Matérias | Entrevistão


Benjamim Teixeira

"O profissional mais bem capacitado que tem que ter é o cara que vai para o mar, porque ele é entregue à própria sorte”

Coordenador do Centro Nacional de Pesquisas do Mar e professor do Instituto Federal de Santa Catarina

Franciele Marcon [fran@diarinho.com.br]

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O professor Benjamim Teixeira ajudou a formar mais de mil pescadores no curso de Pescador Profissional do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC). O campus de Itajaí mantém uma parceria com a Marinha do Brasil para capacitar os profissionais para adversidades que podem enfrentar em alto-mar. Na semana passada, Benjamim ficou emocionado ao receber o agradecimento do pescador Djalma dos Santos Silva, um dos tripulantes do pesqueiro Safadi Seif que naufragou na costa catarinense. Djalma agradeceu pelos ensinamentos recebidos que o ajudaram a salvar a sua vida e a de outros tripulantes. Benjamim analisou o naufrágio e falou com a jornalista Fran Marcon sobre a importância dos profissionais saberem usar corretamente os equipamentos de segurança. Ele também comentou sobre o alerta de ciclone e ainda explicou que são raríssimas as chances de encontrar os dois pescadores desaparecidos com vida.


As imagens são de Fabrício Pitella. O conteúdo, em áudio e vídeo, você confere no Portal DIARINHO.net e nas nossas redes sociais.

 

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DIARINHO - Uma das primeiras atitudes do sobrevivente Djalma dos Santos foi agradecer aos professores do IFSC pelos conhecimentos técnicos que os salvaram na tragédia. Que ensinamentos são esses?


Benjamim: O Djalma, primeiramente, é um amigo. Essa é uma grande vantagem de ser professor de pescador. A cada turma que se forma nós ganhamos uma turma de formandos e de amigos. São trabalhadores, muitas vezes sofridos, humildes e muito amigos mesmo. O Djalma é um desses alunos que passaram lá; deixou a marca dele. O Instituto Federal é creditado pela Marinha do Brasil para ministrar esses cursos. Apenas o campus Itajaí tem essa autorização no estado inteiro, e é um dos poucos no Brasil. Isso porque tem uma infraestrutura, um corpo técnico formado para atender essas demandas. Nos cursos a gente não ensina a pescar. Ele vai lá, principalmente, para aprender conteúdos sobre o que a gente chama de “salvaguarda da vida humana no mar”: primeiros socorros, combate a incêndio e salvatagem, que foi diretamente o que salvou a vida dessas pessoas. Navegação, segurança. A gente fala de pesca, mas para eles saberem os direitos e deveres do pescador, as diferentes modalidades e ter um entendimento de defeso, de ter uma pescaria mais sustentável.

 


Quando você tá bem preparado, o estado de pânico diminuiu”

 

DIARINHO –  Essa formação é gratuita? Como os pescadores podem participar?

Benjamim: A gente está no maior polo pesqueiro do Oceano Atlântico Sul e o maior do Brasil. Não é à toa que somos conhecidos como peixeiros. A gente tem que bater no peito, somos peixeiros mesmo, com muito orgulho. A função como governo é capacitar esses trabalhadores da melhor forma possível, porque o que a gente quer, Instituto Federal e Marinha do Brasil, é que eles saiam para o mar e voltem com segurança, com dinheiro que eles trabalharam e ganharam. [Quais são os cursos que vocês ministram?] São cursos de pescador profissional, conhecidos como POP, nível I e nível II. Para alunos com baixa escolaridade, basta ser alfabetizado, a gente oferece um curso de 11 dias que chama POP nível I. Para os que têm acima da sexta série, a gente faz o POP nível II, é um curso de um mês. Para os que têm o ensino fundamental completo e que almejam um dia ser comandante de um barco de pesca, o curso é o Pescador Profissional Especializado, conhecido como PEP, que é um curso bem completo, de três meses. Esse curso de PEP está com inscrições abertas no momento. Ele vai começar em agosto e vai até novembro. Os três cursos são muito práticos. O Djalma relata como foram importantes as aulas, não só as teóricas como as práticas, porque o cérebro dele gravou o passo a passo. Onde que ele fez? Lá na Armação, em Penha, que é uma baía protegida, que nós usamos como sala de aula, nossa terceira sala de aula. Nossa segunda sala de aula é o Barco Escola e a terceira é o trapiche da Armação. Lá jogamos a balsa salva-vidas, e é lá que eles aprendem a abandonar a embarcação, se precisar, saltando. Lá que eles aprendem a virar uma balsa se acontecer igual aconteceu agora, dela inflar de cabeça para baixo.

 


A balsa salva-vidas é um lugar que ninguém quer ir. Mas se precisar, tem que saber usar”

 

DIARINHO - Pelos relatos dos pescadores, três tripulantes se jogaram no mar assim que o barco começou a naufragar. Dois desses homens desapareceram. A instrução é esperar o momento certo pra abandonar o barco que ameaça afundar. Que momento é esse?

Benjamim: Essa é uma pergunta que pode ter várias respostas. Vou citar dois rápidos exemplos. Pode acontecer um naufrágio numa condição de tempo bom, que o mar tá igual uma piscina. Ele vai demorar 20, 30 minutos, para afundar. Nesse tempo, dá tempo de fazer tudo. Vestir o colete, bem tranquilo; ajudar os colegas, jogar a balsa, inflar, entrar sem se molhar na água. Isso é muito importante: não se molhar. Se possível, numa condição dessa, buscar uma, duas garrafas de água e levar junto. A balsa salva-vidas é um lugar que ninguém quer ir. A gente espera nunca usar. Mas se precisar, tem que saber como usar. Ela vai ter suprimentos que a gente chama de rações, líquidas e sólidas, para uma semana. Passou daquilo, os tripulantes, que agora estão na balsa, são náufragos, vão ter que beber água de chuva, pescar. Racionalizar o uso dessas rações é muito importante. Segundo episódio, que é o mais comum de acontecer em naufrágio, e aconteceu no último final de semana: tempo ruim, normalmente à noite, muito vento e onda. A maior parte dos naufrágios acontece assim. Não dá tempo de fazer muita coisa. Nós temos que estar preparados para vestir um colete no escuro, para pular na água e conseguir nadar até a balsa. Conseguir rebocar um colega ferido, colocar ele dentro da balsa. Isso se ensina nos cursos. O que aconteceu com o Djalma foi essa situação. Vento, à noite, o barco virou, não deu tempo de jogar a balsa. Eles foram muito perspicazes, porque esperaram a balsa boiar. Só que ela não boiou inflada. Por quê? Porque ela só boia inflada se o barco afundar e nos três metros de profundidade tem um dispositivo que lança a balsa sozinha. O barco afunda de uma vez, a balsa sobe. É assim que funciona. No caso deles, como o barco ficou boiando de cabeça para baixo, a balsa boiou, mas eles que acionaram. Ela inflou de cabeça para baixo. Eu não consigo entrar na balsa de cabeça para baixo. Não consigo desvirar uma balsa se eu não souber a técnica. Uma única pessoa desvira uma balsa com capacidade para 25 pessoas, mas eu não consigo, contra o vento, desvirar. Tem as técnicas corretas para eu não ficar preso embaixo dela. Isso o Djalma aprendeu. O treinamento faz com que a pessoa, num momento desse, fique um pouco mais tranquila. E, talvez, não tô falando que seja, o inquérito da Marinha dirá, pode ser que quem pulou na água sem colete talvez não tivesse o treinamento adequado ou ficou muito nervoso. Porque é um tripé: conhecimento, treinamento e a ferramenta. A ferramenta, a Marinha exige, todos os barcos têm. É a balsa, o colete, a boia. Conhecimento a gente tem nas aulas teóricas e o treinamento nas aulas práticas. Quando a gente faz isso com uma certa frequência, facilita para num caso de um sinistro se salvar. [Por que o barco é o lugar mais seguro?] O barco sempre vai ser o lugar mais seguro. O barco meio queimado, o barco meio afundado, o barco meio explodido, ele sempre vai ser o melhor lugar. Por que? Eu vou ter roupa, água, comida. O barco tem uma superfície grande que, na hora do resgate, é mais fácil de localizar. O barco tem mastreação, ferro, isso facilita o radar achar. A balsa salva-vidas é toda de plástico. Tem uma refletor de radar pequenininho. A gente só abandona o barco na água quando não tem mais jeito. E foi o que esses cinco que sobreviveram, e foram resgatados primeiro, fizeram. Eles fizeram o que os treinamentos e os ensinamentos internacionais mandam.

 


“O barco sempre vai ser o lugar mais seguro”

 

DIARINHO - Passados quase uma semana do acidente, há alguma chance desses dois trabalhadores serem encontrados ainda com vida?

Benjamim: Cada minuto que passa vai tornando a chance de encontrá-los vivos menor. A gente perde calor muito rápido. Isso gera um estado de hipotermia. Eu considero o resgate desse último tripulante, o Deivid, um verdadeiro milagre. É muita vontade de viver. E ele tinha, provavelmente, um porte físico que possibilitou fazer isso. Não é qualquer ser humano que naquela situação sobreviveria. Talvez os outros dois não tivessem o condicionamento que ele tinha. A gente não pode perder a esperança.

DIARINHO - A balsa usada por cinco tripulantes conseguiria  transportar com segurança todos os oito homens a bordo?  Como avaliar se a embarcação estava corretamente equipada? Há um número definido de equipamentos de segurança pro tipo de embarcação?

Benjamim: O que é cobrado é que o número de locais dentro da balsa seja, no mínimo, igual ao número de tripulantes. No Cartão de Tripulação de Segurança tinha oito pessoas. Tem que ter, no mínimo, uma balsa com capacidade para oito pessoas. No que compete aos equipamentos de salvatagem, as embarcações passam por vistoria. A Marinha é bastante rígida. As mesmas ferramentas que um navio nos Estados Unidos, na Europa tem, os nossos barcos têm. São muito bem equipados. O que a gente tem que trabalhar melhor é capacitar bem esse pessoal que vai para o mar, para que eles consigam usar de forma adequada as ferramentas. De uma forma geral, quanto mais capacitado eu sou, eu consigo reagir melhor num sinistro. Agora, se o meu treinamento foi feito há muito tempo ou não foi feito de forma adequada, ou se eu não tive o treinamento, no meio de um ciclone, em alto-mar, com onda, com frio, com vento, qualquer um de nós ia entrar em desespero e não ia conseguir vestir o colete mesmo. [Como que ele sobreviveu sem colete?] Pelo que os vídeos mostram, ele se segurou em partes da embarcação, apetrechos de pesca, boias usadas na pescaria. Se segurou ali, a boia boiou e ele boiou junto. São os relatos. [Eles se afastaram por conta dos ventos?] A balsa de borracha, flutuando, se afasta do barco numa certa velocidade. O outro rapaz que ficou segurando a boia, a velocidade dele é diferente. No mar, muito rapidamente a gente se afasta desse ponto do naufrágio. Por isso, cada minuto que passa é mais difícil encontrar. É uma agulha num palheiro. O oceano é uma imensidão. E tem um agravante: ninguém sabia ao certo onde estavam quando o barco naufragou. As primeiras notícias era de que estavam a 40 km da costa de Garopaba, depois 160 km de Florianópolis. Isso dificulta muito o trabalho de resgate.

 

“O pescador tem que passar pela formação. Ele tem o direito de ser capacitado; a capacitação vai salvar a vida dele”

 

DIARINHO - Havia um alerta sobre a passagem de um ciclone na noite do naufrágio. A embarcação, contudo, seguia na direção de alto-mar. De quem é essa decisão de manter a pescaria ou voltar pra terra em caso de tempestades? Do dono do barco ou do mestre?

Benjamim: Essa é uma pergunta complexa. Normalmente, a autoridade da embarcação é o mestre do barco. Ele que comanda, que decide. O dono do barco normalmente não opina muito sobre isso. [Era seguro uma embarcação daquele porte sair para navegação naquela tempestade?] Com toda certeza, não. A Marinha do Brasil, que é a autoridade marítima, emitiu alertas aos navegantes. As condições meteorológicas não estavam favoráveis. Foi divulgado na mídia, em jornais, inclusive de rede nacional, que não era seguro a navegação de pequenas e médias embarcações. Todos os barcos de pesca, industriais, eles têm hoje excelentes programas de previsão do tempo. Eles têm informação. Não era seguro sair. Vários que eu conheço ficaram esperando o domingo, a segunda, para poder sair.

DIARINHO - Muitos pescadores que trabalham aqui na região são do Norte ou Nordeste do Brasil. No caso de Deivid, ele tinha chegado há um mês, fazia a primeira viagem pra alto-mar e morava no barco. Isso é comum? Quem fiscaliza os direitos trabalhistas e a segurança do  trabalhador do mar?

Benjamim: Itajaí é uma cidade que recebe todo mundo de braços abertos. Eu mesmo sou mineiro, vim para cá em 99, e hoje sou um peixeiro. Se ele veio para cá é porque aqui é melhor do que onde estava. Isso é muito legal. E são pessoas que normalmente tem uma experiência de mar muito grande na terra deles. O pai era pescador, o avô era pescador. São profissionais, guerreiros do mar que tem sal na veia. Não tem problema nenhum, eles passando pelo curso. A Marinha do Brasil cobra o curso de formação de aquaviário, que é o de Pescador Profissional ou Pescador Profissional Especializado. Independente do lugar que ele seja, ele tendo o curso, ele pode embarcar em qualquer barco de pesca em território nacional. Um barco de pesca é uma embarcação profissional. Todo profissional que está ali dentro tem que ser capacitado.

 

“Tem que cobrar pesquisa do governo para que os pescadores tenham direito o quanto antes de poder pescar a tainha – que é um bem nosso”

 

DIARINHO - O senhor é o responsável pelo Barco Escola do IFSC. Qual a função do barco?

Benjamim: Quando a Marinha nos creditou para ministrar os cursos, o professor Rodrigo, nosso professor no IFSC, falou numa reunião: “Nós damos o curso e a Marinha dá a carteira.” É como se nós fôssemos uma autoescola e a Marinha o Detran. O curso é oferecido pelo Instituto e a carteira é retirada na Marinha do Brasil. Então, como nós somos uma autoescola se a gente não tem um carro para o cara treinar? A gente lutou, foi um sonho de  muitos que se tornou realidade: a construção e a vinda do Barco Escola “Aprendendo com o mar”. O mar é o nosso professor. Esse barco serve para ministrar as aulas práticas a bordo, porque dar aula pro pescador é diferente da universidade. O pescador é muito da prática, do lúdico. Muitas aulas práticas e avaliações, a gente faz a bordo do barco escola. [...] O pescador tem que passar pela formação. Ele tem o direito de ser capacitado. Porque essa capacitação vai salvar a vida dele. Eu vou falar mais uma vez pros pescadores: a gente não ensina a pescar. A gente vai ensinar noções que vão salvar as suas vidas. Lá fora, a 50 km, 200 km, 300 km da costa, não tem Samu, não tem oficina mecânica, não tem farmácia, não tem nada! O profissional mais bem capacitado que tem que ter é o cara que vai para o mar. Porque ele é entregue à própria sorte. Se um se machucar, o primeiro socorro, eles mesmo têm que fazer. O motor quebrou, tem que safar para chegar em terra. A gente fala que educação salva vidas. O melhor exemplo está no caso do Djalma.

DIARINHO - O setor pesqueiro se ressentiu pela proibição da safra industrial da tainha em 2023. A indústria diz que não há base técnica pra proibição que alega um  baixo estoque. Qual a sua avaliação?

Benjamim: Qualquer coisa que eu falar aqui alguém não vai gostar. Qual a grande falha do Brasil como governo, seja de direita ou esquerda? É a estatística pesqueira. A gente tem que saber o que pesca, quando pesca e onde pesca. Com dados históricos, a gente consegue fazer uma avaliação do tamanho do estoque. Quando eu sei o estoque, sei quanto eu posso tirar sem prejudicar as gerações futuras da espécie. [O governo estipulou cota zero para os industriais. Condiz com a realidade?] Acredito que não. Eu acredito que sempre tem um pedaço do estoque que pode ser retirado. A tainha é um estoque migratório, que a gente pesca na época da reprodução. Tudo na época da reprodução a gente para de pescar, o camarão tem o defeso, a anchova, mas a tainha é diferente. A tainha se libera para pescar quando ela está reproduzindo. Tem que ter um controle. O problema é que hoje, como não tem uma base histórica de dados, não se sabe quanto a gente pode tirar desse estoque. Tem que cobrar pesquisa do governo para que os pescadores tenham direito o quanto antes de poder pescar a tainha – que é um bem nosso.

 

“A pessoa sabe, quando se propõe a fazer uma viagem dessa [submarino Titan], que é algo arriscado e que tem uma chance de não voltar”

 

DIARINHO - A notícia da apreensão de quase 30 toneladas de barbatanas de tubarão na nossa região chocou pela crueldade. Supostamente 10 mil peixes com risco de extinção foram mortos pra que as nadadeiras fossem arrancadas e exportadas pra Ásia. Essa pesca predatória é realidade em nossa região?

Benjamim: A gente está fazendo um grande estardalhaço em cima de uma coisa que não deveria. A pesca de espinhel, que foi essa pesca que aconteceu o naufrágio, é direcionada a espadarte, que conhecemos como meca, atum e que captura também tubarões, porque os tubarões vivem no mesmo ambiente que esses peixes. A gente come tubarão no Brasil como cação. Tem uma brincadeira: “quando ele come a gente, é tubarão, quando a gente come ele, é cação”. A carne do cação é consumida, não é proibida, tem no mercado, pode-se pescar. Algumas espécies não pode. Essas espécies que não pode o pessoal solta quando vem no espinhel. Tem uma espécie, o anequim, que tem um mês que foi proibida. Eu não vi, não sei qual empresa que é, mas essas barbatanas que estão lá, têm grande chance de terem sido pescadas quando podia-se pescar a espécie. Está guardada em estoque. Não se pesca tudo e exporta. Isso é juntado e é exportado depois, aos poucos. No Brasil não se faz “finning”. Finning  é uma técnica que eu pego o tubarão, tiro as nadadeiras e solto ele vivo para morrer. Isso é feito em outros países, porque a barbatana vale muito no mercado asiático. No Brasil isso não é feito porque a carne de tubarão vale muito dinheiro no Brasil. A gente come, a gente enche a barriga das pessoas, isso gera renda. O que precisamos, novamente, é regular o estoque.

DIARINHO - Outra notícia que chocou o mundo foi o desaparecimento de um “submarino” que vendia passeios para o avistamento do Titanic. Como técnico, o que o senhor acha que pode ter acontecido de errado no passeio que cobrou mais de R$ 1 milhão de cada passageiro que morreu no fundo do mar?

Benjamim: As empresas que constroem submarinos já tinham alertado que aquilo ali era muito perigoso. O local que o Titanic naufragou fica no meio do Oceano Atlântico. Aquela história que eu falei: não tem Samu, não tem nada. A gente conhece menos a superfície do fundo do mar, a superfície abissal, que é onde o Titanic está, do que a superfície da lua. Essas pessoas foram para um lugar gelado, porque a temperatura lá embaixo é em torno de 4ºC, muito frio, e um lugar que chamamos de “zona da meia-noite”. Lá não tem luz nunca. É uma escuridão total! Eu, como oceanógrafo, preferia ter ido a um resort, curtir com minha família, em um país tropical, do que fazer, de certa forma, uma maluquice dessa. A pessoa sabe, quando se propõe a fazer uma viagem dessa, que é algo arriscado e que tem uma chance de não voltar.

 

 

Raio X

 

NOME: Benjamim Teixeira

NATURAL: Araçuaí (MG)

IDADE: 42 anos

ESTADO CIVIL: casado

FILHOS: uma

FORMAÇÃO: graduado em Oceanografia pela Univali, com Mestrado e Doutorado em Aquicultura pela Universidade Federal de Santa Catarina

TRAJETÓRIA PROFISSIONAL: embarcou para alto-mar pela primeira vez em 1999 aos 19 anos em um pesqueiro de atum. Professor do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC), onde já ajudou a formar mais de mil pescadores profissionais. Também é coordenador do Centro Nacional de Pesquisas do Mar (CNPmar).




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