CRIME DE ÓDIO
Polícia é acionada pra investigar e-mail que ameaça chacina
Mensagem tem conteúdo racista e ameaça ao evento focado na cultura haitiana
Franciele Marcon [fran@diarinho.com.br]
Uma ameaça anônima foi feita à 1ª Mostra Haiti de Cultura, que começou na noite desta quarta-feira no Centro de Artes e Esportes Unificados (CEU), no bairro São Vicente, em Itajaí, para celebrar a comunidade haitiana de Itajaí e região.
“Cancelem a Mostra Haiti ou faremos uma chacina em Itajaí”, diz o assunto da mensagem eletrônica enviada à uma repórter de um portal de notícias e que foi enviada à prefeitura pelo grupo de comunicação, já que continha também ameaças à organizadora da Mostra e à representantes da prefeitura de Itajaí.
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As ameaças aconteceram após a prisão de oito membros de uma célula neonazista durante um encontro no município de São Pedro de Alcântara na última segunda-feira. Os oitos envolvidos com fascismo e neonazismo tiveram a prisão preventiva decretada pela justiça catarinense.
“Prender nossos camaradas em São Pedro de Alcântara foi um erro. Nada nem ninguém vai nos parar até a vitória final! Exigimos o cancelamento da tal Mostra Haiti de Cultura na cidade de Itajaí, exigimos também a expulsão de todos os haitianos de Santa Catarina, e exigimos também a libertação e a anistia para nossos oito camaradas presos na 2ª feira dia 14 em São Pedro da Alcântara pelos porcos da polícia civil”, ameaçou o e-mail.
“Santa Catarina é terra de brancos e para brancos e não vamos permitir exposição de cultura de negros, o lugar desses negros nojentos, dos índios fedorentos, dos nordestinos cabeças chatas, dos ratos judeus e da escória LGBT é longe de nossa terra europeia, limparemos nossa terra desses Untermenschen. Somos defensores da pureza de nossa raça...”, completa o e-mail.
A mensagem eletrônica ainda faz ameaças à organizadora da mostra, Andréa Müller, ao prefeito Volnei Morastoni (MDB), ao prefeito em exercício, Marcelo Sodré (PDT), e à Polícia Civil.
O e-mail fala que eles serão “tratados como traidores, o deles está guardado, desafiamos os porcos policiais a vir nos buscar, temos uma surpresa para vocês. Total apoio aos caminhoneiros e fazendeiros que bloqueiam estradas contra a posse do molusco Luladrão, não permitiremos que esse lixo racial ocupe a cadeira de presidente (...). Este será o primeiro ato para a purificação racial do Reich Catarinense. Outros atos virão”, diz a mensagem, que é finalizada com uma saudação nazista.
Ao receber o e-mail, o procurador-geral de Itajaí, Gaspar Laus, teve uma reunião com o prefeito em exercício Marcelo Sodré, a Secretaria de Comunicação e a Fundação Cultural. “A jornalista ameaçada já registrou um boletim de ocorrência. Também orientamos a produtora da mostra a registrar um BO. Já foi solicitado reforço policial para todo o evento”, informou o procurado.
O e-mail também foi encaminhado ao Ministério Público e à Delegacia de Crimes Cibernéticos da Polícia Civil para que sejam rastreados os autores da mensagem. Gaspar opina que todo o cuidado é necessário, porque o e-mail pode ser uma brincadeira de mau gosto como também pode ser o aviso de ação que poderá ser concretizada.
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Mostra faz parte das políticas de inclusão social e racial de Itajaí
Normélio Weber, superintendente da Fundação Cultural de Itajaí, reforçou que a função da prefeitura e da fundação é fazer política pública de inclusão social e racial. A 1ª Mostra Haiti de Cultura faz parte deste projeto.
Ao saber da mensagem, todo o aparato de segurança foi acionado para garantir a realização da mostra. “Comunicamos toda a segurança da prefeitura, a Procuradoria do município, a Polícia Civil, a promotoria pública, a Secretaria de Segurança de Itajaí, a Guarda Armada... Haverá segurança para as pessoas durante o evento. Importante o evento acontecer porque não podemos abrir mão desta política pública”, disse.
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O superintendente acredita que grupos neonazistas estão se sentindo fortalecidos em Santa Catarina por conta das manifestações de rua em frente aos prédios das Forças Armadas. “Como em Santa Catarina tem toda uma onda, um perfil ideológico muito próximo do autoritarismo, eles se sentem fortalecidos e acabam achando que podem fazer tudo. Nossas forças de segurança estão muito coniventes com essa história toda e eles estão se sentindo liberados para atitudes extremas. Extremismo é fruto de momentos em que a sociedade fica adoecida”, afirma Normélio.
Franciele Marcon
Fran Marcon; formada em Jornalismo pela Univali com MBA em Gestão Editorial. Escreve sobre assuntos de Geral, Polícia, Política e é responsável pelas entrevistas do "Diz aí!"
