Setembro Amarelo.
O dia estava lindo. Céu azul, algumas nuvens brancas e uma leve brisa. Aos poucos o vento começou a soprar, algumas nuvens escuras começam a se formar. Tudo muito sutilmente, escondendo o que haveria de chegar. Dia após dia, assim, vento e céu nublado, o sol não brilhava mais.
Só que, de repente, numa velocidade inimaginável, tudo mudou. O céu cinzento anunciava uma tempestade e eu não havia me dado conta. Pensei em pedir ajuda, porém, refleti: Quem nunca passou por uma tempestade? Vou dar conta. Esse foi o meu engano. Dias de tempestades e eu esperando que aquilo passasse, mas me enganei mais uma vez.
A tempestade evoluiu para um furacão categoria 5 na escala de furacões, ventos de quase 300 km por hora. Agora, pedir ajuda não era mais uma decisão: era uma necessidade. Tentei pedir, porém, já era tarde demais. Visibilidade distorcida pela chuva, pelos raios e pelo vento. Não sabia mais qual era o caminho de volta. Eu esperava que acontecesse o que muitas pessoas chamam de chegar ao fundo do poço. O pensamento era: chegando ao fundo do poço eu não cairei mais. Porém me enganei novamente. Depressão não te dá nem a oportunidade de chegar ao fundo do poço, ela é uma queda livre sem fim.
Os meses passaram e então aconteceu algo que muita gente pensa que é uma decisão e eu respeito, porém não concordo. Penso que o suicídio não é uma decisão. Falar “decidiu tirar a própria vida”, para mim, está errado. Pois chega um ponto que o sofrimento é tão brutal que suicídio se torna a única solução, na interpretação de uma mente transtornada. Na interpretação de uma pessoa que enxerga o mundo com a lente da depressão.
Então ir embora naquele momento era a única solução. Mas as pessoas que estão a sua volta? Você não está sendo egoísta? Não está pensando só em você? Você vai aliviar o seu sofrimento e fazer muitas pessoas sofrerem. Que pessoas? Estou meses aqui no meio desse furacão, estou sozinho, completamente isolado. Não me reconheço mais. Não tenho mais nenhum sentimento dentro de mim. O vento varreu tudo, deixou só o medo e a angústia. Preciso ir embora. Nada pode ser pior que esse furacão. Nesse momento, já não era eu falando, era a depressão falando por mim.
Ninguém que tenta tirar a sua própria vida está querendo morrer. Está apenas querendo mudar uma situação, porém o sofrimento excessivo impede que a pessoa tenha uma visão mais ampliada do mundo. Há um estreitamento cognitivo, ela só enxerga a sua própria dor. Enxerga o mundo com a lente da depressão.
Quero dizer a você que está lendo esse pequeno texto que, se em algum momento da sua vida você não se sentir muito bem, entristecido, sem energia, às vezes muito irritado, a vida parecendo que ficou meio preta e branca, não tenha medo e nem vergonha de pedir ajuda. Transtorno mental é doença e tem tratamento. Gostaria de observar algo muito importante: nem todo caso de transtorno mental evolui para pensamentos suicidas. Suicídio é sintoma de gravidade de alguma patologia psiquiátrica. Por isso é muito importante pedir ajuda e começar um tratamento para que a doença não evolua. É imprescindível o acompanhamento de um profissional da área da saúde metal.
“Dentro de todo suicida há alguém querendo viver.”
Dra. Alexandrina Meleiro.
Psiquiatra.
Falar é melhor solução.
José Roberto Silva.