Coluna Fato&Comentário
Por Edison d'Ávila -
Praia Brava e o Centenário
O DIARINHO publicou recente reportagem sobre a reurbanização da principal avenida da Praia Brava, que a vai embelezar e lhe dar ares de moderno boulevard. O projeto elogiável tem parceria público/privado: municipalidade e empresários da construção civil.
É auspicioso ver aquele balneário a crescer e se qualificar urbanisticamente. Quando num passado recente era visto com desconfiança, a ponto de ter seu nome trocado para Balneário Santa Clara, por se acreditar que o nome Praia Brava depunha contra o lugar e travava seu progresso. Hoje, Brava é uma grife agregadora de valores e ganhos.
Mas, muito antes da espetacular virada urbanística e mercadológica do bairro, um itajaiense sensível, amante da terra natal e dos seus lugares especiais deu à Praia Brava renome literário, prestou-lhe inigualável homenagem no campo da literatura e da poesia. Trata-se do poeta Marcos Konder Reis, que em 1950 publicou seu sétimo livro de poesias com o título de “Praia Brava”, inequívoco resgate de um dos recantos singulares de Itajaí, da cidade da infância, sempre poeticamente revivida por ele.
Pois Marcos Konder Reis, no ano que vem, 2022, se vivo, completaria cem anos. Ele foi saudado pelo escritor e crítico literário Lúcio Cardoso como “uma das mais espontâneas forças da nossa poesia moderna”, incluindo-o entre os melhores poetas da Geração de 1945, com Lêdo Ivo, Paulo Mendes Campos, João Cabral de Melo Neto, Hélio Pelegrino. Tristão de Athayde, Sérgio Milliet e Sérgio Buarque de Holanda, críticos literários e ensaístas, muito apreciavam sua obra. É o poeta maior de Itajaí.
O mesmo Lúcio Cardoso se propôs encontrar a razão do título “Praia Brava”, dado ao livro, ao dizer que “desse selvagem mar o jovem poeta nos dá uma tão viva e preciosa imagem”. Os ventos do mar, o movimento das ondas, as janelas da infância, o mundo fantástico do poeta, tudo está em “Praia Brava”.
Então, será muito em boa hora que o poeta de “Praia Brava” e Praia Brava se reencontrem na comemoração do Centenário de nascimento de Marcos Konder Reis. Praia Brava precisa conhecer o Poeta que a quis notabilizada antes que fosse afamada e rica como hoje o é.
Agora, outra parceria elogiável pode ser estabelecida, por conseguinte, entre os bem-sucedidos investidores do bairro e o grupo de amigos e cultores de Marcos Konder Reis que vão organizar o programa de eventos alusivos aos 100 anos do seu nascimento. Uma nova edição do livro “Praia Brava” deve ser lançada. E ficará bem uma escultura do poeta, sentado num dos bancos do novo boulevard, com o livro “Praia Brava” entre as mãos, a contemplar o imenso mar, o mar absoluto da Praia Brava. Será a eternizada imagem do reencontro poético e artístico do poeta com o mar da Praia Brava que lhe inspirou o livro-título.
Desse jeito, já se homenageiam Drummond, em Copacabana; Tom Jobim, em Ipanema; Millôr Fernandes, no Arpoador; Clarice Lispector, no Leme.