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Itajaí

Reitor da UFSC se mata em shopping

“Minha morte foi decretada no dia de minha prisão,” dizia bilhete. Associação de reitores denuncia estado policial

Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]

Era conhecido como um homem de diálogo


O reitor afastado da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Luiz Carlos Cancellier, 59 anos, cometeu suicídio na manhã de ontem. Segundo a polícia Civil, ele se jogou do sexto andar do Beiramar Shopping, em Florianópolis, para o vão central, por volta das 10h30 da manhã. Uma queda de 40 metros até atingir o chão. O local foi isolado e uma tenda cobriu o espaço da tragédia, durante o trabalho do Instituto Geral de Perícia. O corpo foi retirado do local por volta do meio-dia e levado para o Instituto Médico Legal (IML). O suicídio será investigado pelo delegado Ênio Matos, da delegacia de Homicídios de Floripa. Ao que tudo indica, o reitor entrou com o próprio carro no shopping. O empreendimento continuou funcionando normalmente após a tragédia. O jornalista Moacir Pereira, da NSC, divulgou informação conseguida via polícia Civil, de que Cancellier teria deixado um bilhete. “Minha morte foi decretada no dia de minha prisão”. A frase reforçaria a hipótese de um ato político por trás do suicídio. Preso pela PF Cancellier havia sido preso e acusado de obstrução à justiça no dia 14 de setembro na Operação Ouvidos Moucos, da Polícia Federal. O foco da ação era investigar desvios do programa da Universidade Aberta do Brasil (UAB), destinado a cursos de formação de professores à distância com o repasse de bolsas por meio da Capes. As irregularidade seriam anteriores à administração de Cancellier, mas segundo a versão oficial, ele teria dificultado a investigação. O ex-reitor, que deveria ficar detido por cinco dias, em caráter temporário, permaneceu 30 horas no Complexo Penitenciário da Agronômica, em Florianópolis, e foi liberado após decisão da juíza Marjôrie Cristina Freiberger, que substituiu a titular da 1ª Vara Federal de Florianópolis, Janaína Cassol Machado, que se ausentou por motivos médicos. Segundo o chefe de gabinete do reitor, Áureo Moraes, desde então Cancellier recebia tratamento psicológico a base de remédios, diagnosticado com estresse pós-traumático. A insatisfação com a operação, que envolveu 105 agentes da PF, foi explicitada em um artigo escrito por ele e publicado no jornal O Globo na última quinta-feira (28), com o título “Reitor exilado” [Leia o artigo na página 10 do DIARINHO]. A morte surpreendeu a amigos e familiares, que esperavam uma retomada no ânimo de Concellier depois que a justiça havia permitido que ele frequentasse a UFSC por duas horas, no dia 5 de outubro, para um encontro com orientandos da pós-Graduação em Direito. O irmão Júlio, um dos familiares que reconheceu o corpo, disse que tinha combinado com Cancellier e o outro irmão, Acioli, de passearem pela Lagoa da Conceição para que ele saísse um pouco de casa. Luto de três dias Instituições de ensino, o governo do Estado, a Associação Catarinense de Imprensa a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) divulgaram notas de pesar. O velório, que iniciou ainda na segunda-feira, na reitoria da UFSC, tem previsão de encerrar na manhã de hoje, seguido por uma sessão solene fúnebre do Conselho Universitário, no auditório Garapuvu, do centro de Cultura e Eventos da UFSC. O sepultamento será às 16h, no cemitério Jardim da Paz, em Florianópolis. A UFSC decretou luto de três dias para atividades acadêmicas e administrativas. A vice-reitora Alacoque Lorenzini Erdmann, que estava no cargo desde o afastamento de Cancellier, deve ser efetivada. A PF e a Justiça Federal não se pronunciaram sobre o ocorrido. Cancellier era natural de Tubarão, filho da costureira Madalena e do operário lavador de carvão, Vitório. Divorciado, tinha um filho. Homenagens nas redes sociais Ex-aluno de Cancellier, controlador do Município de Blumenau e presidente da comissão municipal que intermedia a implantação da Uo Vale do Itajaí, Leandro da Silva, entende que a operação que envolveu a prisão e a divulgação no noticiário nacional contribuíram para o desfecho trágico. “Era um homem de diálogo, podia muito bem ter sido convocado para prestar depoimento. É questionável também se ele obstruiu mesmo a investigação, mas as notícias do dia da prisão dão conta de que ele foi preso em um esquema que envolvia R$ 80 milhões de recursos desviados, dando a entender que ele era o cabeça da operação, o que não é verdade. Os elementos básicos como a presunção da inocência foram enterrados com ele”, criticou. Leandro foi um dos amigos, ex-alunos e colegas de mais de 20 anos de carreira acadêmica que se manifestaram na página do reitor em uma rede social. Da militância estudantil à reitoria da UFSC O reitor tinha graduação, mestrado e doutorado em Direito. Atuava como professor em sua área até a campanha para a reitoria, em 2015. Eleito através do voto direto, tomou posse em maio de 2016. Nasceu em Tubarão e foi para Floripa em 1977 para estudar Direito na UFSC. Militou em 1979 na UNE contra a ditadura militar. Interrompeu os estudos para atuar no jornalismo por anos, a maior parte no jornal O Estado, e depois como assessor de imprensa de Nelson Wedekin. Quase toda a sua formação acadêmica foi realizada na UFSC: graduação em Direito (1998), mestrado em Direito (2001) e doutorado em Direito (2003). Era especialista em Gestão Universitária e Direito Tributário. Ministrava as disciplinas de Direito Administrativo 2 no curso de graduação e Seminário de Direito e Literatura na pós-graduação (PPGD). Era professor de Direito Administrativo e Instituições de Direito Público da Universidade Aberta do Brasil (UAB), desde 2006. Era professor de Direito Público e Administrativo no Programa de Pós-Graduação em Administração Universitária da UFSC (PPGAU). Membro do Conselho Editorial da EdUFSC (2009 a 2013), chefiou o Departamento de Direito da UFSC (2009-2011) e presidiu a Fundação José Arthur Boiteux (Funjab) no período 2009-2010. Foi diretor do Centro de Ciências Jurídicas (CCJ) da UFSC. Procurador pede apuração O procurador geral do estado, João dos Passos Martins Neto, emitiu uma nota lamentando a tragédia e pedindo que a morte seja investigada. “As informações disponíveis indicam que Cancellier padeceu sob o abuso de autoridade, seja em relação ao decreto de prisão temporária contra si expedido, seja em relação à imposição de afastamento do exercício do mandato, causas eficientes do dano psicólogico que o levaram a tirar a própria vida”, argumenta. Ele pede a apuração das responsabilidades civis, criminais e administrativas das autoridades policiais e judiciárias envolvidas na prisão de Cancellier. João relembra que o reitor dedicou os útimos anos de sua trajetória profissional à causa do ensino, da pesquisa e da extensão da universidade. Era um homem digno e de poucas posses. “Que o legado do professor seja, em meio a tantos outros bens que nos deixou, tanto o de ter exposto ao país a perversidade de um sistema de justiça criminal sedendo de luz e fama, especializado em antecipar penas e martiriar inocentes, sob o falso pretexto de garantir a eficácia de suas investigações”, criticou o procurador. Associação de denuncia “práticas de estado policial” A Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) emitiu uma nota oficial. “O sentimento de pesar compartilhado por todos (as) os (as) reitores (as) das universidades públicas federais, neste momento, é acompanhado de absoluta indignação e inconformismo com o modo como foi tratado por autoridades públicas o reitor Cancellier, ante um processo de apuração de atos administrativos, ainda em andamento e sem juízo formado. É inaceitável que pessoas de bem, investidas de responsabilidades públicas de enorme repercussão social, tenham a sua honra destroçada em razão da atuação desmedida do aparato estatal. É inadmissível que o país continue tolerando práticas de um estado policial, em que os direitos mais fundamentais dos cidadãos são postos de lado em nome de um moralismo espetacular. É igualmente intolerável a campanha que os adversários das universidades públicas brasileiras hoje travam, desqualificando suas realizações e seus gestores, como justificativa para suprimir o direito dos cidadãos à educação pública e gratuita. Infelizmente, todos esses fatos se juntam na tragédia que hoje temos que enfrentar com a perda de um dirigente que por muitos anos serviu à causa pública. A ANDIFES manifesta a sua solidariedade aos familiares e amigos do reitor Cancellier e continuará lutando pelo respeito devido às universidades públicas federais, patrimônio de toda a sociedade brasileira.




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