No dia 28 de julho passado, completaram-se 100 anos de nascimento do escritor itajaiense Arnaldo Silveira Brandão, filho de Alcina Silveira Brandão e João Marques Brandão. Seu pai era conhecido em toda a cidade como Joca Brandão. Arnaldo Brandão, como ficou sendo o nome literário, tinha como irmão o pintor Dide Brandão, José Bonifácio Brandão, e mais dez outros, entre irmãs e irmãos.
A família Brandão se estabeleceu em Itajaí na última parte do século XIX. O avô Manoel Marques Brandão veio da cidade do Porto, Portugal, e aqui se estabeleceu como comerciante. Ele tinha gosto especial pelo teatro e, como um dos fundadores do “Club Luzo-brasileiro”, em 1880, primeira associação cultural de Itajaí, criou o primeiro grupo teatral da cidade. Quando os filhos cresceram, em 1895 ele montou um “teatrinho” em casa, que foi a base do futuro Corpo Cênico da Sociedade Guarani, fundada em 1897, com o incentivo dele.
A família tinha, portanto, acentuada vivência cultural, morando numa casa em que obras de arte e livros se faziam muito presentes. Joca Brandão, pai de Arnaldo, era ator e diretor de teatro, músico, jornalista, cultor das tradições religiosas e culturais e, logo que se casara, havia montado numa das salas de sua casa pequeno museu para preservar a memória histórica de Itajaí.
Foi esse ambiente familiar, em que se vivia com intensidade arte, literatura e religião, o formador do futuro poeta, cronista, contista, romancista e teatrólogo Arnaldo Brandão. Seus livros começaram a ser publicados a partir do ano de 1951. O primeiro deles, Bas-fond, poesia existencialista, recebeu Menção Honrosa do Clube Internacional de Escritores e Jornalistas, em Paris. O livro O Vendedor de pinhões, em que registra hábitos e costumes das gentes do Vale do Itajaí e do Planalto, mereceu elogios da também escritora e conterrânea Lausimar Laus. Seu único romance, Bartolomeu, é a história trágica de um amor não correspondido. A lida de cronista e viajante deu causa a Um brasileiro nos caminhos da Europa e a muitas outras crônicas publicadas nos jornais de Itajaí e revistas catarinenses. São ainda de sua lavra três peças de teatro: A Taverna do Gato Preto, Cortina Amarela e Luz. Esta última é uma peça religiosa sobre a vida de Santa Luzia, de 1957, cujo valor das vendas do livro ele destinou às obras de reforma da antiga Matriz de Itajaí, a Igrejinha da Imaculada.
Ainda na década de 1950, Brandão se aproximou do afamado Grupo Sul, movimento de escritores catarinenses voltado à renovação literária de Santa Catarina, que publicava Sul/Revista do Círculo de Arte Moderna. Nela se estamparam dois artigos seus, em 1956 e 1958. Inclusive, o romance Bartolomeu haveria de ser publicado pela Edições Sul, do mesmo Grupo. Foi membro da Academia Catarinense de Letras e, mesmo residindo no Rio de Janeiro e a seguir em Brasília, depois de ter sido por três anos piloto da Marinha Mercante, sempre se manteve muito ligado a Itajaí e a Santa Catarina. Arnaldo Brandão faleceu em 5 de fevereiro de 1976, por causa de trágico acidente rodoviário, na BR-101, à altura de Penha, em que também faleceram seus irmãos Dide, Maria Dolores e Joana. Está sepultado em Itajaí, no jazigo da família, no Cemitério da Fazenda. A Escola Básica Municipal do bairro Imaruí leva o nome de Arnaldo Brandão, como homenagem que lhe prestou o município em 1978.