DIREITOS HUMANOS

Corte Interamericana reconhece direito a clima saudável e estabelece obrigações aos países

Decisão histórica do tribunal pode inaugurar nova era de proteção para direitos humanos e o meio ambiente

Corte Europea de Derechos Humanos
Corte Europea de Derechos Humanos

Por Isabel Seta | Edição: Giovana Girardi

A Corte Interamericana de Direitos Humanos acaba de estabelecer um guia sobre as obrigações dos estados para que os direitos humanos possam ser garantidos e protegidos no contexto atual de crise climática.

Continua depois da publicidade

Foi a primeira vez que um tribunal internacional abordou as mudanças climáticas como um problema jurídico e estrutural para os direitos humanos.

“As experiências que vivemos e as contribuições que recebemos demonstram que não há mais margem para a indiferença”, disse a juíza Nancy Hernández López, presidente da Corte IDH, durante o anúncio do documento nesta quinta-feira (3).

Continua depois da publicidade

A decisão estabelece que os estados devem adotar medidas para diminuir os riscos associados à emergência climática, estabelecer metas ambiciosas de mitigação, manter planos de adaptação atualizados e proteger pessoas que defendem o meio ambiente.

O tribunal também definiu que violações de direitos humanos relacionadas à emergência climática geram obrigações de reparações integrais que podem ser exigidas na Justiça e estabeleceu parâmetros que devem ser observados para garantir uma transição energética justa.

Para 20 países da América Latina, entre eles o Brasil, as decisões da Corte são vinculantes, ou seja, devem ser incorporadas pelo Judiciário e pelas políticas públicas nacionais.

Ainda levará tempo para que a decisão de quase 300 páginas publicada pelo tribunal seja devidamente avaliada. Mas especialistas já destacam o caráter histórico do documento, que avança ao reconhecer, de forma inédita, o direito a um clima saudável e ao dar à natureza o status de sujeito de direitos.

“O Tribunal esclareceu que as obrigações dos Estados de prevenir danos irreversíveis ao sistema climático têm caráter de ‘jus cogens’ — o que significa que nenhuma derrogação é permitida e quaisquer regras contraditórias são nulas e sem efeito”, comentou o governo de Vanuatu, um dos países-ilha do Pacífico que mais pode sofrer com a elevação do nível do mar.

“O parecer confirmou que os Estados têm grandes obrigações de abordar as consequências das mudanças climáticas para os direitos humanos em relação às populações em risco, incluindo povos indígenas, crianças, mulheres e defensores dos direitos humanos ambientais”, complementou.

“Esses reconhecimentos sem precedentes culminaram na proibição imperativa de condutas antropogênicas [de origem humana] que possam impactar de forma irreversível a interdependência e o equilíbrio vital dos ecossistemas”, explica Marcella Ribeiro, advogada sênior da Associação Interamericana de Defesa Ambiental (Aida).

Continua depois da publicidade

A Corte cita entre essas condutas o desmatamento em grande escala e irreversível de florestas primárias cruciais para a biodiversidade e a regulação do clima.

“Isso abre portas para o questionamento direto de condutas de Estados e empresas que geram danos massivos ao meio ambiente e marca uma nova era para a proteção ambiental e garantia dos direitos humanos”, diz Ribeiro.

Essa definição pode vir a ter efeitos para o Brasil. Evidências científicas apontam que o desmatamento caminha para levar a Amazônia – essencial para todo o regime de chuvas na região – a um ponto de colapso no qual ela deixaria de se comportar como uma floresta tropical. Além disso, o desmatamento é responsável pela maior fatia das emissões brasileiras de gases do efeito estufa.

Para Viviana Krsticevic, diretora-executiva do Centro pela Justiça e Direito Internacional (Cejil), a opinião consultiva vai acarretar vários impactos nas políticas públicas nacionais, estaduais e municipais dos países latino-americanos ao estabelecer obrigações novas relacionadas a novos direitos (como o de um clima saudável) e a direitos já estabelecidos anteriormente. Além de influenciar casos já em tramitação nos judiciários.

Cada vez mais entidades e pessoas vêm recorrendo à Justiça para denúncias relacionadas à crise climática. Segundo um relatório da Escola de Economia e Ciência Política de Londres, foram registradas 226 novas ações judiciais do tipo em 60 países em 2024. Cerca de 20% desses processos tinham empresas como alvos. Outros questionavam a inação de seus governos em relação à crise do clima.

Continua depois da publicidade

“Essa decisão tem um peso muito grande, porque ela cria um marco dentro do qual comunidades, organizações e a sociedade como um todo vão poder exigir uma adaptação da postura de seus países, inclusive através de litígios”, diz Ribeiro à Agência Pública.

O documento foi elaborado após um processo participativo que gerou um interesse inédito, com a realização de audiências públicas no Brasil e em Barbados, no Caribe. Nunca um tribunal internacional havia recebido tantas contribuições escritas de governos, universidades, organizações, povos e comunidades tradicionais: foram 265, de mais de 600 diferentes atores, que vão de crianças a povos indígenas ameaçados, passando por uma empresa de energia e cientistas.




Conteúdo Patrocinado



Comentários:

Somente usuários cadastrados podem postar comentários.

Clique aqui para fazer o seu cadastro.

Se você já é cadastrado, faça login para comentar.

WhatsAPP DIARINHO

Envie seu recado

Através deste formuário, você pode entrar em contato com a redação do DIARINHO.

×






216.73.216.34

TV DIARINHO


🚢⚓️ MAIS ÁREA LIBERADA! O governo federal oficializou a expansão para a JBS Terminais no Porto de Itajaí ...





Especiais

Corte Interamericana reconhece direito a clima saudável e estabelece obrigações aos países

DIREITOS HUMANOS

Corte Interamericana reconhece direito a clima saudável e estabelece obrigações aos países

Expulsos por hidrelétrica em Goiás, quilombolas lutam há duas décadas por reparação

LUTA POR DIREITOS

Expulsos por hidrelétrica em Goiás, quilombolas lutam há duas décadas por reparação

Vítimas relatam abusos por lideranças de terreiro de candomblé em Belo Horizonte (MG)

ABUSOS EM TERREIRO

Vítimas relatam abusos por lideranças de terreiro de candomblé em Belo Horizonte (MG)

ICMBio não vê racismo em derrubada de terreiro de jarê e punição de agente será ver vídeos

INTOLERÂNCIA RELIGIOSA

ICMBio não vê racismo em derrubada de terreiro de jarê e punição de agente será ver vídeos

Empresas de apostas avançam na festa junina de Campina Grande

São João das Bets

Empresas de apostas avançam na festa junina de Campina Grande



Blogs

Bem chocolatudo

Blog da Jackie

Bem chocolatudo

Amarelon

Blog do JC

Amarelon

Você está tratando o sintoma ou a causa do problema?

Espaço Saúde

Você está tratando o sintoma ou a causa do problema?



Diz aí

"Eu ouço todo mundo, mas quem toma a decisão final sou eu

Diz aí, Robison Coelho!

"Eu ouço todo mundo, mas quem toma a decisão final sou eu

Prefeito Robison Coelho será entrevistado ao vivo pelo DIARINHO

Diz aí

Prefeito Robison Coelho será entrevistado ao vivo pelo DIARINHO

"Se eu não conseguir reverter, eu não quero nunca mais saber de política"

Diz aí, Alexandre Xepa!

"Se eu não conseguir reverter, eu não quero nunca mais saber de política"

Prefeito de Itapema participa do “Diz aí!” e do "Desembucha"

AO VIVO

Prefeito de Itapema participa do “Diz aí!” e do "Desembucha"

"O hospital [Ruth Cardoso]passa a ser, de fato e de direito, regional e estadual"

Diz aí, Leandro Índio!

"O hospital [Ruth Cardoso]passa a ser, de fato e de direito, regional e estadual"



Hoje nas bancas

Capa de hoje
Folheie o jornal aqui ❯






Jornal Diarinho ©2025 - Todos os direitos reservados.