ITAJAÍ
Alunos denunciam agressão a estudante em escola cívico-militar
Sargento deu corre em aluna que gravava abordagem a estudante que chegou atrasado
João Batista [editores@diarinho.com.br]
Alunos da Escola Básica Francisco de Paula Seara, no bairro São Judas, em Itajaí, denunciaram que uma estudante foi agredida por uma sargento responsável por cuidar do portão de entrada e saída dos alunos. O caso foi na manhã do dia 13 de novembro, quando a aluna gravava a abordagem de um estudante que tinha chegado atrasado no colégio.
A filmagem mostra a sargento falando com o menino, que explicava porque estava usando óculos escuros devido à dificuldade de enxergar e tentava permissão pra entrar na escola. No momento da conversa, a sargento percebeu que a estudante estava gravando do outro lado do portão. Ela vai pra cima da garota e manda aos gritos a aluna “sumir daqui”.
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A militar empurra a estudante pro lado da rua. “Tu não encosta em mim”, diz a estudante no vídeo. Conforme a filmagem, a sargento volta pro portão e deixa a aluna na calçada. Não há informações se o caso chegou a ser levado pra direção da escola. Uma outra aluna contou que nenhuma medida foi tomada pela secretaria após o episódio.
“Pelo visto, nem ligaram porque o cívico-militar está tomando conta da escola. Ninguém tá tendo autoridade, além do cívico-militar, dentro da escola”, relatou. A situação seria apenas um dos abusos que os estudantes do colégio estariam sofrendo desde que a escola virou cívico-militar, no início do ano.
Os alunos reclamam também da exigência de “formatura” em horário antes das aulas. Com isso, eles têm que chegar à 7h15 na escola, 15 minutos antes da aula. “Os alunos que chegam depois do horário, eles [militares] fazem três filas e anotam os nomes, até coronel chegar”, relata uma aluna. Os atrasados ainda levam sermão dos militares.
“Começam a falar um monte, que não vamos chegar a lugar nenhum chegando às 7h20, 7h25, sendo que o horário [da aula] é 7h30”, conta. Devido aos procedimentos do que chamam de “palhaçada” antes das aulas, os alunos afirmam que acabam entrando já perto das 8h nas salas de aula, o que prejudicaria o aprendizado.
“Isso acontece toda segunda, quarta e sexta-feira”, informa. Além disso, também estaria havendo interferência dos militares na parte pedagógica. “Todas as vezes que falta professor, vem um deles [militares] na nossa sala de aula – sendo que no início falaram que eles não iriam frequentar sala de aula – e passam ou hino pra gente ficar cantando ou até mesmo falando sobre política e coisas que não deveriam em ambiente escolar”, denuncia.
A assessoria da Secretaria Estadual de Educação de SC informou que apuraria as informações para ser manifestar sobre o caso. Não houve resposta até o fechamento da matéria.
Programa em 17 escolas no estado
A escola Francisco de Paula Seara virou uma unidade do projeto de escolas cívico-militares de Santa Catarina neste ano, integrando o plano de expansão com cinco novas escolas em 2025. Atualmente, o estado tem 17 unidades em operação no programa. A mudança em Itajaí partiu de pedido da direção escolar, pra atender cerca de 700 estudantes.
O modelo do programa prevê parceria das escolas com policiais e bombeiros militares da reserva, que atuam com foco na formação a partir de valores como disciplina, respeito e cidadania. Apesar da expansão no estado, o programa estadual é questionado no Supremo Tribunal Federal (STF), com ação de inconstitucionalidade pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE).
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João Batista
João Batista; jornalista no DIARINHO, formado pela Faculdade Ielusc (Joinville), com atuação em midia impressa e jornalismo digital, focado em notícias locais e matérias especiais.
