Santa Catarina
MP deu prazo até quarta para que PM libere vias interditadas por protestos
Procurador Geral de justiça frisou que a ordem do STF deve ser cumprida em até 24 horas
Franciele Marcon [fran@diarinho.com.br]



O protesto com interdição de uma via, em frente à Marinha do Brasil, no centro de Itajaí, deve terminar até o fim da noite desta quarta-feira, se for obedecida a orientação do ministério Público de Santa Catarina à polícia Militar.
O procurador geral de justiça, Fernando da Silva Comin, enviou um ofício na noite de segunda-feira para o comando geral da Polícia Militar requerendo que sejam cumpridas as ordens judiciais para a desobstrução de todas as vias públicas bloqueadas por manifestantes.
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O MP deu prazo de 24h, a contar desta terça-feira, para que a polícia tome as providências necessárias para o cumprimento integral da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que determina a desobstrução das vias públicas em todo o país, ou para que apresente uma justificativa fundamentada para deixar de seguir a ordem.
O ofício integra o procedimento administrativo (PA) instaurado pela Procuradoria-Geral de Justiça para acompanhar o cumprimento das ordens judiciais em Santa Catarina.
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Fernando Comin esteve em Brasília na terça-feira reunido com procuradores de outros estados do Brasil onde os bloqueios persistem e o presidente do TSE, Alexandre de Moraes. O grupo também comanda investigações sobre organizadores e financiadores das manifestações que contestam o resultado das eleições.
No ofício, o procurador Fernando da Silva Comin, reitera que o MP permanece à disposição da PM para a discussão de eventuais medidas para a desobstrução das vias públicas.
O MP também criou um gabinete de crise que inclui todos os coordenadores regionais do Gaeco para atuar de forma integrada para investigar atos antidemocráticos que acusam o sistema eleitoral de fraude. O resultado da eleição já foi reconhecido como legítimo por todos os poderes da República.
A Polícia Militar de Santa Catarina informou que irá se manifestar diretamente ao MPSC “respeitando o relacionamento institucional”.
Manifestantes pedem Forças Armadas no poder

Cecília diz que luta contra o comunismo
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Desde a madrugada de 3 de novembro, um grupo de manifestantes ocupa a área em frente à sede da Marinha do Brasil e o entorno do Mercado Público de Itajaí. A maioria se define como “cidadão de bem, contra a corrupção e 'arbitrariedades' do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF)”. Outra grande unanimidade do grupo é a afirmação de que pretendem “impedir a implantação do comunismo”.
Os manifestantes também instalaram faixas com as frases “SOS Forças Armadas. Resistência Civil”, “SOS Forças Armadas” e “Militares, estabeleçam a credibilidade da democracia do Brasil”. O carro de som que fica parado junto aos manifestantes, e que volta e meia circula pela cidade convocando mais pessoas ao protesto, carrega a faixa: “Supremo é o povo!”.
A reportagem do DIARINHO esteve no local na tarde de terça-feira e encontrou pessoas de todas as idades vestidas de verde e amarelo. Várias tendas servem de apoio aos manifestantes, alguns que passam a noite no local. O trecho da avenida Prefeito Paulo Bauer [atrás do mercado público] está interditada para o acesso de veículos.
A aposentada Cecília Freitas, 75 anos, se desloca diariamente de Balneário Camboriú para fazer corpo ao protesto em Itajaí. Ela, assim como cerca de outras 10 pessoas que estavam sentadas na mesma tenda afirmam não querer que o comunismo seja implantado no país. Também não deseja que o país vire “uma Cuba”, “uma Venezuela”.
Cecília acredita que o presidente do TSE, o ministro do STF Alexandre de Moraes, seria o responsável pelo que chama de “falta de transparência nas eleições”. Cecília afirma que em 1964 [quando houve um golpe militar no Brasil] ela já “lutou contra o comunismo”. Cecília acredita que não houve ditadura militar no Brasil e alega que agora está de novo nas ruas para “proteger o país”. “Esse movimento não tem partido. Só não queremos o comunismo. Precisamos das Forças Armadas, que eles tomem conta do país”, afirma.
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A fala de Cecília é apoiada pelo contador Júnior, de 52 anos, que não quis informar o nome completo. Ele disse que veio de Curitiba (PR) para acompanhar o movimento em Itajaí. “O estado não pode ser o Deus do comunismo”, disse.
Outro manifestante alegou que o movimento “está lutando por vocês, seus filhos, seus netos. O Brasil está de luto, ou a coisa funciona ou a gente está morto. O comunismo vai se instalar no nosso país!”.
O homem ainda diz que, como “brasileiro, como pai de família não quer ver sua filha de 11 anos dividir um banheiro com gente adulta".
Um grupo de idosos rezava a oração Ave-Maria em frente da imagem de Nossa Senhora Aparecida. Alguns dos participantes estavam de joelhos na tarde desta terça-feira.
Redes sociais
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As redes sociais têm sido a plataforma de divulgação do movimento. No domingo, o morador de Itajaí, Francisco, de 98 anos, esteve na manifestação acompanhado da esposa. A foto nas redes sociais viralizou. “Seu Francisco, 98 anos, está aqui conosco e tantos outros brasileiros. E você aí na sua casa? Vem pra Marinha”, dizia o post do Tik Tok.
Vendas de bandeiras
A movimentação também atraiu comércio ambulante para o local. No entorno do Mercado Público há vários vendedores de bandeiras do Brasil. Um deles oferece o produto com custo de R$ 15 a R$ 100 - dependendo o tamanho . “Não sei porque estão fazendo manifestação, mas para mim está bom”, conta o homem, que já vendeu cerca de 100 bandeiras só nesta semana. Os manifestantes ouvidos pelo DIARINHO garantiram que não têm prazo para sair de frente da sede da Marinha.
MPF deve investigar os atos, requer denúncia do PT

Avenida Paulo Bauer teve trecho interditado
O diretório municipal do PT de Itajaí protocolou uma denúncia no Ministério Público Federal (MPF) contra a manifestação no entorno do Mercado Público.
O PT requer que o MPF instaure investigação para identificar lideranças e financiadores do movimento e pede que sejam proibidos carros de som com propagação de notícias falsas sobre o processo eleitoral ou chamando para adesão ao protesto antidemocrático. “Apurando quais as lideranças e financiadores estão levando o povo para as ruas e incitando-os a prática criminosa contra a ordem democrática e constitucional; bem como sendo constatada a prática de crime e identificados seus responsáveis, que seja instaurado o devido processo legal e responsabilizados os envolvidos”, diz no documento o presidente do PT de Itajaí, Gerd Klotz.
No final de semana, o som do protesto estava tão alto que a programação cultural do Mercado Público foi cancelada porque os músicos não conseguiam se apresentar no local. A cantora Bárbara Damázio informou, através das redes sociais, sobre o cancelamento do show por falta de condições de se apresentar.
Os manifestantes, ainda segundo a denúncia do PT, atrapalham o fluxo do trânsito do ferry boat. O estacionamento do mercado público também foi prejudicado pela interdição da via.
Logo após a representação ter se tornado pública, Gerd diz que membros do PT de Itajaí começaram a receber ameaças pelas redes sociais. Um boletim de ocorrência já foi registrado na polícia. “Seremos implacáveis no combate aos fascistas, seus líderes e agentes políticos, que terão que responder na justiça pelos crimes que estão cometendo contra a democracia”, disse Gerd Klotz.