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Por Vanessa Tonnet - Vanessatonnet.psi@gmail.com

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A polêmica do Hino Nacional


Na minha infância, fiscalizávamos os jogadores de futebol antes das partidas da Seleção para conferir se eram brasileiros de coração e cantavam o hino com vontade.

Alguns, temendo a represália, faziam mímica e somente abriam a boca.

Devo ser da última geração que incorporou o Hino Nacional. Até porque ele era tocado toda manhã antes do início das aulas. Não tinha como não aprender.

Mas confesso que foram anos de superação de gafes. A letra de Joaquim Osório Duque-Estrada, acrescentada na melodia de 1831, não é das mais digeríveis.

Dependemos de um dicionário ao lado, ou da presença do nosso tataravô. Já bobeei algumas vezes com “se ergues da justiça a clava forte”. Demorei a constatar que “clava” existia, e era uma arma. Não entrava em minha cabeça que “garrida” não representava uma falha indesejada de pronúncia, significava “graciosa”.

“Impávido colosso”, então, mostrava-se com sentido enigmático. Fui aos poucos conhecendo a nossa imensidão destemida.

Como achar que “lábaro” queria dizer “bandeira”? Era um pega-ratão da prova oral. Tampouco compreendia o que fazia um seio perdido ali, um topless em nossa liberdade.

Não há mais como cobrar que se tenha o hino decorado na ponta da língua. Não reproduzi-lo verbalmente não significa ausência de patriotismo, de enraizamento, de cuidado ufanista.

Seria sim bonito que as crianças descobrissem o hino, sem dúvida, mas sua composição é muito adulta e combina mais com a adolescência. Se o hino passasse pelo crivo do programa nacional do Livro Didático, acabaria classificado como adequado ao Ensino Médio.

O que tradicionalmente acontece é cantar sem entender o que está cantando, ou cantar errado por toda a vida, jamais percebendo os enganos, deduzindo as estrofes, trocando termos complexos por palavras mais cotidianas.

A cantora Ludmilla quase foi cancelada porque emudeceu em parte do Hino Nacional antes do Grande Prêmio de São Paulo de Fórmula 1, no domingo passado. Muitos entenderam que ela não dominava a composição.

No vídeo que circulou nas redes sociais, a voz de Ludmilla desaparece logo após o trecho “ouviram do Ipiranga as margens plácidas”. Uma falha técnica gerou um debate interminável. A artista passou a ser acusada de descaso com o país.

A cobrança pelo verde-louro da flâmula foi tão contundente que ela deu o troco e reprisou a apresentação no Prêmio Multishow, na noite de terça-feira (7). Para expor incontestável fluência, cantou à capela, destacando cada verso, dessa vez imune a tropeços aparentes.

Não acho vergonhoso não memorizar o hino de imediato. Qualquer um pode assimilá-lo, como eu, no decorrer da prática. O que poderíamos considerar como antipatriotismo é o ato de furar fila, a malandragem, o descaso com o patrimônio público, a desobediência à lei e à ordem, o pouco apreço pela educação e pelo professor, a truculência no trânsito, a briga das torcidas, a completa indiferença à dor do outro.

Uma nação é civilizada pelo seu silêncio, pela forma como demonstra o respeito sem palavras: pelo caráter.

Na era do “cancelamento”, estamos ficando exaustos com os erros sem sentido. Precisamos nos atentar ao que de fato importa e significa na vida.


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