Praia Central de BC
Ex-prefeito lança movimento contra restinga
Recuperação da vegetação é exigência ambiental da obra de alargamento da nova faixa de areia de Balneário Camboriú
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]
O ex-prefeito de Balneário Camboriú Edson Periquito (Republicanos) iniciou uma campanha contra o projeto das dunas embrionárias, que prevê a recuperação da restinga da praia Central. O movimento dispõe de uma petição on-line, que conta com mais de 1200 votos de apoio para que o plantio seja discutido em audiência pública. “Se o povo decidir que sim ou não, a voz do povo é soberana, mas não pode acontecer sem ampla discussão”, diz a petição lançada. A versão do ex-prefeito para o plantio, contudo, destoa da realidade já que a recuperação da restinga foi uma exigência do licenciamento ambiental para que a obra do alargamento da faixa de areia acontecesse.
O plantio de espécies nativas de restinga foi iniciado no mês passado, com os primeiros canteiros na Barra Sul. A medida é uma das exigências do Instituto de Meio Ambiente (IMA) prevista no licenciamento da obra de alargamento. O projeto contempla 61 canteiros ao longo da orla, cada um com 12 metros quadrados e cerca de um metro de altura.
Ao DIARINHO, Periquito disse que lançou o movimento porque a praia não tem característica de restinga há mais de 50 anos e possui condição urbana consolidada. Ele diz que só concorda com restinga onde ela ainda existe, como nas praias agrestes. Ele acredita que a vegetação atrairia “animais peçonhentos, serviria para abrigo de criminosos e viraria banheiro para desocupados, além de tirar a vista da praia.”
“A implantação de dunas criará um grande ‘paredão’ permanente que vai propiciar a ação criminosa, prejudicando toda a cidade. Se isso ocorrer, a exemplo de outras praias pelo país afora, teremos um grave problema de segurança pública”, argumenta. Em postagens nas redes sociais, o ex-prefeito, que é pré-candidato a deputado estadual, defende o lema de que “a praia é para as pessoas e não da restinga”.
Segundo ele, a mudança não pode ocorrer sem que se escute a população. “A restinga, uma vez plantada, é protegida por lei e ninguém poderá mexer depois. Meu movimento requer uma audiência pública para se pensar em todas essas situações”, disse. Periquito ainda alega que não há um estudo técnico específico que comprove a necessidade da restinga para a manutenção do alargamento.
Conforme o ex-prefeito, outras condicionantes poderiam ser adotadas no lugar do plantio, como melhorias no parque Raimundo Malta, plano de recuperação do Rio Camboriú e a despoluição do canal do Marambaia.
“O discurso que está sendo proferido de que a restinga será local de abrigo para moradores de rua, que irá tirar a vista da praia, serve apenas para confundir a população” - Maria Heloísa Furtado Lenz, secretária municipal de Meio Ambiente
Discurso é pra confundir a população, diz secretária
A secretária de Meio Ambiente de Balneário Camboriú, Maria Heloísa Furtado Lenzi, defendeu que o processo do alargamento foi feito com base em critérios técnicos e obedecendo a legislação. Ela lembrou que polêmicas como o aparecimento de tubarões e maior quantidade de afogamentos na praia foram desmistificadas com o embasamento técnico, e o mesmo se dá agora com a restinga.
Ela informou que a condicionante das licenças ambientais do alargamento foi discutida com o Instituto do Meio Ambiente (IMA) e depois o Ministério Público Federal (MPF) entrou no caso, ingressando com uma equipe de peritos no processo. “O discurso que está sendo proferido de que a restinga será local de abrigo para moradores de rua, que terá mais de 1,5 metro, que irá tirar a vista da praia, serve apenas para confundir a população”, afirma.
Heloísa esclarece que a restinga que está sendo plantada é herbácea com no máximo 30 centímetros de altura. Além disso, diz que a praia já está entre 1 e 1,5 metro acima do nível do mar. “Esta é a condição para que haja a proteção costeira”, observa. Ainda rebateu.“O alargamento da faixa de areia já teve audiência pública e polemizar algo que notoriamente deu certo parece um pouco tardio”, aponta.
Professora explica que restinga protege praia contra ressaca e erosão
O movimento do ex-prefeito também gerou polêmica pelas redes sociais. A ideia de que a vegetação tiraria a visão do mar e tomaria espaços de lazer está entre os argumentos. A restinga, no entanto, é uma vegetação nativa da costa brasileira e serve como proteção natural contra o avanço do mar. Em Balneário Camboriú, o plantio ainda vai ajudar a prevenir a erosão da areia do alargamento.
“O que percebo é a falta de entendimento das pessoas no que se refere à vegetação de restinga. Esta tem a finalidade de formação dos sistemas de dunas, que protegem a linha de costa nos eventos de maior energia das ondas, ou seja, quando entram as ressacas”, explica a professora Débora Ortiz Lugli Bernardes, pesquisadora do Grupo de Estudo dos Ecossistemas Costeiros da Univali.
A especialista lembra que a praia Central de Balneário foi perdendo esse ecossistema conforme as edificações foram se intensificando e, com a engorda da praia, o retorno da restinga passou a ser uma condicionante. Mas Débora destaca que o estabelecimento da nova vegetação será lento devido à forma como o projeto foi estruturado. O cronograma prevê trabalhos por 27 meses, com as etapas de demarcação, plantio e monitoramento.
Sobre a preocupação com animais peçonhentos, a professora ressalta que não é um “problema real” porque não se tem mais fragmentos vegetais próximos que poderiam servir de área para estes animais. “Havendo um cuidado da prefeitura em fiscalizar os bares e restaurantes para que seus lixos não sejam pontos de dispersão de algum tipo de organismo, não existe a preocupação real com este tipo de organismo”, avalia.
Ela ainda explicou que a restinga não vai tirar a visão da praia. “Estamos falando de uma vegetação baixa, rasteira”, frisa.
Obra avança com criação de canteiros
O projeto para recuperação da restinga começou em maio, com o cercamento dos primeiros canteiros e o plantio das mudas no trecho da Barra Sul. Até segunda-feira, a demarcação tava na altura da rua 3900. Os canteiros receberão 33 mil mudas de espécies nativas.
As primeiras plantas já aparecem despontando na areia nas áreas de preparação das mudas. Os canteiros são instalados com estacas de madeira e cordas, tendo um recuo em torno de 30 metros da atual calçada. A distância já é o espaço destinado para as obras do futuro projeto de reurbanização da avenida Atlântica, que prevê transformar a orla num parque linear.
Segundo a secretaria de Meio Ambiente, a recuperação da restinga respeita os acessos à praia, considerando os trechos que têm faixas de pedestres. Entre os canteiros, são previstas trilhas e passarelas, que ligarão o novo calçadão e a faixa de areia.