POLÊMICA
Federação reage à proibição na primeira praia de naturismo do Brasil
Entidade diz que município deveria combater crimes em vez de proibir prática legítima
João Batista [editores@diarinho.com.br]
A proibição do naturismo na praia do Pinho, em Balneário Camboriú, provocou reação da Federação Brasileira de Naturismo (FBrN). A entidade manifestou preocupação com a medida anunciada pelo município, criticou discursos moralistas e fez questionamentos sobre os reais motivos para a decisão.
Considerada a primeira praia naturista do Brasil, com reconhecimento oficial desde 1988, o Pinho terá a prática do nudismo revogada por decreto, conforme anunciado nesta semana pela prefeita Juliana Pavan (PSD). Um lei aprovada na Câmara de Vereadores também tira o reconhecimento do local com área de naturismo e proíbe a prática em outras praias da cidade.
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A mudança vem após associações de moradores das praias agrestes denunciarem problemas de segurança na região. Casos de sexo ao ar livre, orgias, perturbação da vizinhança, lixarada em área ambiental e camisinhas jogadas pelas trilhas foram relatados. Vídeos de “farras sexuais” no local também motivaram a revolta de moradores e vereadores.
Em nota pública assinada pela presidente Paula Silveira, a FBrN lamentou as alterações. “A Praia do Pinho não é apenas um espaço geográfico. Trata-se de um marco histórico do naturismo brasileiro, reconhecido nacional e internacionalmente, que por décadas representou um ambiente de convivência respeitosa, liberdade responsável e contato consciente com a natureza”, afirma.
A entidade ressaltou que o naturismo não pode ser confundido com nudismo desordenado e que a prática é regulamentada, com base em valores éticos. “Não se confunde, em hipótese alguma, com comportamentos inadequados, atos obscenos ou crimes sexuais”, destaca a federação, apontando que crimes devem ser combatidos com fiscalização, investigação e punição, e não com o fim de uma prática legítima.
Omissão do poder público em reforçar a segurança
Na manifestação, a federação de naturismo relata que os próprios debates na câmara mostraram que crimes, inclusive sexuais e ligados ao uso de drogas, ocorrem em vários espaços públicos da cidade, e não apenas na praia do Pinho.
Ainda assim, a entidade questiona por que a escolha foi pelo fim do naturismo, em vez de serem adotadas medidas pra fortalecer a segurança e a fiscalização. “Punir corretamente uma minoria que age fora das normas sempre foi, e continua sendo, mais eficaz do que eliminar um direito coletivo por falhas de gestão e ausência do Estado”, avalia.
A presidente da federação reconheceu que a falta de uma associação naturista no local prejudica a atuação pela defesa e organização do espaço, mas frisa que isso não justifica a retirada de um direito. Para ela, por trás de discursos moralistas contra o naturismo estariam interesses econômicos.
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“A possível venda do Complexo do Pinho e a crescente especulação imobiliária na região levantam preocupações legítimas”, afirma. A federação lembra que parte das pessoas que pedem o fim do naturismo no Pinho escolheu morar na região quando a praia já era reconhecida como naturista, mas que agora defendem mudar a lei.
João Batista
João Batista; jornalista no DIARINHO, formado pela Faculdade Ielusc (Joinville), com atuação em midia impressa e jornalismo digital, focado em notícias locais e matérias especiais.
