O problema, explicam os criadores de conteúdo, não é que o rótulo diga “comestível” no glitter de plástico. A confusão é pior: os dois tipos — o comestível, feito de amido ou celulose, e o decorativo, feito de plástico — ficam nas mesmas prateleiras, com embalagens parecidas e sem aviso claro na frente.
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Pra saber a diferença, só lendo a lista de ingredientes, que traz nomes técnicos como “polipropileno micronizado” ou “PET aluminizado”, sem citar “plástico”. Quem não conhece os termos leva pra casa um produto que não pode ser ingerido. Até as próprias vendedoras se confundem e vendem o glitter de plástico como se fosse comestível.
A polêmica começou com um vídeo do influenciador Dario Centurione, do Almanaque SOS, que mostrou potes vendidos como glitter “para alimentos”. Ao ver o rótulo, descobriu que o ingrediente era só polipropileno micronizado, um tipo de plástico. “Tem alimento sendo vendido cujo ingrediente é só plástico. E a culpa não é de quem vende”, disse Dario.
Influenciadores apontam falha dos fabricantes
A bióloga Ana Duarte (@anacnd), famosa por mostrar curiosidades no microscópio, comparou o glitter comprado na papelaria e o supostamente “comestível”, comprado da prateleira de alimentos. “Vocês viram diferença? Nem eu”, disse. Ela explicou que o glitter comestível de verdade é feito de amido, mica natural ou celulose, mas é difícil de achar.
Ana destacou que a culpa não é das confeiteiras nem das vendedoras, e sim dos fabricantes. “Eles colocam tudo junto, o decorativo e o alimentar. Ninguém avisa que um deles é plástico moído.” Ela lembrou que, embora o plástico não seja absorvido, pode causar irritação intestinal e aumentar o acúmulo de microplásticos no corpo.
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O engenheiro de alimentos Frederico Canella, do canal Resenho dos Alimentos, explicou que há dois tipos legítimos de glitter comestível: os de base mineral (mica tratada) e os de base alimentar (açúcar, amido e maltodextrina). “Esses podem ser consumidos. O problema é que, no Brasil, até eles aparecem como ‘decorativos’, o que confunde.”
Canella disse que o erro é geral — das empresas às lojas. “É um baita erro. E na internet piora: os anúncios não trazem os ingredientes, o consumidor nem sabe o que está comprando.”
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Anvisa alerta, mas nada muda
Com a repercussão, a Anvisa publicou nota reforçando que plásticos, incluindo o polipropileno (PP) micronizado, não estão autorizados pra uso em alimentos. Nenhum glitter feito de plástico pode ser usado em bolos, doces ou confeitos.
Segundo a agência, os produtos pra colorir e decorar devem seguir regras específicas e usar apenas aditivos alimentares aprovados. Plástico é permitido só em embalagens e utensílios, e dentro de limites controlados.
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Mesmo assim, a fiscalização não mudou. As lojas continuam vendendo glitters comestíveis e decorativos lado a lado. A Anvisa orienta que consumidores leiam os rótulos: siglas como PP, PET ou PVC indicam que o produto não pode ser ingerido. Já os seguros devem trazer “grau alimentício” ou “food grade”.
Nas redes, o público cobra medidas mais firmes. Dario resumiu: “A Anvisa jogou a responsabilidade pra gente, como se todo mundo soubesse o que é PP. Mas até as atendentes vendem achando que é comestível.”
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Segundo os influenciadores, o caso mostrou o tamanho da brecha na legislação: falta padronização nos rótulos e nas prateleiras, o que permite que glitters de plástico e alimentares fiquem lado a lado. Até que essa confusão seja resolvida, Dário recomendou evitar comer qualquer produto com glitter.