Na medida em que os processos políticos passam a apresentar mais autonomia e se mostram como um sistema próprio de organização, os partidos políticos surgem como parte da cadeia política. Como um sistema com certo grau de autonomia, de complexidade interna e de especialidade no encadeamento da divisão do trabalho. A partir de então fica estruturado um sistema político com vida própria.
Essas organizações servem para dar pulso aos interesses políticos de representação de poder e de valores para definir caminhos potenciais para desenvolvimento político e democrático. Por meio dos partidos políticos grupos sociais comandam os passos a serem dados. Por certo, a legitimidade de um partido político está em sua organização e sua capacidade de agir em nome de grupos sociais mais amplos. Seduzir o eleitor para este caminho é garantir essa legitimidade.
Porém, muitas vezes, os partidos políticos são mais representados por oportunidades geradas pelas situações do que por suas orientações de valor. Nesse caso, o populismo e o personalismo tomam conta da pavimentação dessa estrada. Não são mais os valores democráticos, mas as condições de uma batalha contra os outros que fortalecem a representação. Aqui, o partido político deixa de ser raiz política e representa frutos de guerra. Mitos nascem assim.
No caso brasileiro, as estruturas políticas e as regras do jogo fazem com que os indivíduos sejam mais importantes do que a organização interna. Os partidos políticos servem mais como controle das operações do que como representações democráticas. Os “donos dos partidos” o utilizam como propriedade pessoal, produzem intervenções, esquecem de preparar candidatos e lutam por seduzir um ou outro candidato para integrar o quadro partidário. O patrimonialismo, isto é, agir como dono do partido revela também os valores políticos que dão substância ao comportamento.
Não há um debate político propriamente dito, mas arrecadação de “tesouros” que vão se encontrando na estrada. E ao criar as “janelas partidárias” para que os indivíduos políticos possam saltar de um lado para o outro sem nenhum problema de fidelidade ou de aprofundamento das referências políticas, a valor das organizações políticas fica “machucado”. A promoção do dia é para o indivíduo e não para o sistema político.
Os partidos políticos considerados mais fortes precisam de esforços extras e de ingredientes especiais para manter sua energia diante do afrouxamento do sistema. Mais do que uma operação democrática, novamente as tendências ao personalismo são intensificadas, o patrimonialismo político se fortalece e as condições de controle e influência sobre o eleitorado fica dissolvida.
Partidos mudam de nome, se aproximam e se afastam de acordo com as conveniências e a seleção de candidatos se faz por oportunismos. Os pré-candidatos podem mesmo ser escolhidos mais pela aparência que podem colocar no “mercado político-eleitoral” do que por valores de identidade política. Na maioria das vezes, ao se excluir tais valores, servem apenas a indicação de escores eleitorais em campeonatos eletivos. Os partidos políticos tendem a se enfraquecer.