Itajaí
Bafão de grandões da Univali no Face
Coordenadora de Odonto criticou festa do dia do trabalho e citou frase de Karl Marx. Ex-reitor chamou pensador de “vagabundo”
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]

José Roberto Provesi, ex-reitor e atual chefe de gabinete da reitoria da Univali, e Lídia Morales, coordenadora do curso de Odontologia da universidade, protagonizaram um bafão pelo Facebook. Lídia fez críticas à festa do trabalhador oferecida pela instituição e citou uma frase do filósofo e economista alemão Karl Marx. Provesi rebateu a crítica chamando Marx, por tabela, de vagabundo e fazendo comentários considerados machistas. Na postagem, Lídia reclamou que, neste ano, a festa foi feita em Balneário Camboriú, quando a maioria dos trabalhadores da Univali mora em Itajaí. Também se queixou do fim das tradicionais homenagens aos funcionários que comemoram os quinquênios. “Víamos os colegas receberem, com orgulho, merecidas homenagens por 5, 10, 15, 20 ou mais de trabalho e dedicação à instituição”, escreveu. Após parabenizar os trabalhadores, Lídia termina a postagem com uma citação de Marx: “A desvalorização do mundo humano aumenta em proporção direta com a valorização do mundo das coisas”. Foi a partir da citação que Provesi resolveu responder à professora. “Quem cita Karl Marx precisa descontruir o modelo mental ou residir na Venezuela”, rebate, enfiando na resposta uma Venezuela que nada tinha a ver com o contexto da crítica. O ex-reitor completa o post afirmando que Marx foi um “vagabundo desocupado, sendo sustentado pela mulher enquanto escrevia o livro “O Capital”, e que só teve um emprego fixo na vida por breve período.” Provesi, apesar de ser acadêmico, usou do “senso comum” e se baseou num texto de autoria desconhecida e que circula pela internet detonando o pensador alemão. A afirmação, considerada machista, mostra ainda desconhecimento sobre a vida do filósofo alemão. Todo o trecho citado por Provesi está entre aspas, mas no comentário ele não deixa claro qual é a fonte. O comentário do atual chefe de gabinete da reitoria recebeu apoios.“Nos meus 21 anos de Univali, foi a melhor festa do dia do trabalhador que já participei”, diz o comentário, com longo texto bíblico, do atual procurador da instituição. Historiadora diz que Provesi foi misógino A socióloga e historiadora Cristiane Manique Barreto, que já deu aulas na Univali, foi procurada pelo DIARINHO para explicar a obra teórica de Karl Marx. Já de começo, ela avalia que o comentário do ex-reitor traduz uma desvalorização do trabalho intelectual do pensador alemão o que, vindo de uma pessoa ligada ao mundo acadêmico, causa certo espanto. Cristiane destaca que Marx se dedicou à produção de diversas obras ao longo da vida. Além disso, ressalta, no século 19 as relações de trabalho eram diferentes das de hoje, como a ideia de emprego fixo. De acordo com Cristiane, que é mestre em história e hoje dá aulas numa universidade do Amazonas, não cabe a crítica de que Marx “era sustentado pela esposa”. Até porque, explica, o casal passou por diversas privações em virtude de perseguições e viagens forçadas que teve que fazer. “É um anacronismo histórico fazer essa crítica. Ele [Provesi] escreveu isso pra desqualificar a crítica da professora”, avalia Cristiane. Ela ainda observa que o comentário de Provesi tem um viés machista, uma vez que a citação considera negativo que um homem seja sustentado por uma mulher, o que reforça o pensamento conservador de que o homem deve ser o “provedor da família”. Cristiane se diz surpresa com a postura e o que considera um comportamento de ódio do ex-reitor, a quem tinha como pessoa “progressista” e “intelectual democrático”. “Ele foi misógino (desprezou as mulheres), conservador e equivocado no comentário. Acabou produzindo esse bate-bocas de Facebook”, conclui. Marx na visão de Provesi Sobre a referência ao filósofo, Provesi reforçou o posicionamento de que Marx “não é um exemplo pro dia do trabalhador. “Ele não foi um trabalhador. Quem trabalhava era a mulher dele”, reafirma. O atual chefe de gabinete e também vice-presidente da fundação Univali garantiu que o trecho do artigo citado não é apócrifo e foi originalmente publicado por um jornal inglês, sendo traduzido por várias correntes em diversos países, mas não citou o nome da publicação. Para o ex-reitor, que geriu a instituição entre 2002 e 2010, o comentário não representou crítica ou censura ao posicionamento ideológico da professora. Ele destaca que a universidade é um espaço pra diferentes ideias. “Nunca houve cerceamento”, afirma, lembrando do período em esteve à frente da Univali, quando havia várias correntes ideológicas se manifestando dentro da instituição. Provesi concluiu afirmando que os apoiadores da chapa da professora Cássia Ferri, que perdeu a eleição, não são opositores, pois as duas candidaturas saíram de uma divisão a partir da antiga gestão. “É um ambiente plural. Não é oposição”, finalizou. Ficaram de boa pelo Face A professora Lídia foi econômica ao comentar o caso com a reportagem.“A gente diz as coisas e tem que aguentar. Ela observou que as reações à postagem podem estar ligadas ao fato de ter sido declaradamente apoiadora da candidatura da professora Cássia Ferri na eleição pra nova reitoria, feita em fevereiro. A disputa terminou com vitória apertada de Valdir Cechinel Filho, que trouxe o ex-reitor Provesi de volta à direção da universidade. Com isso, avalia Lídia, estaria sendo vista como alguém da oposição à atual administração. Lídia informou que depois do bafão no Facebook chegou a conversar no ‘privado’ do Face com Provesi. “Ele meio que se retratou”, afirma. Já de acordo com o ex-reitor a conversa foi outra. A própria Lídia teria reconhecido no bate-papo online que foi um pouco infeliz no comentário, já que ela sequer esteve na festa. Provesi explicou que a decisão de mudar o local da festa foi do reitor, levando em conta que o lugar seria mais adequado e de fácil acesso pros funcionários que viriam pela BR de outras cidades, onde a instituição também mantém campi. Ele ainda esclareceu que premiações e homenagens devem ser feitas em setembro, no aniversário da universidade.