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Voto contra


Quanto mais tempo um partido fica no poder, mais se deteriora o seu patrimônio ético e político e se desgasta o modelo de gestão. O compromisso com ideais elevados e republicanos vai, aos poucos, dando lugar ao esforço de permanecer no palácio. Vai se esgotando, por igual, o repertório de truques e manobras para não largar o osso. Isto só acontece com o PT, o projeto lulopetista? Não. Acontece também com os tucanos, os socialistas, o PMDB e quem mais for.

Claro, esse é um modo particular e pessimista de olhar a eleição, a política, o poder. Não há nada de “científico” em tal abordagem. É somente uma percepção, uma maneira de ver, a partir da observação realista dos fatos e da experiência histórica, ao menos daquela que está ao alcance dos nossos sentidos. Muda-se, alterna-se, entre outras razões, como uma forma de protesto, um grito de indignação diante do estado de coisas.

É que os governos – todos eles – mentem. Como não cumprem as promessas que displicentemente fazem em campanha, gastam boa parte do tempo louvando os próprios feitos, inflando-os ou simplesmente inventando-os. No que dá errado, nas promessas não honradas, nos malfeitos e nos percalços da trajetória, põem a culpa na imprensa, nas oposições, nas conjunturas mundiais, nas “elites” - com as quais, depois, nos salões do poder, levantam brindes de amável convivência.

Vejam o horário gratuito. Se você acreditar no que vê e ouve, vai pensar que a política - ao menos no Brasil - é um campo onde atuam os virtuosos, os honestos, os operosos, os defensores dos fracos e oprimidos. O candidato se esmera na narrativa dos próprios méritos, da fidelidade com os interesses populares, do quanto já fez e do quanto ainda fará pelo povo. No Brasil do horário político, estamos na antessala do paraíso.

Os candidatos se apresentam como pessoas desprendidas, esbanjando simpatia, falando de respeito à coisa pública e de amor ao país. Na tela, se sucedem imagens idílicas, onde o sol sempre brilha, os trabalhadores têm dentes perfeitos e sorriso largo, as crianças brincam, inocentes e felizes. Ao fundo, música suave para dar o clima de harmonia perfeita. Os clipes louvam a coragem e evocam a luta do povo. E cantam as glórias do partido, do candidato. Tudo para tocar os corações. Nada para alcançar a cabeça, o raciocínio. Tudo muito comovedor. E falso.

O horário político despolitiza, confunde e deseduca. É o horário da não-política. As questões são expostas na superfície rasa, focadas nos pontos periféricos, de forma a desviar o eleitor dos conteúdos relevantes. Não há mensagem: o meio é a mensagem. É o território dos oráculos da marquetagem, os protagonistas principais, mais importantes que partidos, candidatos e eleitores.

Só pela pantomima pasteurizada, de que todos participam, faceiros, já seria ético e justificável o voto contrário aos atuais governantes e detentores do poder, na esperança de que um dia eles percebam que a parte da sociedade que trabalha, produz, pensa e não depende do governo está cada vez mais enjoada, para não dizer enojada.


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