CRIMES DA DITADURA

Entidades vão levar a Lula proposta de Comissão Indígena da Verdade de crimes da ditadura

Movimento quer apuração de crimes da ditadura; ao menos 8 mil indígenas foram mortos direta ou indiretamente pelo estado

Leopoldo Silva/ Agência Senado
Leopoldo Silva/ Agência Senado

Por Rafael Oliveira | Edição: Bruno Fonseca

O pleito por uma Comissão Nacional Indígena da Verdade (CNIV), dedicada a investigar os crimes da ditadura de 1964 contra os povos originários, vai avançar mais uma casa no próximo dia 21 de outubro. É nessa data que será entregue, a autoridades do governo brasileiro, uma proposta para regular a criação e o funcionamento do organismo, previsto nas recomendações da Comissão Nacional da Verdade (CNV) de 2014, mas até hoje não concretizado.

Continua depois da publicidade

A proposta que será entregue é uma minuta, isto é, não tem poder de lei. Na prática, ela funciona como uma sugestão que pode ser aceita ou não pelo Governo Lula. É ao governo federal que caberá dar o próximo passo, analisando o documento e formulando um projeto de lei, que será depois avaliado pelo Congresso, como ocorreu com a CNV, ou apresentando um decreto.

Segundo a própria Comissão da Verdade de 2014, em seu caderno temático dedicado aos povos indígenas, ao menos 8.350 foram mortos por ação direta ou por inação de agentes do Estado – quase 20 vezes mais do que os considerados mortos e desaparecidos políticos não indígenas. O número, como reconheceu a Comissão, é uma estimativa muito reduzida, já que o organismo investigou apenas dez povos, enquanto o Brasil contabiliza mais de 300.

Além de assassinatos, os povos indígenas foram vítimas de remoções forçadas, tortura, perseguição, intimidação, cárcere privado, estupros e até sequestro de crianças, entre outras violações de direitos humanos que a futura CNIV viria a investigar. Para lideranças indígenas e especialistas, a falta de apuração e responsabilização em relação aos crimes da ditadura contra povos originários contribui para a continuidade de violações de direitos até hoje, incluindo a tese do Marco Temporal.

A proposta foi formulada pelas organizações indígenas e da sociedade civil que compõem o Fórum Povos Indígenas: Memória, Verdade e Justiça (Fórum JTPI), criado em setembro do ano passado justamente com o objetivo de dar tração à demanda, e que teve mais de 60 adesões. A entidade é encabeçada pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), pela 6ª Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal (MPF), pelo Instituto de Políticas Relacionais (IPR) e pelo Observatório de Direitos e Políticas Indígenas da Universidade de Brasília (Obind-UnB).

“O ponto a destacar na minuta é o protagonismo dos povos indígenas, tanto no processo de escolha dos casos que devem ser examinados, quanto na indicação de quem devem ser os membros da Comissão”, aponta um dos idealizadores do Fórum, o procurador da República Marlon Weichert. “Acho que é uma grande mudança, porque aqui nós não estamos falando de um processo de justiça de transição ‘sobre’ os povos indígenas, nós estamos falando de um processo de justiça de transição ‘de’ e ‘para’ os povos indígenas”, diz.

Por que isso importa?

  • A criação da Comissão Nacional Indígena da Verdade é uma forma de investigar e documentar as ações violentas do regime militar contra os povos originários, o que pode impactar políticas públicas atuais como as demarcações de terras e o Marco Temporal.
Notícia de 1970 do Correio da Manhã no qual a ditadura negava a existência de massacre de indígenas

Comissão Nacional Indígena da Verdade tem apoio de organismos internacionais

Ao longo deste ano, as entidades que compõem o Fórum promoveram sete seminários regionais com as organizações de base ligadas à Apib, levantando mais de 80 casos de povos que tiveram direitos violados. A ideia é que a metodologia de trabalho utilizada nos seminários seja aproveitada em uma futura Comissão.

Também receberam o apoio de organismos internacionais, como o do Relator Especial da ONU para a promoção da verdade, justiça, reparação e garantias de não recorrência. Parte dos avanços obtidos pela entidade foram relatados em uma carta divulgada nesta semana.

A minuta será entregue em uma cerimônia convocada pelo Fórum, que vai acontecer no Centro Cultural de Brasília no dia 21, terça-feira. Além do presidente Lula (PT), foram convidadas as ministras Sonia Guajajara (Povos Indígenas), Marina Silva (Meio Ambiente), Anielle Franco (Igualdade Racial), Macaé Evaristo (Direitos Humanos), o ministro Márcio Macêdo (Secretaria Geral da Presidência) e representantes do Procuradoria-Geral da República e do Ministério da Justiça, entre outras autoridades.

Continua depois da publicidade

“Até o momento, tudo o que nós pleiteamos para o atual governo não foi atendido. Foram muito poucas entregas no tema da demarcação, da proteção das terras indígenas e em colocar fim à criminalização e à violência contra os povos.. A nossa expectativa é que o Estado brasileiro dê essa resposta aos povos indígenas [com a criação da CNIV], para que o Brasil realmente seja uma sociedade plural, democrática, de direitos respeitados”, afirfma Paulino Montejo, assessor político da Apib e um dos idealizadores do Fórum.

“O Estado brasileiro tem uma dívida enorme com os povos indígenas e com a própria sociedade, que precisa conhecer essa história a partir do olhar dos povos originários e sobre o que tem sido a resistência e a sobrevivência dessas populações contra toda forma de violação de direitos humanos”, diz Weichert.



WhatsAPP DIARINHO


Conteúdo Patrocinado



Comentários:

Somente usuários cadastrados podem postar comentários.

Clique aqui para fazer o seu cadastro.

Se você já é cadastrado, faça login para comentar.


Envie seu recado

Através deste formuário, você pode entrar em contato com a redação do DIARINHO.

×






216.73.216.53


TV DIARINHO


🌎✈️ A MAIOR VENDA DO ANO! R$ 11,5 bilhões colocam o aeroporto de Navegantes no radar internacional. ...



Especiais

Gigantes das criptomoedas movimentaram bilhões ligados a fraudes, traficantes e hackers

CRIPTOMOEDAS

Gigantes das criptomoedas movimentaram bilhões ligados a fraudes, traficantes e hackers

Mudanças no texto não resolvem problemas do projeto, dizem especialistas

PL Antifacção

Mudanças no texto não resolvem problemas do projeto, dizem especialistas

Na sede da COP30, falta água e saneamento em bairros de maioria negra

Belém

Na sede da COP30, falta água e saneamento em bairros de maioria negra

Raoni desafia planos de Petrobras e Lula na COP30: “Não queremos petróleo na Amazônia”

EXPLORAÇÃO DE PETRÓLEO

Raoni desafia planos de Petrobras e Lula na COP30: “Não queremos petróleo na Amazônia”

Obras bilionárias da COP30 revelam contradições entre progresso e precarização em Belém

COP30

Obras bilionárias da COP30 revelam contradições entre progresso e precarização em Belém



Blogs

Já é Natal em Itajaí

Blog do Magru

Já é Natal em Itajaí

Pepitidios na estética

Blog da Ale Françoise

Pepitidios na estética

Mounjaro: inovação no emagrecimento e controle do diabetes – descubra se é para você 🫵🏻

Espaço Saúde

Mounjaro: inovação no emagrecimento e controle do diabetes – descubra se é para você 🫵🏻



Diz aí

"Se vocês forem no fórum, vocês não vão ver juízes negros"

Diz aí, Márcia

"Se vocês forem no fórum, vocês não vão ver juízes negros"

"A parceria com Santos acabou ficando pesada para nós"

Diz aí, João Paulo!

"A parceria com Santos acabou ficando pesada para nós"

"Você não pode ajudar quem já tem tudo, puxar o saco do poderoso - isso qualquer idiota faz"

Diz aí, Colombo

"Você não pode ajudar quem já tem tudo, puxar o saco do poderoso - isso qualquer idiota faz"

"O Metropol era o melhor time do estado. O Marcílio era o segundo"

Diz aí, Anacleto!

"O Metropol era o melhor time do estado. O Marcílio era o segundo"

"Tem que entregar. Ninguém está garantido nesse governo. Nem nós."

Diz aí, Rubens!

"Tem que entregar. Ninguém está garantido nesse governo. Nem nós."



Hoje nas bancas

Capa de hoje
Folheie o jornal aqui ❯






Jornal Diarinho ©2025 - Todos os direitos reservados.