Os últimos dias tinham sido muito difíceis: a dor não diminuiu. Olhando para frente, era tempo de lembrar do passado. Sempre fora uma pessoa simples, de família simples, de um lugar simples. Havia nele uma timidez sedutora, um sorriso que ficava pela metade, um jeito sempre a meio caminho. Pela estrutura social deveria ter servido às forças armadas, mas nem o local, nem a vontade o impulsionavam. Sempre preferiu o trabalho sem exaltação de status. Era parte de seu sorriso sempre a se concluir.
Em parte, viveu o estilo de vida do pai. Embarcou em postos de atividades com processos regulares, rotineiros, disciplinados. Mas, ao contrário do pai, não tinha inclinação para liderança de grupos. Vivia em paz da maneira que vivia. Parecia que nada poderia lhe incomodar, embora sempre houvesse uma perturbação aqui ou ali. Com suas atitudes e comportamentos ensinava que, mesmo que o problema fosse grande, não deveria ser tratado com gritos e desequilíbrios ou agressividade. A paz contornara seu rosto.
Gostava de pescar, mas não era a paixão. Pescar era uma vontade de estar em grupo, num mundo reduzido, num barco a remo, isolados pelo mar. E dali ter o prazer de viver com risadas, com a garantia de produzir memórias, e deixar o tempo passar. Vez ou outra alguma tensão pelas manifestações dos aquáticos não vistos, e sentidos em pequenos puxões regulares, a testar a paciência e petrificar a atenção. Não havia ali nenhum interesse em acúmulo, senão a postura de estar submetido às condições de uma vida simples e regulada pela natureza. Preferia a vida simples. Marcava a forma como sempre vivera: comunitária, extrativista, sem apelos urbanos ou de status. Viver sempre foi uma forma simples de ser.
Conselheiro, sempre pregou a pacificação para resolver os problemas. Parecia sempre manifestar que a vida tem um rumo marcado, com poucos caminhos de muitas curvas. Os delírios e a violência não resolveriam os problemas, mas o seu exato contrário. Ser agressivo é ser mais um problema. Tinha os olhos claros, em tons diferentes, como seu avô. Cada olho parecia conversar com o outro a dizer que as coisas são as mesmas, apesar das diferenças de como eram vistas.
Os últimos dias tinham sido difíceis, mas nunca apagaria sua trajetória. Encarava as lutas em voz baixa, olhar pacífico, e conselhos equilibrados. Por vezes a tensão dos problemas que lhe eram apresentados não eram compatíveis com a complacência. Havia a impressão de que o turbilhão não era visto por ele que tinha olhos claros em tons diferentes como seu avô.
Teceu a vida com charme lento, movimentos leves, cores em degradê. Viveu a vida sem pressa, sem surtos, sem sustos. A não ser pelo susto de saber que os dias seriam difíceis. Gostava de viver! Gostava de viver somente se fosse em paz! Trabalhava para garantir que aos seus não faltasse nada que fosse fundamental para viver de forma suficiente e simples. Gostava de sorrir, embora seu sorriso ficasse a dever o final. Não havia fim! Nada terminara! O barco, o mar, os peixes estariam ali. Nunca lhe faltou o sorriso sem ser finalizado. Nem nunca vai faltar!
*Este artigo é uma homenagem ao Nino, pessoa da paz, irmão de coração!