O DIARINHO conversou com a idealizadora e coordenadora, Bruna Roberta Wessner Longen, que explicou como tudo começou. Ela conta que o projeto nasceu enquanto fazia mestrado em políticas públicas. “Esse tipo de programa é muito comum nos Estados Unidos, onde várias unidades prisionais desenvolvem programas dessa forma, tanto unidades femininas quanto masculinas, desde a década de 70. Pensei: por que não tentar aqui no Brasil também?”, lembra.
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O ReabilitaCÃO começou como piloto há cinco anos no Complexo Penitenciário do Vale do Itajaí. Em 2024, virou política pública estadual e também foi consolidado por uma resolução nacional. O programa acolhe cães vítimas de abandono ou maus-tratos no município. Os internos do regime semiaberto cuidam dos animais e ajudam no processo de adoção responsável. “Eles acolhem esses animais no Reabilita Cão, cuidam deles e destinam de forma responsável para adoção”, explica.
O impacto aparece no comportamento dos cães e também na vida dos internos. “Hoje, somos muito felizes porque o número de reincidência dos presos que passam aqui pelo ReabilitaCÃO, por enquanto, ainda é zero e a gente espera que assim permaneça”, diz Bruna.
Programas de ressocialização buscam reduzir a reincidência ao oferecer rotina, responsabilidade e novas perspectivas aos internos. A ideia é que, ao assumir tarefas e desenvolver vínculos positivos, a pessoa tenha mais chances de reconstruir a vida fora do sistema prisional.
A expansão do ReabilitaCÃO ganhou força depois que uma comitiva de Goiás veio a Itajaí conhecer o trabalho. A visita reuniu o Ministério Público, o sistema prisional goiano e a vereadora Amanda de Deus Moura (PP), que é ligada à causa animal. Eles passaram um dia no complexo, acompanharam a rotina dos internos e observaram de perto a metodologia.
Bruna conta que o interesse surgiu justamente após essa aproximação. “O estado de Goiás gentilmente nos visitou recentemente, por meio de uma vereadora do município de Formosa, e o sistema prisional de lá em parceria com o Ministério Público topou a ideia e quer levar esse produto pronto, né, que é o Reabilita Cão”, explica. O projeto-piloto será implantado primeiro em Formosa.
Para Bruna, ver algo criado em Itajaí ganhar espaço em outros estados é emocionante. “O meu sentimento é de gratidão, é um sentimento de missão cumprida. Nós que optamos por ser servidores públicos, eu acredito muito nisso, a gente tem que servir a sociedade, a gente tem que tentar transformar o nosso pequeno mundo em algo melhor”, diz.
Ela explica que o programa busca mudar duas realidades ao mesmo tempo: abandono de animais e reincidência criminal. “A gente une duas problemáticas nacionais em uma só política pública”, afirma. “Se a gente conseguir tirar esses animais da rua, reabilitá-los, cuidá-los da forma que deve ser feita e destinar para as mãos certas, para as mãos de pessoas que sejam do bem, a gente se dá por muito satisfeito.”
O ReabilitaCÃO funciona em uma área verde do complexo, longe do movimento de presos e visitantes. O local tem escritório, depósito de ração e medicamentos, sala de aula, estrutura de banho e tosa e canis divididos em cinco espaços, além de uma maternidade. “A ideia é justamente deixá-los soltos o dia inteiro, porque tem piscina, tem brinquedo, tem acolhimento, tem comida”, explica Bruna. Segundo ela, isso faz diferença no comportamento dos animais. “Quando o pessoal conhece o ReabilitaCÃO, eles sempre comentam: como os animais são calmos”, completa.
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