As mães de duas crianças matriculadas na creche Odílio Garcia, no bairro Cordeiros, em Itajaí, afirmam que os filhos tão voltando pra casa mortos de fome. Segundo elas, a comida servida é pouca e ruim demais. A costureira Elisabete de Souza, 32 anos, diz que por diversas vezes buscou o filho de dois anos e sete meses esperneando por causa do estômago vazio. Outra mamãe, a recepcionista A.G., 32, revela que a filhinha de um ano e um mês perdeu mais de meio quilo em cinco meses.

A secretaria de Educação garante que é impossível os pequerruchos passarem fome, pois são cinco refeições balanceadas distribuídas ao longo do dia e uma funcionária faz a fiscalização dos rangos diariamente.

A mamãe A., que preferiu não se identificar, conta que a primeira coisa que faz quando chega em casa com a filha, depois da creche, é dar comida a menina. “Ela toma duas mamadeiras, parece uma bezerra. Ela volta com muita fome”, relata. A recepcionista ainda revela que levou a menina ao médico no início de agosto e o dotô teria constatado perda de 600 gramas no peso. “Outro absurdo é que a gente não pode levar alimento ou bolachinha pros nossos filhos. Ou eu levo pra todos ou não posso levar”, conta.

A mamãe ainda reclama da quantidade de banana fornecida pras crianças. “Uma banana branca não é nada pra um bebezinho”, opina.

“Ele vem com uma fome federal”, detona a mamãe Elisabete, que conta também, inconformada, sobre o almoço de terça-feira, 30 de agosto: purê de batata doce e atum enlatado. A costureira se mostra preocupada com as demais crianças que contam somente com o rango da escolinha. “Graças a Deus eu consigo dar uma comidinha melhor em casa, mas muitos não têm essa condição. Até parece que dão pedras pra crianças, de tanto que choram”, lamenta.

Não é bem assim

Procurada pelo DIARINHO, a secretaria de Educação não se convenceu da história contada pelas mães. De acordo com a assessora de imprensa do departamento, Marina Assis, o cardápio é mensal e padrão pra todos os centros de Educação Infantil (CEI) do município. Garante ainda que nenhuma criança passa fome. “O secretário [Edison d’Ávila] destinou uma pessoa só pra fazer o acompanhamento diário da alimentação escolar. Ela come junto com as crianças e analisa as refeições”, revela a porta-voz da Educação.

Juliana Duarte é a funcionária encarregada de fiscalizar a comida. Segundo a assessoria, ela tem um carro à disposição e uma balança móvel pra conferir se a empresa ERJ Restaurantes, responsável pelos rangos, envia a quantidade correta. Ao todo, são cinco refeições por dia, respeitando o cardápio elaborado pela nutricionista da prefa, Graziella de Lucka.

Reclamação faz cardápio das frutas ficar mais gordinho

Em nome da secretaria de Educação, a assessora Marina Assis confirmou que houve uma reclamação da creche Odílio Garcia, mas o problema teria sido solucionado. A coordenadora da escola, Adriana Simas, teria relatado que as crianças estariam com dificuldade pra se adaptarem ao cardápio. “As crianças não gostam de papinha de maçã. Então, agora no mês de setembro, trocamos pra banana e mamão [veja o cardápio completo na tabela abaixo]”, conta Marina.

A reclamação feita pela mãe A. realmente procede. A secretaria tomou conhecimento e a partir desse mês cada bebê receberá duas bananas. “Agora, a informação de que as crianças passam fome não procede. O cardápio é rico. O que pode acontecer é que algumas crianças podem não se adaptar”, comenta a assessora.

A assessora ainda diz que a secretaria está aberta pra receber os pais e que todas as reclamações serão analisadas. “Temos o cardápio mensal para todas as creches, mas temos flexibilidade pra alterar a qualquer momento”, finaliza.

A reportagem ligou durante toda a tarde de ontem pro CEI Odílio Garcia, mas não conseguiu falar com a coordenadora.

As creches em números

59 creches e 40 escolas

Quantidade de alimentos por dia:

11 toneladas e meia ou R$ 62 mil pra encher a pança da gurizada em cinco refeições diárias.

Só nas creches são 7500 pequerruchos

Regras:

É inteiramente proibido levar comida extra. Todas as crianças precisam respeitar o cardápio.

É norma para todas as creches.