Na noite de 22 de setembro, perto das 23h30, Tobinho voltou para casa inquieto, arranhando a porta, se escondendo debaixo da casa de madeira e apresentando convulsões. Ingrid o resgatou, mas não conseguiu levá-lo até o portão para buscar ajuda. “Aí eu larguei ele no tapete e comecei a chorar. O vizinho veio e disse: foi aquele cara de novo, aquele monstro de novo, matou mais um cachorro. Não dá para deixar esse cara impune”.
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Caso não é isolado
O crime aconteceu no bairro das Nações, em Balneário Camboriú, e reacendeu o medo da vizinhança. Moradores relatam que outros animais já morreram na mesma rua em circunstâncias semelhantes. “Não é o primeiro”, dizem. No mesmo dia, segundo vizinhos, outra cachorrinha também teria morrido após sinais de envenenamento.
As câmeras da própria casa de Ingrid registraram às 21h55 a figura de um homem do outro lado da rua chamando o animal. Minutos depois, começaram os sintomas que levaram à morte de Tobinho.
Corrida contra o tempo
Desesperada por respostas, Ingrid foi até a delegacia das Nações e registrou boletim de ocorrência. O policial que a atendeu orientou: seria necessário um laudo para confirmar o envenenamento e dar base a uma ação no Ministério Público.
Sem condições financeiras, Ingrid procurou clínicas veterinárias na madrugada. “Me falaram em R$ 1,5 mil só para a necrópsia. Eu não tinha esse dinheiro”, contou. A notícia se espalhou entre vizinhos, que decidiram se unir. Uma vaquinha foi organizada na própria rua para custear o exame. A ideia era ter uma prova concreta contra o homem que, segundo os vizinhos, perturba a rua há anos.
Com a ajuda arrecadada, Ingrid conseguiu deixar o corpo de Tobinho numa clínica, devidamente identificado com etiquetas de “não mexer” e “aguardando necrópsia”.
No dia seguinte, quando voltou para acompanhar a retirada pela patologista, recebeu a notícia de que a Ambiental havia recolhido o corpo junto com outros animais. “Perdemos a prova do crime”, lamenta.
Ingrid ainda buscou respostas com a Ambiental. Foi informada de que o animal já havia sido levado ao aterro sanitário, junto com o lixo comum, sem possibilidade de recuperação. A tutora conta que a situação a abalou profundamente.
Ela conta que a funcionária da recepção da clínica, abalada com o erro, chegou a se oferecer para acompanhá-la até o local. O corpo, no entanto, havia sido descartado junto ao lixo comum, já que o aterro funciona durante toda a noite. A tutora disse que se sentiu ainda mais ferida, porque já tinha conseguido, com ajuda de um amigo, o custeio da cremação do cão depois da necrópsia.
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“Ele era meu filho de nove anos, me deu amor e foi amado. Como foi parar no lixo comum? Como se nada fosse! Só em pensar nisso já começo a chorar novamente.”
Sem o corpinho de Tobinho, a família tenta preservar o que restou: amostras do vômito e de um material encontrado no portão, que parece ser comida misturada a chumbinho. A ideia é solicitar exame toxicológico e manter algum lastro de prova.
A pedido da tutora, a clínica não será identificada. O DIARINHO buscou posicionamento do estabelecimento sobre os procedimentos adotados e, até a publicação, não houve retorno. O DIARINHO mantém o espaço aberto para esclarecimentos.
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Vizinhança aponta suspeito
Moradores do bairro dizem viver em clima de medo. Eles relatam que um vizinho seria o responsável por envenenamentos e perturbações constantes. Por lei, o DIARINHO não pode divulgar o nome do suspeito.
Relatos descrevem gritos, insultos pelo alto-falante, difamações nas redes sociais, ameaças de morte e até um “zunido” emitido por caixas de som para provocar os cães da rua. Uma vizinha conta que sua filha de seis anos deixou de dormir no próprio quarto por medo das explosões de fúria. Outra relata que “desde que ele chegou, pelo menos cinco ou seis cães morreram envenenados na rua”.
Segundo os moradores, há mais de 30 boletins de ocorrência contra o mesmo homem, incluindo registros por homofobia, perturbação, difamação e assédio. Eles afirmam ainda que existe um acordo judicial para que ele deixasse a casa, mas que estaria sendo descumprido.
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Tutora pede justiça
Ingrid Ribeiro diz que não vai desistir do caso. Ela levou vídeos, relatos de vizinhos e as amostras preservadas para a polícia e quer responsabilização criminal e civil. “Não é o primeiro que ele faz, né?”, relatou.
A tutora também pretende acionar quem retirou o corpo sem autorização para descarte. “Eu quero culpar a Ambiental por negligência”, disse, ao relatar que o cão estava identificado para necrópsia. Em paralelo, ela reforça que seguirá cooperando com o inquérito e buscando o laudo toxicológico a partir do vômito e do material recolhido no portão. “Não vai ficar assim não.”
O pedido de justiça vem marcado pelo luto. Ingrid relata que está desolada desde a noite da morte do cãozinho, com crises de ansiedade e forte abalo emocional. “Acredito que os animais são anjos na terra, eles só querem nos dar amor, nada mais!”, lamenta.
O que diz a Ambiental
A Ambiental, responsável pela coleta, lamentou a perda e se solidarizou com a tutora. Em nota, disse que “o procedimento foi realizado conforme os protocolos, com acompanhamento de um responsável da clínica, que indicou à equipe o que deveria ser recolhido”.
A empresa afirma atuar “de forma idônea, com gestão transparente e total respeito aos procedimentos”, e reforça que “a retirada do animal não tem qualquer relação com interesses externos”.
O que diz a Polícia Civil
A Polícia Civil de Balneário Camboriú confirmou que instaurou inquérito para apurar o caso, mas o delegado optou por não dar mais detalhes sobre a investigação no momento.