Pra Robert Grantham, diretor comercial do porto público de Itajaí, a situação não é incômoda nem depreciativa, já que grande parte do que é comprado dos gringos serve como matéria prima pra indústria nacional e ajuda a agregar ainda mais valor aos produtos produzidos pelaqui. Criou-se, desde a época do regime militar, essa ideia de que importar é quase um ato antipatriótico. E não é assim, pois comércio exterior é uma via de mão dupla, temos que vender mas temos que comprar também, discursa.
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A posição da Santa & Bela
Quando o assunto é déficit na balança comercial, só perdemos mesmo pra São Paulo, com um saldo negativo gigantesco de 10,7 bilhões de verdinhas americanas, e pro Amazonas, que na diferença entre o que entrou e o que saiu por seus portos e aeroportos com destino ao estrangeiro a cifra chega a 4,6 bilhões.
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De janeiro a maio deste ano, Santa Catarina importou algo próximo a 5,7 bilhões de dólares de mercadorias. Isso representou 6,6% de tudo o que foi comprado dos estrangeiros e colocou o estado como quinto maior importador do Brasil. No topo da lista está São Paulo (37,81%), seguido do Rio de Janeiro (8,37%) e dos nossos vizinhos Paraná (8,07%) e Rio Grande do Sul (7,13%).
Do que foi comprado dos gringos através de Santa Catarina, fios e cátodos de cobre refinado, polietileno, fibras de poliéster e pneus lideram a pauta das importações.
Razões conjunturais e estruturais tornam o estado um pólo importador, argumenta abobrão do porto peixeiro
O abobrão do porto público peixeiro aponta quatro razões que fazem com que Santa Catarina - e em especial Itajaí - tenham essa característica importadora. Duas tem a ver com conjuntura econômica do estado e do país. As demais são estruturais.
Uma delas tá ligada às leis de incentivo tributário do governo do estado, que dá arregos no imposto sobre circulação de mercadorias e serviços (ICMS) e atrai importadores de outros estados. A vantagem é que acaba trazendo mais divisas pra Santa&Bela.
Outra também é conjuntural e tá ligada ao câmbio. As importações têm crescido porque está mais barato comprar do vender para os estrangeiros. O setor moveleiro perdeu posições no exterior e precisou se readequar para o mercado interno. A mesma coisa aconteceu com as indústrias de cerâmica, que também inverteram o jogo e passaram a importar pra colocar produtos no mercado interno, exemplifica.
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Uma terceiro motivo Robert chama de estrutural. As exportações brasileiras são baseadas muito nos commodities (grãos e minérios) e nós aqui temos outra característica, diz, referindo-se ao fato de importarmos principalmente matéria prima para a indústria e não mercadorias já prontas para o consumidor final.
A quarta das razões apontada pelo abobrão do porto tem a ver com a posição geográfica do complexo portuário de Itajaí, por onde entra a maioria das exportações. Nós estamos posicionados a 600 quilômetros de São Paulo e de Porto Alegre e nesse raio, que ainda tem Curitiba no meio, concentramos 46% do PIB (soma da riqueza nacional) brasileiro, argumenta. Ou seja, Itajaí está no meio de quase metade de toda a riqueza nacional produzida e isso a deixa numa posição geográfica privilegiada. Em função disso, criou-se um grande e bem estruturado pólo logístico, sigaba ainda.