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O legado da copa


Ainda estou meio tonto. Não quero parecer teatral, mas haverá uma boa alma que me acorde e diga que tudo não passou de um pesadelo? Sou modesto. Não quero virar o jogo, derrotar os alemães. Mas ao menos mudar o placar para, digamos, 2x1, 3x2, algo assim...

E os alemães, hein? Não foi elegante enfiar sete. Afinal, somos os anfitriões. Recebemos todos de braços abertos, cheios de calor humano. Vamos logo abraçando e beijando todo mundo. E os alemães nos retribuem assim, invadindo a nossa área como uma divisão Panzer, metendo gol atrás de gol? Onde está o fair play? E por que não pararam no sexto gol, de tal sorte que, em certo sentido, teríamos alcançado o hexa? Sete foi um hexagero, se me perdoam o trocadilho.

Deviam explicar à nossa zaga, aos nossos cabeças de bagre, digo, de área, que a hospitalidade não é escancarar a defesa, abrir as portas, as laterais, os espaços, deixar o exército alemão - aquilo era um exército, não um time de futebol - entrar, dançar e meter gol à vontade. Foi nisso que deu o Felipão adotar o modelo light do “Lulinha paz e amor”. Há certas coisas que dão certo na política, mas não no futebol.

É hora de esfriar a cabeça. Não há mal que sempre dure nem bem que nunca se acabe. Lembrando Saramago: “O bom da derrota é que ela não é definitiva. O ruim da vitória é que ela também não é definitiva”. Bacana, não é? Mas precisava ser de sete?

E, por favor, parem de dizer que o futebol é uma caixinha de surpresas. Se fosse uma caixinha, estaria bem. O que está tirando o meu sono é que o jogo contra a Alemanha foi um contêiner de surpresas.

Nunca apoiei aqueles desordeiros e pichadores do “Não vai ter copa”. Mas foi um grave erro não tê-los compreendido a tempo. Eles não eram radicais. A intenção era a melhor possível. Tudo o que eles queriam era nos poupar do vexame histórico.

Nessas horas, é bom só falar o idioma pátrio. Sabe-se lá o que o mundo anda dizendo a nosso respeito, depois da traulitada alemã. Sabe-se lá o quanto andam rindo da nossa ideia tola de que ainda somos bons de bola.

Mas não há de serenata; dias melhores violão. O edifício balançou mas não caiu. Ainda bem que, na trajetória da evolução, somos condicionados a abrandar na memória e esquecer os acontecimentos desagradáveis. Precisamos tomar um fôlego. Talvez em 50 ou 100 anos, tenhamos superado o trauma. Mas quero avisar: se eu estiver vivo e um outro Lula, lá na frente, trazer a ideia de jerico de uma nova copa no Brasil, eu, que sou de boa paz, me reservo o direito de cometer um desatino.

E ninguém venha mais com a história de que Deus é brasileiro. Só se Ele estava dormindo durante o jogo.

Mas, caro leitor, não fiquemos lamuriando pelos cantos, encontrando culpados, xingando o Felipão - se bem que ele merece. Como ensina Drummond, de tudo fica um pouco. De toda a “malaise” que nos acomete, do nosso orgulho ferido, podemos dizer - ao menos - que está bem identificado o legado da copa: um fiasco para a eternidade.


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