Itajaí
Brasil compra tecnologia pra produzir vacina contra covid
Vacina da Oxford está em fase adiantada de testes e é a mais promissora em relação à eficácia contra a doença. Ela será fabricada no Brasil pela Fiocruz
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]
Um acordo entre a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), do Ministério da Saúde, e o laboratório britânico AstraZeneca permitirá a transferência de tecnologia e produção de 100 milhões de doses da vacina contra a covid -19. A vacina da Oxford, como é conhecida essa vacina em parceria com a AztraZeneca, é considerada a mais promissora e mais avançada nos estudos da fase clínica. Ela está na fase três e, se for aprovada a eficácia e segurança, ganha a liberação da Anvisa para produção e comercialização. O professor José Roberto Santin, do curso de Farmacologia e Toxicologia da Univali, doutor em toxicologia pela USP, explica que a vacina é desenvolvida pela Universidade de Oxford em colaboração com a indústria farmacêutica AstraZeneca e está na fase três de avaliação. Atualmente, ela é uma das vacinas em estágio mais avançado de desenvolvimento. “Ela vem sendo avaliada no Brasil e em outros países. Os dados divulgados até o momento são bastante satisfatórios, de acordo os artigos publicados referentes a fase um e dois” explica. Com o acordo firmado entre a Fiocruz e a AstraZeneca a vacina não terá custos para a população, porque poderá ser distribuída gratuitamente pelo Programa Nacional de Imunizações, que atende o Sistema Único de Saúde (SUS). “Por isto a importância de o Brasil comprar a tecnologia e produzir de forma independente a vacina, possibilitando a distribuição pelo SUS”, comenta José Roberto. O repasse da tecnologia, segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde, teve um investimento de R$ 1,3 bilhões para o Brasil, referentes a pagamentos previstos no contrato de encomenda tecnológica. Os valores contemplam a finalização da vacina. “Esta transferência de tecnologia permitirá que o Brasil produza as vacinas de forma independente, usando a estrutura da unidade Bio-Manguinhos (Fiocruz), que também receberá repasses do governo para ampliar sua capacidade de produção”, explica. O Ministério da Saúde prevê ainda um repasse de R$ 522,1 milhões na estrutura de Bio-Manguinhos, unidade da Fiocruz produtora de imunobiológicos, para ampliar a capacidade nacional de produção de vacinas e tecnologia disponível para a proteção da população. O custo médio para a produção de cada dose da vacina é de 2,5 euros, que no Brasil girará entre R$ 12 e R$ 14. “A produção da vacina deve iniciar ainda em 2020, e existe uma previsão inicial de 30 milhões de doses para dezembro de 2020 e janeiro de 2021”, diz o professor. No decorrer do primeiro semestre de 2021, a Fiocruz ainda programa a produção e distribuição de mais 70 milhões de doses. Ednéia Casagranda Bueno, professora da Univali, pós-doutora em Imunoquímica pelo Centers for Disease Control and Prevention dos Estados Unidos, comenta que existe 164 vacinas sendo estudadas no mundo. “Destas, 25 estão em fase clínica (que envolvem serem humanos) e dentre estas seis vacinas já estão na fase clínica três, que envolve milhares de pessoas e é a última fase da pesquisa de uma vacina”, explica. “O Brasil também tem parceria com uma outra vacina, da China (CoronaVac), e que está sendo testada na fase três e com parceria com o Instituto Butantã para produção no nosso país”, completa. A professora acredita que, assim que for liberada a produção e distribuição da vacina, o Ministério da Saúde definirá um protocolo com grupos prioritários para o recebimento da dose. “Já temos esses critérios para outras vacinas que fazem parte do programa de imunização pelo SUS e isso deve ser repetir neste primeiro momento. Na minha opinião, grupos mais suscetíveis e de risco deverão receber a vacina primeiro - e faz todo o sentido ser desta forma”, pontua. Os grupos prioritários são idosos, pacientes com comorbidades, profissionais da saúde e da segurança pública. “E nós temos que manter a regras gerais: distanciamento social, higienização e uso de máscara”, comenta. Dose única gera imunização Segundos os professores da Univali, os dados estudados até agora mostram que uma dose única da vacina já gera imunização contra a Covid-19. Mas os ensaios clínicos estão sendo avaliados tanto para o uso de dose única como para a dose dupla. A vacina da Oxford usa um adenovírus atenuado (não infeccioso para o corpo humano) como vetor. Dentro dele foi inserida uma parte do novo coronavírus, também modificada e não infecciosa. Quando a vacina é introduzida no corpo humano, o sistema imunológico produz uma resposta imune contra essa proteína do novo coronavírus que foi inserida no vetor. “Nosso sistema de defesa produz anticorpos e células de defesa capazes de agir contra o novo coronavírus caso ele entre no nosso organismo, nos protegendo. Isso é o que esperamos que a vacina seja capaz de fazer e que essa proteção permaneça durante anos no nosso corpo”, explica Ednéia. A professora admite que ainda é uma incógnita sobre quanto tempo efetivamente essa proteção induzida pela vacina permanecerá ativa no corpo. “Várias outras questões relacionadas à efetividade da vacina só saberemos com o tempo - assim como tem acontecido com a própria infecção viral”, pontua a professora Ednéia. Embora será oferecida pelo SUS, o professor José Roberto explica que certamente a vacina será vendida no setor privado, a exemplo do que aconteceu com as outras vacinas da H1N1. “Mas ainda é difícil de estipular o valor. No entanto, como a demanda será grande, é provável que o valor seja elevado”, adianta. Domínio tecnológico da Bio-Manguinhos O Memorando de Entendimento que define os parâmetros econômicos e tecnológicos para a produção da vacina da covid-19, desenvolvida pela Universidade de Oxford, prevê o início da produção da vacina no Brasil a partir de dezembro. O acordo entre Fiocruz e AstraZeneca é resultado da cooperação entre o governo brasileiro e governo britânico, anunciado em 27 de junho pelo Ministério da Saúde. O próximo passo será a assinatura de um acordo de encomenda tecnológica, previsto para a segunda semana de agosto, que garante acesso a 100 milhões de doses do insumo da vacina, das quais 30 milhões de doses entre dezembro e janeiro e 70 milhões ao longo dos dois primeiros trimestres de 2021. A Fiocruz recebeu informações técnicas fornecidas pela AstraZeneca para a definição dos principais equipamentos para o início da produção industrial. A instituição também colocará à disposição sua capacidade técnica a serviço dos esforços mundiais para a aceleração do escalonamento industrial da vacina junto a outros parceiros. Ao mesmo tempo, a Fiocruz constituiu um comitê de acompanhamento técnico-científico das iniciativas associadas às vacinas para a Covid-19. O comitê é coordenado pelo vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz, Marco Krieger, e tem a participação de especialistas da Fiocruz e de instituições como USP, UFRJ e UFG.