Itajaí

Festival de Música de Itajaí completa 16 anos

“Fora do meio musical, o festival não tem sua história registrada”, reconhece Oliver Dezidério, diretor do Conservatório de Música de Itajaí

Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]

Por Victor Miranda

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Em meio à grande festa da regata francesa Transat Jacques Vabre, com a repaginada promovida pela administração municipal na festa da Marejada, feira náutica e demais atrativos do mega evento “Aventuras pelos Mares do Mundo”, músicos de todo o país se reuniram para a 16ª edição do Festival de Música de Itajaí, mesmo sendo diluída em um evento de repercussão internacional.

Desde setembro de 1998 o festival tem trazido à cidade grandes referências da música popular brasileira, aproximando os itajaienses da música e incentivando a formação musical em toda a região. Em 2013 o evento realizou 33 oficinas, com mais de 900 inscrições e shows nacionais ao longo de uma semana (de 16 a 23 de novembro).

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A importância do festival foi tão grande para a formação musical da cidade que, em função dele, surgiu a necessidade de se criar o Conservatório de Música Popular Cidade de Itajaí, no ano de 2007. A escola hoje é responsável pela formação de centenas de músicos, com 11 opções de cursos: piano, violão, bateria, percussão, guitarra, contrabaixo, flauta, saxofone, trompete, trombone e canto popular, com trabalho voltado principalmente para música popular.

No entanto, um evento de tamanha importância para a cidade tem pouco ou quase nenhum registro de sua história. Na sede da Fundação Cultural de Itajaí, uma das poucas memórias que se tem do festival são os 15 cartazes emoldurados que ficam expostos (o 16º, que acaba de acontecer, deve ser colocado em breve), o que é muito pouco para um evento que costuma trazer à cidade alguns dos nomes mais importantes da música popular brasileira.

Oliver Dezidério, diretor do Conservatório de Música Popular de Itajaí e organizador do festival, conta que já fez a proposta de se lançar um livro do festival, reunindo fotos e fazendo um levantamento sobre a trajetória do evento. A ideia era pra comemorar os 15 anos do festival, mas o projeto acabou sendo engavetado. “Fora do meio musical, o festival não tem sua história registrada”, considera o diretor que é pianista e iniciou sua carreira musical participando como aluno das oficinas do primeiro festival de música, em 98.

Na primeira edição do evento, Oliver teve a oportunidade de estudar com músicos renomados como Marcos Leite [pianista, produtor musical e arranjador ganhador de vários prêmios] e a partir daí decidiu fazer o curso de Bacharelado em Piano em Florianópolis.

A necessidade de se registrar a história do festival em um livro também é cogitada pelo superintendente da Fundação Cultural de Itajaí, José Amadio Russi. Mas ele afirma que a questão é mais complexa. “Corremos o risco do trabalho não sair como tem que sair e ainda temos que fazer uma seleção de fotos. Não se pensou nisso desde o início do festival”, reclama o superintendente, que estuda a possibilidade de viabilizar recursos para a publicação através da Lei de Incentivo à Cultura.

Como tudo começou...

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Toda ideia precisa sair da cabeça de alguém para depois se tornar realidade. Algumas pessoas foram fundamentais para que o Festival de Música de Itajaí pudesse surgir. A professora Mônica Uriarte, que é coordenadora dos cursos de licenciatura e bacharelado em Música da Univali, foi uma das mentoras do projeto, juntamente com o superintendente da Fundação Genésio Miranda Lins, Antônio Carlos Floriano.

A ideia inicial começou a ser concebida em 1997, com o intuito de criar um evento similar ao Festival de Música de Curitiba, porém com o foco mais voltado para a música popular. Em 1998 a Casa de Cultura Dide Brandão foi palco para o primeiro festival que trouxe para a cidade músicas de todas as regiões, tendo como uma de suas principais atrações o show do músico Lenine, que só voltaria a participar do evento 16 anos depois.

Tendo atuado como regente de vários corais na cidade, Mônica participou ativamente de um forte movimento musical na cidade na década de 90. “Havia um movimento de canto coral muito grande. Nessa época tínhamos a Noite dos Candelabros que reunia vários corais e que ganhou certa tradição na cidade”, comenta a professora.

Em 1997 Mônica assumiu a direção da Casa da Cultura Dide Brandão e começou a ser articulada uma proposta que inicialmente havia sido cogitada pelos membros do coral Licor de Pitanga, grupo com nove integrantes que ensaiava na casa da professora. “Foi em 97 que fomos amadurecendo a ideia. Participávamos do festival de Curitiba e lá conhecemos o professor Marcos Leite, que cuidava da parte da MPB do festival e também do professor Roberto Natali”.

Concebido o projeto, Mônica e Floriano pegaram um ônibus e foram a Curitiba com a missão de apresentar a proposta para Marcos Leite e convidá-lo para assumir a direção artística do festival. “Não tínhamos história e precisávamos do nome dele dando a sua chancela para o festival”, explica a professora.

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O evento contou com shows inesquecíveis de Lenine e do grupo Cama de Gato, do professor Pascoal Meirelles (baterista e percussionista que participaria dos sete primeiros festivais e que retornou em 2013 para ministrar uma das oficinas), entre outras grandes atrações.

Nos primeiros festivais, todas as oficinas eram realizadas na Casa da Cultura, e depois os shows eram realizados na Sociedade Guarani.O festival foi crescendo e a organização passou a emprestar o salão paroquial da Igreja Matriz.

Ano após ano o festival acabou entrando de vez para o calendário dos festivais de música. “Em janeiro tínhamos o festival de Curitiba, em julho o festival de Londrina e em setembro o festival de Itajaí”, salienta a professora.

Segundo a professora, a mudança de datas de realização complica a vida de professores e alunos que participam das oficinas. Em 2012 o festival aconteceu em abril e em 2013 foi bem complicado por ser em novembro. “Academicamente novembro é muito ruim porque é final de semestre, época de provas. E a mudança de datas em geral complica muito a vida das pessoas que vêm de fora e se programam para participar do festival”, considera Mônica.

Para a mentora do evento, um dos grandes momentos do Festival foi a realização das primeiras oficinas de coro infantil que chegaram a reunir mais de 300 crianças. “Foi de enlouquecer reunir todas aquelas crianças, mas o resultado foi gratificante. O coral lotou o pátio da Casa da Cultura numa apresentação inesquecível”, relembra Mônica.

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Quais os rumos do festival?

Em 2014 a programação cultural da cidade de Itajaí terá um calendário bem diferente, principalmente pelo fato de que a cidade não vai receber nenhuma regata. A competição internacional Volvo Ocean Race deve chegar à cidade somente em 2015. Por isso ainda não existe uma definição para a realização do 17º Festival de Música.

A administração municipal, nos últimos dois anos, tem concentrado os eventos do município no período das regatas internacionais, mas parte da classe artística de Itajaí tem se manifestado contra. Russi, no entanto, considera que fazer o evento juntamente com as grandes regatas internacionais acaba dando força para o festival que sempre teve dificuldades com divulgação. “Em função das regatas, nós conseguimos divulgar os shows que acontecem e a mídia fala do nosso festival”, avalia o superintendente.

Russi tem discutido com a Câmara Setorial de Música [espaço criado para estabelecer um diálogo entre os músicos, agentes públicos e pessoas que atuam no segmento musical], e existe a ideia de se realizar o festival no mês de setembro, data em que o evento costumava acontecer. No entanto, Russi acha mais interessante que o festival aconteça no mês de julho. “Com as férias escolares teremos muito mais espaço físico para realizar as oficinas”, considera.

No festival deste ano as oficinas foram realizadas em quatro espaços físicos diferentes: na Casa da Cultura Dide Brandão, no campus da Univali, no Conservatório e na sede da Banda Filarmônica de Itajaí.

A importância do evento para Itajaí

O músico compositor e instrumentista Itamar Collaço conhece de carteirinha o festival de Itajaí. Baixista do Zimbo Trio por nove anos, Collaço é considerado um dos padrinhos do conservatório da cidade. “Depois de quatro anos sem participar do festival, eu fico muito feliz e surpreso ao reencontrar os alunos que conheci em 2009, quando dei uma oficina, e hoje vejo que muitos deles são músicos grandiosos”, afirma o baixista.

Collaço já deu oficinas em praticamente todos os festivais do Brasil e, pela experiência que tem, considera que o festival de Itajaí está no caminho e cada vez melhor. “Quando você investe em cultura, o retorno é sempre garantido”, afirma o baixista que já dividiu o palco com Gilberto Gil, Maria Bethânia, George Benson, Alceu Valença, Dominguinhos, John Pizzarelli, entre outras feras da música.

O festival e a política

Para se realizar um evento do porte do Festival de Música de Itajaí, o apoio dos agentes públicos é fundamental, principalmente pelo fato do investimento em cultura ser pouco significativo no orçamento dos municípios.

O empresário Guto Dalçóquio é um personagem que também contribuiu para a realização do festival, onde passou a atuar diretamente a partir da segunda edição. Guto foi superintendente da Fundação Cultural (de 1999 a 2000) e vice-prefeito na gestão de Jandir Bellini de 2001 a 2004. “Eu tinha apenas 22 anos quando aconteceu o primeiro festival, mas tive a oportunidade de estar a frente da Fundação Cultural e incentivar a realização desse evento”, afirma o empresário que avaliza a participação fundamental de Floriano e Mônica para a concretização do festival. “Eles foram os grandes operadores desse projeto todo”.

Geralmente os projetos realizados por uma administração municipal estão sujeitos aos impasses das diferenças políticas. Mas o festival tem resistido às mudanças de gestão. Depois de perder as eleições para o prefeito petista Volnei Morastoni, nas eleições de 2004, Dalçóquio afirma que teve como uma de suas grandes preocupações o possível fim do festival de Música. “Na época o único pedido que eu fiz para o prefeito Volnei foi para que ele não acabasse com o festival”, ressalta o ex-vice.

Morastoni tentou popularizar o festival, realizando shows abertos na praia de Cabeçudas e também nos molhes da Atalaia. “O grande problema é que o festival era realizado justamente num período de muitas chuvas. Mas tenho que reconhecer que, apesar de serem adversários, a intenção foi muito boa”, reconhece Guto.

O empresário também revela uma preocupação com relação à memória do festival. “Eu já falei com o Russi a respeito da preservação da história do festival, inclusive no site da fundação, que não traz nenhuma informação sobre a trajetória do evento. Não temos nenhum registro e precisamos cuidar pra que isso não se perca”, conclui.




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