Chamou atenção do público dezenas de policiais militares fardados na fila do cinema do Villa Romana Shopping, de Floripa, na noite do dia 21 de setembro. Todos estavam ali para assistir à estreia do filme “Som de Liberdade”. A ação, segundo o comando da PM de Santa Catarina, fazia parte de uma atividade extracurricular do Curso de Formação de Sargento (CFS) em parceria com o programa SOS Desaparecidos e o empreendimento.

Houve questionamentos nas redes sociais sobre a legitimidade da ação, já que os PMs estavam de farda no cinema. “E pode policial militar ir fardado assistir filme no cinema? Era horário ...

Houve questionamentos nas redes sociais sobre a legitimidade da ação, já que os PMs estavam de farda no cinema. “E pode policial militar ir fardado assistir filme no cinema? Era horário de expediente lá em Santa Catarina? Isso aqui é um descalabro”, comentou no X, antigo Twitter, o influenciador William De Lucca, que mora em São Paulo. Ele postou um vídeo de uma policial falando entusiasmada sobre a ação no cinema.

Segundo o comando da PM de Santa Catarina, os PMs da Escola Superior de Formação e Aperfeiçoamento de Praças (ESFAP) participaram da atividade extracurricular indo à estreia do filme. Algumas cortesias de ingressos foram sorteadas entre os alunos-sargentos e os outros participantes do curso de formação compraram os ingressos a preços promocionais.

“Por meio de uma ação conjunta com o SOS Desaparecidos, o objetivo foi proporcionar aos alunos do Curso de Formação de Sargentos (CFS) a estreia do filme ‘Som da Liberdade’, o qual aborda a temática de tráfico de pessoas. O SOS Desaparecidos da PMSC atua em casos de desaparecimento de pessoas e casos envolvendo crimes como tráfico de adultos e crianças e adoções ilegais, abuso infantil e desaparecimento de pessoas e traz à tona um assunto delicado, porém extremamente importante, que merece ser lembrado e discutido pela sociedade”, informou a corporação.

Ainda segundo a PM, a Academia de PM da Trindade, que possui o curso de formação de sargentos em andamento, trata de disciplinas sobre direitos humanos, atendimento de ocorrências envolvendo crimes contra menores e ocorrências envolvendo pessoas desaparecidas.

O filme

O filme Som da Liberdade, que foi um sucesso de bilheteria nos Estados Unidos e criticado por boa parte da imprensa internacional, é da produtora cristã Angel Studios. Ele se mantém na liderança das bilheterias brasileiras pela segunda semana consecutiva.

A produção tem direção do mexicano Alejandro Monteverde. Segundo a sinopse, o filme conta a história real de Tim Ballard, um ex-agente federal que embarca em uma perigosa missão na Colômbia para salvar uma menina dos cruéis traficantes de crianças. “Com o tempo se esgotando, ele viaja pelas profundezas da selva colombiana, colocando sua vida em risco para libertá-la, e depois se envolve em uma longa caçada para salvar outras crianças”, descreve o resumo do filme.

Polêmicas da película

Uma das polêmicas do filme é que a história foi aumentada. Como no momento em que o protagonista, um herói americano, bonito e loiro, entra em uma ilha cheia de homens armados para resgatar uma das crianças e sai ileso de lá. O agente especial dos EUA de fato salvou a criança de seus algozes, mas os roteiristas “florearam” bastante o filme, incomodando o público, alega a crítica do Canal Tech.

Já a outra polêmica é sobre a possível relação do filme com a QAnon, teoria da conspiração elaborada pela extrema-direita que alega haver uma seita criada por adoradores de Satanás, pedófilos e canibais, que comandam uma rede de tráfico infantil para extrair hormônio que é produzido por meio da tortura de crianças.

Essa teoria foi criada em 2017, alegando que esses pedófilos trabalhariam para o governo dos Estados Unidos. Os apoiadores foram responsáveis pelo Ataque ao Capitólio em 2021, e acreditam existir uma rede de tráfico sexual de crianças que conspirou contra Donald Trump. O filme não cita a QAnon, mas a alegação da crítica é de que ele propaga ideias de conspiração, prestando um desserviço à verdadeira rede de proteção de tráfico humano.

O diretor rebateu as críticas em uma entrevista ao UOL dizendo que “houve ataques e também houve quem nos defendeu. O que posso dizer é que os números de pessoas em situação de escravidão não mentem e, em 2015, quando comecei a escrever o filme, essa teoria da conspiração nem existia”, pontuou.

Pro canal especializado em cinema, o Adoro Cinema, o filme se beneficiou da polêmica para estourar as bilheterias.