Elizabeth Maria Reiser Malburg (1876/1996), esposa do comerciante e industrial Bruno Fernando Malburg, era filha de imigrantes alemães estabelecidos em Itajaí como comerciantes (hoteleiros). Sua mãe, também de nome Elizabeth, fora ainda exímia parteira de muitos nascidos nos fins do século XIX e início do seguinte.
Os alemães e seus descendentes em Itajaí tiveram boa convivência com itajaienses de outras etnias, mormente com luso-brasileiros. É verdade que estranhamentos havia, mas só ocasionavam conflitos quando em razão de desentendimentos particulares. No entretanto, durante os períodos da 1ª e 2ª Guerras Mundiais, os atos exacerbados de patriotismo e nacionalismo brasileiros resultaram em violência e perseguições a alemães e descendência na cidade.
Durante a 1ª Guerra Mundial (1914/1918), manifestações conduzidas por líderes exaltados, dentre os quais o professor Henrique Midon, diretor do Grupo Escolar Victor Meirelles, ocasionaram depredações em residências e firmas de germânicos, ofensas e desaforos pessoais. Nessa ocasião, os padres da Congregação do Sagrado Coração de Jesus, que dirigiam a paróquia de Itajaí desde 1905, tendo à frente o vigário Padre José Foxius, assim como as Irmãs da Divina Providência, do Colégio Paroquial São José, todos nascidos na Alemanha ou de origem alemã, foram expulsos da cidade.
O período da 2ª Guerra Mundial (1939/1945), notadamente a partir de 1942, quando o Brasil declarou guerra ao Eixo (Alemanha, Itália e Japão), juntara a indignação pelo afundamento de navios brasileiros por nazistas com a brutal campanha de nacionalização do governo Vargas. A animosidade contra alemães foi ainda maior e os atos de violência contra eles tinham o patrocínio de certas autoridades policiais. Tais atos vexaminosos levaram a interdições, prisões, execração pública, invasão de domicílios, expulsão compulsória da cidade.
Desaforar alemães em via pública se tornou prática de certos patriotas exaltados. Foi o que aconteceu com a já viúva Elizabeth Malburg. Estava certa feita varrendo à frente de casa, quando um grupo desses desvairados passou a xingá-la, chamando-a de “quinta-coluna”, ou seja, traidora da pátria. Ela parou a varrição e, com as mãos apoiadas na vassoura, indagou:
- Todos vocês têm filhos? Pois eu tenho doze. E o mais moço está agora num navio da Marinha, defendendo o Brasil na guerra!
Os exaltados então emudeceram; ela calmamente voltou-lhes as costas e continuou a varrer. Dividirem-se os brasileiros, uns contra os outros, em definitivo, não é bom para ninguém, em tempo algum.