Os quatro estados do Conselho de Desenvolvimento e Integração Sul (Codesul) bateram na porta do Ministério dos Transportes na terça-feira, em Brasília, para entregar um relatório pesado sobre a situação da malha sul. A mensagem é clara: se nada for feito, a ferrovia que já anda capenga pode piorar ainda mais em Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul.
O documento, entregue ao secretário nacional de Transporte Ferroviário, Leonardo Cezar Ribeiro, reforça um drama que o catarinense vive todo dia: como o trem praticamente não existe, tudo acaba nas ...
O documento, entregue ao secretário nacional de Transporte Ferroviário, Leonardo Cezar Ribeiro, reforça um drama que o catarinense vive todo dia: como o trem praticamente não existe, tudo acaba nas rodovias. E isso significa mais caminhão na BR 101, mais filas, mais engarrafamento e mais custo para quem depende da estrada para trabalhar, estudar ou simplesmente se deslocar.
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Situação precária
De acordo com o relatório, dos 1210 km de trilhos em Santa Catarina, só 210 km funcionam, representando 17,3% da malha. Para um estado que movimenta 20% dos contêineres do país, isso é praticamente nada, aponta o documento. Resultado: só 6% das cargas dos portos catarinenses seguem por ferrovia — todo o resto vai para os caminhões.
No Rio Grande do Sul, quase metade da malha está inativa. As enchentes de 2024 derrubaram a operação de 1680 km para 921 km. No Paraná, o gargalo é na Serra da Esperança, travando a passagem de grãos, carnes e insumos. Para o Codesul, tudo isso junto prejudica cadeias produtivas inteiras, especialmente agroindústria e exportação.
Estrada no limite
O relatório lembra que 65% do transporte brasileiro depende das rodovias. No caso do milho — que sai do centro-oeste e abastece as agroindústrias catarinenses — esse número pula para 98%. Ou seja, enquanto o trem não vem, a carreta reina. E aqui entra a conta que todo catarinense conhece bem: rodovias mais desgastadas e mais riscos de acidentes.
Rodovias como BR 101, BR 277 e BR 116 já estão saturadas. Some a isso a redução de motoristas e o envelhecimento da categoria, e o sul entra num risco real de colapso logístico. Por isso os estados estão batendo na porta do governo federal para não deixar a situação ficar ainda pior.
Por que os estados rejeitam dividir a malha sul
A proposta do governo federal é rachar a malha sul em três concessões: Paraná–SC, Rio Grande e Mercosul. O Codesul diz que isso pode travar ainda mais o sistema: diminui escala, encarece operação, afasta investimento e quebra a integração entre os estados.
O bloco quer uma concessão única, com garantia de continuidade operacional e recuperação imediata de trechos destruídos no Rio Grande do Sul. Também pede uma avaliação técnica para definir o que deve ser reativado, modernizado ou ampliado.
Os governadores sugerem ainda um esforço conjunto entre União e estados para viabilizar financeiramente uma concessão integrada — vista por eles como a única capaz de atender à demanda real do sul e reduzir a pressão sobre as rodovias.
O Codesul reconhece que a Política Nacional de Outorgas Ferroviárias, anunciada pelo governo federal, é o maior pacote para o setor em décadas — são oito leilões previstos e R$ 140 bilhões em investimentos para recuperar trechos e abrir novos corredores. Mas, na visão dos estados, a ideia de dividir a malha sul em três concessões (Paraná–SC, Rio Grande e Mercosul) pode deixar tudo ainda mais travado. Eles dizem que se cada pedaço tiver uma gestão diferente, a logística perde continuidade e fica mais cara.
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PROPOSTAS DO CODESUL
- - Arrumar o que já existe, incluindo trechos abandonados e trilhos destruídos no RS após as enchentes
- - Garantir que a operação não pare durante a troca de contratos da concessão
- - Manter a malha sul inteira em vez de fatiada, porque só a concessão integrada teria escala e força para atrair investimentos e garantir fluxo de carga sem jogar mais caminhões nas estradas.
- - Aportes financeiros dos estados para viabilizar a concessão única