Diz aí, Beto Cunha!
"O maior valor agregado está no contêiner"
O vereador de Itajaí Beto Cunha (Republicanos), presidente da Comissão do Complexo Portuário, bateu um papo com a jornalista Fran Marcon e o colunista JC . Ele deu sua opinião sobre carga a granel, dragagem, falta de mobilidade e a vinda do presidente Lul
Franciele Marcon [fran@diarinho.com.br]
Qual a função da Comissão do Complexo Portuário da Câmara de Vereadores de Itajaí que o senhor preside?
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Beto: A função é acompanhar as tratativas, as mais polêmicas e as mais simples. Na outra gestão eu já era presidente e eles me convidaram novamente. A câmara de vereadores ...
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Beto: A função é acompanhar as tratativas, as mais polêmicas e as mais simples. Na outra gestão eu já era presidente e eles me convidaram novamente. A câmara de vereadores chegou a receber uma carta do Ministério dos Portos como a mais envolvida do Brasil no sistema portuário. Eu fiquei impressionado. A desestatização, a federalização, os assuntos mais polêmicos que envolvem o porto, nós estamos tratando e buscando soluções. Nós crescemos em volta do Porto de Itajaí. Dentro do complexo nós temos a Portonave, os TUPs – terminais privados –, a Teporti, Barra do Rio, tudo isso nós tratamos e a gente conversa e busca solução. Dragagem, bacia de evolução, tudo isso é tema que a gente tem que se envolver.
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"Eu não tenho problema com ideologia"
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A comissão é contra a movimentação de todas as cargas a granel? Por quê?
Beto: Não. Por exemplo: um navio carregado de carro, o carro está a granel. Cargas que irão trazer prejuízo para o município e na maioria desse tipo de carga, carga granel sólida, elas infelizmente trazem... Limpeza, como será feita essa limpeza se houver a questão do fertilizante? Existe um fertilizante que tem amônia, esse fertilizante de amônia é o fertilizante que lá no Oriente explodiu... A carga granel sólida tem esse agravante, a questão da limpeza da cidade, a questão do próprio volume de veículos andando e trazendo um peso. O contêiner tira a carreta lá fora, e não entra com duas carretas mais dentro do município. O granel de soja, trigo e milho precisa entrar todos engatados. É uma situação que nos deixa bem confortável para dizer não.
"O maior valor agregado está no contêiner"
A Antaq proibiu provisoriamente a movimentação de carga a granel no porto de Itajaí, mas permite a carga geral, por exemplo, a siderúrgica. Qual critério pra avaliar as operações que valem a pena?
Beto: Com muita tecnicidade precisa ser analisada a questão financeira. Ali está sendo tratado de uma questão de milhões e o que nós precisamos? Precisamos de carga com valor agregado. O maior valor agregado está no contêiner. A carga geral, tem a questão da mão de obra, que é ótimo, maravilhoso, nosso porto já operou anos e anos carga geral. O critério, na minha opinião, é valor agregado. Valor agregado que traga realmente benefício para o município. Valor agregado pequeno que vem trazer prejuízo ou instabilidade tem que ser revisto. [Valor agregado o senhor fala nas tarifas, nos impostos...] Por exemplo, um contêiner carregado de tecnologia, 10 contêineres carregados de tecnologia, 100 contêineres carregados de tecnologia, você calcula isso em comparação ao navio carregado de soja, entende? O valor agregado naquela mercadoria, ISS, vai dar o valor de repente de um navio inteiro carregado de soja, trigo, milho, farelo, que vai trazer, além disso tudo, um prejuízo para o município, que é a sujeira nas ruas, insetos... A cidade mais antiga de Santa Catarina é São Francisco do Sul. Ela trabalha com carga a granel, trigo, soja e farelo. A gente sabe que os valores imobiliários, infelizmente, têm sua depreciação por conta do cheiro, por conta daquela movimentação que não encaixa. A nossa vocação é para o contêiner. [Mas para quem é interessante hoje trazer a carga a granel para a Itajaí?] Todas as cargas têm os seus interessados, obviamente, os empresários. A mão de obra também precisa dessa movimentação? Precisa, mas nós podemos substituir por contêiner. Os grandes interessados são os armadores, os navios. Para o nosso porto nós precisamos de contêiner, por conta do tamanho do nosso porto, por conta da nossa estrutura. [Qual a opinião do prefeito Robison Coelho sobre o tema?] É notório o descontentamento dele por conta de não poder sugerir ou fazer qualquer movimentação no Porto de Itajaí. Porque nós fomos federalizados. Ou seja, quem hoje comanda o Porto de Itajaí não é mais Robison, não é mais o prefeito de Itajaí. Quem comanda o porto de Itajaí é Santos. Santos vem com as suas ideias, com os seus motivos e faz aquilo que, de repente, é interessante para o sistema. A opinião do prefeito é essa: ele não tem gerência sobre o terminal. [Mas ele seria contra esse tipo de carga?] Provavelmente ele não aceitaria esse tipo de carga.
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A retomada plena das atividades do porto é comemorada, mas também traz novamente o problema da fila tripla em frente ao porto e de caminhões pesados nas ruas de Itajaí. Quais ações o legislativo pretende tomar para auxiliar na resolução do problema no trânsito?
Beto: O que a Câmara está buscando junto à prefeitura, junto ao executivo, é que todos os projetos de mobilidade dentro do trânsito de Itajaí sejam mais rapidamente resolvidos. Pode ver até a quantidade de ruas que foram pavimentadas durante esse tempo. A própria via expressa, vai ter que fazer manutenção nessa rua. [O prefeito pediu a municipalização dessa rua, o senhor sabe como está essa tratativa?] A gente vai se reunir semana que vem para conversar. [Já tem alguma proposta sendo discutida, planejada?] Temos discutido retorno de quadra na avenida Reinaldo Schmithausen. Temos um grupo de empresários que está realizando os PPPs para que a mobilidade do município traga esse tipo de solução. Hoje, Itajaí, na hora de pico, a gente não anda nem para frente, nem para trás.
"Eu não tenho problema com ideologia"
Como o senhor avalia a queda de braço entre a autoridade portuária de Itajaí e a de Santos no caso que culminou com a interferência da Antaq? A relação entre as duas AP não é harmoniosa?
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Beto: Itajaí não se sentiu confortável com a vinda deles [APS] para Itajaí. Eles não entendem a nossa realidade, não conhecem as nossas ruas, os nossos bairros. Isso não instaurou uma queda de braço, mas trouxe um grande desconforto. Nós perdemos a gerência do porto. A gente percebe que se nós estivéssemos, de repente, na direção do porto, poderíamos ter tratado isso muito cedo, antes que viesse à tona. A ZPort, quando ela faz o pedido, poderia ter entrado em um acordo diferente por conta de chegar a carga a granel no centro de Itajaí. A queda de braço eu não consigo enxergar. A JBS está à frente do trabalho. É uma empresa gigantesca. Não é Lula, nem Bolsonaro, nem esquerda, nem direita. É uma empresa que está realmente dentro do mercado. E agora, em vários segmentos, pode olhar no UOL, a JBS foi uma dos contribuintes para o Trump. Não são nem para um lado e nem para o outro. A empresa está em Itajaí, contratou quem realmente entende de Itajaí, o Aristides Júnior, ele tem o meu respeito, gosto demais do jeito que ele administra. Quando estava na APM, eu já dava os créditos para ele. O Aristides entende de porto, entende do sistema e conhece Itajaí. Nós temos uma força muito grande que já se manifestou, que são as instituições, a Associação Comercial, o próprio Sindilojas, os sindicatos, eles todos se manifestaram, redigiram uma carta e distribuíram essa carta.
O empresário Eclésio Silva, do Conselho das Entidades, defendeu que os terminais a montante operem com carga a granel com apoio do governo do Estado na dragagem. O senhor concorda com essa proposta?
Beto: Eu acho interessante. Se o terminal estiver em um lugar bem estratégico. O Teporti tem condições de operar, está próximo a BR 101, tem licença ambiental para todos os quesitos e seria um grande feito do governo do estado dragar o rio para que a embarcação chegue até lá. Se houver a dragagem, seria o melhor de todos os mundos.
"Hoje, Itajaí, infelizmente, na hora de pico, a gente não anda nem para frente, nem para trás"
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Como é seu relacionamento com o superintendente do Porto de Itajaí, João Paulo Tavares Bastos Gama?
Beto: O João é um querido, gosto dele. Ele disse que até votou em mim. Eu não acredito muito, vou falar bem a verdade (risos). O João está buscando espaço, mostrando dentro de um partido o que ele pode fazer. [Como está a questão institucional?] Eu já visitei ele. Fui o único vereador que o visitou. Eu estive lá, conversei com ele, a gente se tratou, porque a própria Câmara já havia ventilado que eu seria também o presidente da comissão mista, que é a comissão que reúne as entidades. João também se manifestou a respeito desse tipo de carga. Eu também não deixei nada escondido pra ele, a gente sabe que existiu um desconforto porque a prefeitura tinha uma proposta e o prefeito é portuário, a gente estava cheio de planos, mas fomos interrompidos no meio do caminho.
Qual a sua avaliação da federalização do Porto de Itajaí, passados 100 dias do processo?
Beto Cunha: Eu vejo que a nossa grande sorte foi uma empresa chegar e tocar o porto da forma que está tocando. Essa semana ventilaram que havia perdido uma linha, não é verdade. JBS trouxe para Itajaí mais duas linhas. Nós tínhamos um problema seríssimo da dragagem: R$ 59 milhões de dívida – que a outra gestão deixou. Nesses 100 dias conseguiu-se apaziguar isso. Não é ruim. O fato é o seguinte: estamos diante de uma das maiores empresas do Brasil. Eles estão atuando em muitos ramos e agora optaram pelo terminal portuário. Nós somos provavelmente o primeiro tubo de ensaio deles. O pouco tempo que eles estão, eu vejo que o mérito é da empresa JBS. Eles chegaram e já trouxeram aquilo que a gente precisava: contêiner no porto, embarcação.
A Antaq teria autorizado a instalação de um terminal de combustíveis na região da rua Blumenau. Qual o posicionamento da Comissão sobre o tema?
Beto: A gente vai discutir também, durante o processo no legislativo. O grande recipiente que fica armazenando a gasolina, óleo, querosene, ele não é mais fechado. A tampa de cima vai descendo conforme o nível de combustível que tem dentro. Isso é uma tecnologia mundo afora. O tipo de explosão que, por exemplo, aconteceu naquele navio do Odílio Garcia, não acontecerá num terminal como esse. Existem várias ferramentas, a gente vai ter que discutir. Não estou dizendo que eu sou a favor.
O senhor foi criticado por ter participado da feira Intermodal, em São Paulo. Por que decidiu ir ao evento, qual foi o custo à câmara e quais foram os resultados da sua presença?
Beto Cunha: Não, eu não fui tão criticado assim. A gente tem que entrar nesse campo das ideias com bastante frieza e aproveitar para poder construir caminhos melhores. Na Intermodal, eu fiz o meu papel. Se tiver uma feira fora do Brasil, de repente, que a Câmara, que o prefeito entender, que alguém que entende de Porto, que representa uma comissão vai ter que ir, eu vou para os Estados Unidos, Europa, China... [Qual foi o seu papel?] O meu papel foi de interagir com a própria comissão. Os resultados da feira iremos apresentar para a comissão. Um deles é em relação a bacia de evolução, o que realmente o governo federal tem de proposta, a Antaq.
"A JBS está à frente do trabalho. É uma empresa gigantesca. Não é Lula, nem Bolsonaro, nem esquerda, nem direita. É uma empresa que está realmente dentro do mercado"
Se o presidente Lula visitar Itajaí nos próximos meses, o senhor irá recepcioná-lo?
Beto Cunha: Hoje compomos o governo do Robison. O Lula não é a primeira vez que vem a Itajaí, ele já veio uma vez a Itajaí. Não fui convidado, a câmara não foi convidada. [Se for convidado?] Se eu for convidado, provavelmente eu não vou. Dependendo da pauta e da incumbência... [Sendo convidado, o senhor irá?] Se eu for convidado, por que de repente eu não iria?! [Qual a pauta que hoje o senhor sentaria para conversar com o presidente da República?] Hoje eu trataria, com certeza, a respeito da BR 101, grande gargalo na nossa região, que trava o nosso município, a 470 é outro problema. Eu não tenho problema com ideologia. Eu tenho minhas ideologias bem esclarecidas, extremamente esclarecidas.