Personalidade local
Dona Didi: 85 anos de fé, alto astral e samba
Unindo famílias tradicionais como os Costa, os Souza e os Santos, benzedeira tradicional de Armação foi premiada com um troféu
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]
Aos 85 anos já completados, a “Dona Didi do Seu Noro” acompanha o crescimento de Penha com sua tradicional simpatia e uma inabalável fé na vida. Nascida e criada em Armação do Itapocoróy, Alaíde Souza dos Santos ilustra bem a força da mulher genuinamente penhense neste aniversário do município: nasceu da união das famílias Costa e Souza, bem tradicionais, e se tornou uma Santos após o casamento.
Benzedeira, voluntária católica, integrante do Apostolado da Oração, mãe de duas filhas, foi casada com o saudoso Taylor dos Santos, o popular Noro – falecido em 2019 -, e é a quarta filha de João José da Costa, o João Zizi, pescador conhecido em Armação, e sua esposa Ana Tomázia de Souza, falecida quando Didi ainda era pequena. Ela teve um irmão temporão, o Tonho Peru, ou Antônio da Costa, filho de João Zizi em segundo casamento.
Nas lembranças da filha Rosana Isadora, dona Didi é uma mulher forte. Morou em Balneário Piçarras até pouco antes da pandemia e encarou o período do isolamento com grande resignação. “Ela não saiu de casa. Observou bem todas as orientações médicas, tomou as quatro doses da vacina e, disciplinada, ainda usa máscara de proteção contra a covid”, detalhou Rosana.
Além de Rosana, o casamento gerou ainda outra filha, Sandra, e quatro netas: Camila, Mirela, Bárbara e Isadora, e três bisnetos: Gabriela, Bernardo e Olívia. A vitalidade e tradição de Didi renderam uma homenagem do Núcleo de Estudos Açorianos (NEA) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), entregue pelo professor Eduardo Bajara de Souza em 2019, como reconhecimento ao casal Alaíde e Taylor na vivência da cultura açoriana.
Rosana é quem lembra de outros importantes momentos da vida da mãe, como a difícil experiência de separação da mãezinha Ana Tomázia, o que fez com que, aos três anos de idade, Dona Didi passasse a ser criada pelo irmão, Sebastião João de Souza, o seu Bastinho – que era cerca de 20 anos mais velho e nutria muito carinho pela irmã. Bastinho colaborou muito com o desenvolvimento de Armação e era um benfeitor da comunidade. Ele decidiu criar Didi como filha.
“Dali reforçou-se a fé de Alaíde. A família era muito católica, recebia e hospedava os padres na casa do tio Bastinho”, lembra Rosana. Junto de Noro, o marido, intensificou-se esse carinho pelo catolicismo: ela, na tesouraria do Apostolado da Oração; Noro nas ações da comissão da igreja, como voluntário e também tesoureiro.
Benzia de “rasgado a zipra”
Dona Didi era benzedeira procurada. “A mãe curou muita gente de rasgado e zipra (erisipela)”, lembra Rosana, falando dos diagnósticos de “quebranto e mau-olhado”. “Menos de quebranto, de quebranto ela só benzia quem era da família, pois entendia que, se benzesse os de fora, trazia o quebranto para dentro de casa”, rememora a filha, bem-humorada. “Os médicos chegaram a pedir para ela ir benzer em hospitais”.
Didi também sempre gostou de dançar e ir a grandes bailes, e com Noro viajou muito, quase sempre em viagens de cunho religioso. Entre batismos e crismas, o casal apadrinhou 39 crianças. A própria dona Didi faz também questão de lembrar do samba – ah, o samba! O gênero era a raiz musical preferida do casal – Noro tocava cavaquinho e pandeiro também.
“Eles gostaram de morar em Balneário Piçarras e ficaram lá 15 anos, comentavam que eram mais agitado”, detalha. Com o falecimento de Noro, Didi passou dois meses com a filha Sandra, e em seguida foi morar com Rosana, com quem vive até hoje, mas num espaço independente, como ela sempre quis.
“Acho que uma das maiores virtudes e que a mãe não perdeu é ser positiva. Para frente! Sempre teve vontade de viver e viver muito. Ela tem fé de passar dos 90”, observa a filha. “E quer cuidar do que é seu”, finaliza.
"Acho que uma das maiores virtudes é ser positiva. Para frente! Sempre teve vontade de viver muito”
Rosana (filha)