compra de voto. Fui denunciado por compra de voto. Quer dizer, a minha equipe técnica, meu jurídico, já me orientou. São inverdades. São os detratores, é a oposição que quer acabar com a nossa chance de mudar esse país. [O senhor já contratou um instituto de confiança para fazer a sua pesquisa eleitoral?] Não contratei. Existem institutos sérios, mas... não viu a última eleição? Me perguntaram: “Como é que vai ser?”. Eu disse: “Acho que vai ser pau a pau”. Foram 20 mil votos a mais. Não que eu não acredite nas pesquisas, mas fiquei duvidando de determinados institutos.
Quando o Trump apresentou aquela cartolina com as taxações, supertaxa alfandegária, estava lá: Gororoba 60%. Todo o restante era 50%. O que o presidente vai fazer em relação a isso?
JC: O nosso governo, se eleito for, vai trazer estabilidade. Já faz três ou quatro anos que a camiseta da Gororoba custa R$ 70. Se eu consegui isso na iniciativa privada, imagina o que vai acontecer comigo presidente! Eu vou ser presidente e Ministro da Fazenda ao mesmo tempo, para garantir que tenha estabilidade. [O senhor mandaria uma marmita da Gororoba para o Trump?] Mandaria, claro.
"A Gororoba procura ser democrática, não ideológica, tenta abarcar todos os diferentes"
Esse ano sua campanha é para presidente. Se realmente você fosse eleito, acha que teria competência para governar, presidir o Brasil?
JC: Eu vou me colocar com humildade. Digo para as pessoas — isso desde o primeiro político com acesso à população, que é o vereador — que, logicamente, você não pode ser totalmente medíocre. Mas, se tiver uma boa equipe, as coisas acabam funcionando. Isso eu falo desde o vereador até uma instância superior. Não posso dizer que eu seria capaz, mas me cercaria de pessoas com capacidade para gerir, para fazer a coisa acontecer. Bons propósitos a gente tem.
Os políticos vão até a Choupana para comprar camisetas. Todo mundo vai no clima de paz?
JC: Eu tinha a banca de revista, escrevia no DIARINHO e um cara que escrevia em outro jornal disse que tinha histórias para contar: que eu tinha uma banca de revista, mas que, na verdade, era uma baiuca que escondia encontros casuais com mulheres casadas. Outros, nessa questão de embate, uma turma do PSDB de Itajaí disse que eu era gay. Eu respondi que não teria problema nenhum se fosse, porque o que nos define não é sermos homens, mulheres, gays ou lésbicas. O pai da Anna Carolina fez o jornal dele, o Sem Censura, e disse que eu não tomava banho. Eu digo para as pessoas: “É isso que vocês têm pra falar de mim? Que eu sou gay? Que aqui é ponto de encontro de mulher casada? Que eu não tomo banho?”. Eu lembro que, na época, eu publiquei uma foto tomando banho.
"Na minha choupana, eu recebo até quem eu não quero"
Quem lê a coluna e vai à Gororoba observa que as pessoas que estão na coluna — às vezes tomando solavanco e canelada — estão lá, e felizes. Como explica isso para o seu eleitorado?
JC: Eu conto uma historinha prosaica sobre isso. A minha irmã, há muitos anos, sentiu-se mal e eu a levei no antigo PA. Saí de lá à noite e só tinha uma farmácia. A porta era de vidro, estava fechada, a luz acesa e um cara varrendo, de cabeça baixa. Na hora que ele levantou a cabeça e me viu, fez que não com a mão. Entendi: já tinha fechado, não atendia mais ninguém. Tive que ir embora. Agora te pergunto: e se ele me conhecesse? Ele abriria a porta e perguntaria: “JC, o que aconteceu?” Eu responderia: “Pô, cara, saí agora do PA, preciso de um remédio.” Ele diria: “Entra aí, cara. Que remédio você quer?”. Isso é relacionamento. É isso que os políticos precisam entender. Grande parte dos políticos acha que a imprensa é marginal. Que o cara fala bem porque está ganhando, fala mal porque não estão pagando. Mas não é nada disso. É só relacionamento e informação.
Você já pensou em entrar para a política?
JC: Já fui convidado para entrar em algumas siglas e ser candidato a vereador. Sempre digo que é a eleição mais difícil que tem, porque são centenas de candidatos, todo bairro tem um, toda rua tem um, tem amigos... Não tenho essa pretensão, mas ninguém pode dizer que dessa água não beberei, né? Mas prefiro ficar do lado de cá.
"Tem que entender uma coisa: não se deve pessoalizar na vida e na política"
Por que as pessoas não devem deixar de ir à Gororoba que acontece neste sábado?
JC: Eu sou suspeito para falar, mas gostaria muito que as pessoas fossem à Gororoba. Acho que é um momento de confraternização, de mostrar para todos, como já comentei, que políticos são adversários, não inimigos. Político é reflexo da sociedade. Infelizmente, vivemos em uma sociedade individualista, e isso reflete no político. Se temos maus políticos, é porque a sociedade está doente. Por isso, precisamos de muito investimento em educação. [A Gororoba é social-democrata?] Lá na Choupana acabam acontecendo encontros inusitados entre contrários — e muitos, inclusive, têm que tirar fotos uns dos outros. Tipo assim: um da esquerda tira a foto pra direita... [Qual é a frase do pai Atanásio para a Gororoba?] Não posso falar pelo pai Atanásio, porque ele não está aqui. A Gororoba procura ser democrática, não ideológica, tenta abarcar todos os diferentes. A ex-vereadora Dulce disse uma vez: “Tu devias fazer um evento com menos pessoas...”. Eu respondi: “Não, é bom assim. Tu levanta para pegar a comida e, quando volta, teu adversário está sentado na tua cadeira”. Ela ficou um pouco brava. [Quem é o teu vice, JC?] Eu tinha falado com o ex-prefeito Jandir Bellini, uma pessoa bem quista, querida por todos. Disse que até abriria mão da minha candidatura para ser vice dele. Mas ele respondeu que quer ver meu plano de governo. [Já garantiu o voto dele?] Já garanti. Ele vai estar na Gororoba.