Sete meses depois da explosão, Sameli ainda se recupera das queimaduras. Com gastos elevados para tentar se reabilitar, ela pede ajuda da comunidade para pagar os medicamentos que podem minimizar as cicatrizes que ficaram no rosto, braços e tronco. Antes do acidente, Sameli trabalhava como caixa de uma lanchonete.
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Sem poder voltar ao trabalho, ela sobrevive com uma pensão judicial paga pelo restaurante onde sofreu o acidente, mas que é insuficiente para bancar todas as suas despesas. Por isso, criou uma vaquinha para custear os itens essenciais para sua recuperação, como malhas compressivas, roupas com proteção solar, medicamentos e materiais para curativos. “Nada disso é luxo, é sobrevivência, é dignidade, é parte de um recomeço que exige tudo de mim — força, paciência e coragem — mas que também depende de ajuda”, escreveu na Vakinha Virtual.
Quem quiser ajudar pode contribuir com qualquer valor pelo link da Vakinha ou pelo Pix v5584447@vakinha.com.br.
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Alma em sofrimento
Além das marcas físicas, Sameli também luta para superar o impacto emocional do acidente. “A dor emocional, eu não sei se algum dia vai passar”, confidencia. Ela lembra com detalhes do momento da explosão no restaurante onde adorava comer fondue e onde se tornou cliente assim que se mudou do Rio Grande do Sul para Santa Catarina há cerca de sete anos.
Ela e uma amiga já haviam terminado a sequência salgada do rodízio de fondue e iniciariam a degustação dos doces quando o acidente aconteceu. “Ele [o garçom] despejou o álcool, sem conferir, sem tirar da mesa, sem nada. No que ele despejou o álcool, já deu aquele estrondo. Eu só via a chama levantar e pegar no meu vestido. Levantei, bati nos óculos, ele voou longe, comecei a gritar e fechei os meus olhos e eu só pensava: ‘meu Deus, eu vou morrer aqui’. Eu escutava o desespero das pessoas em volta”, relata.
Segundo ela, não houve socorro imediato do restaurante. Outros clientes é que a ajudaram. O nome do garçom que a atendia ela nunca soube. “Alguém gritava ‘tem que jogar água’. Até que alguém falou: ‘tem que abafar´. Eu senti que alguém me abraçou. Só que como eu me batia muito, eu abria espaço e voltava o fogo. Até que veio mais alguém e abraçou mais forte, daí me joguei no chão e apagou o fogo. Eu ainda levantei correndo desesperada”, relembra.
Depois de caminhar em desespero, uma funcionária a levou a uma sala até a chegada dos bombeiros. A ambulância demorou a chegar e, nesse intervalo, uma atendente quis cobrar a conta da mesa dela. “A minha amiga se negou a pagar”, lembra.
Ela desmaiou no trajeto para o hospital. Acordou 16 dias depois, já internada em Lages. “Tive 32% do corpo queimado, tórax, braço e rosto. Tive que fazer enxerto. Tirei um pedaço da perna, enxertei nos braços. Tive rejeição do enxerto do braço direito. Tive uma bactéria”, relata.
Durante os 30 dias internada, ligava por vídeo para a família em Itajaí para falar com a mãe e a filha pequena. Ela descobriu tardiamente sobre o uso de malhas compressivas e encontrou dificuldade para localizar profissionais especializados em queimaduras. “Tive que fazer fono porque eu não conseguia mais falar. Por causa da intubação fiquei com estenose”, explica.
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Hoje, além do apoio da família e da filha de um ano e sete meses, ela conta com apoio da Associação Nacional dos Amigos e Vítimas de Queimadura. Com sinais de depressão, tenta retomar a rotina. “Eu tô querendo voltar a trabalhar, porque eu tô com início de depressão e eu acho que, de repente, voltar pra rotina vai me ajudar. A minha médica não quer que eu volte, mas ela quer fazer uma reintegração social, aos poucos”, relata.
Atualmente, Sameli faz acompanhamento psicológico e psiquiátrico, além de sessões de fisioterapia. “Nem minha filha eu conseguia pegar no colo. Ela tentava me abraçar, ela me encostava e levantava a bolha”, relata.
Ela voltou a conseguir dormir há cerca de duas semanas. “Antes eu não dormia. Eu deitava na cama e ficava remoendo. Desestruturou a minha família”, analisa.
Processo de aceitação
“Eu tinha muita vergonha de sair de casa. Toda vez que eu saía de casa, as pessoas ficavam me olhando. Os olhares me incomodam. Eu ainda tenho dificuldades de me olhar no espelho, porque eu não consigo aceitar a minha imagem. Eu era perfeita, agora tenho que lidar com isso. Eu sei que vai ser para o resto da vida. O pior eu acho que é o meu psicológico”, confessa.
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Mesmo habituada à dor física, o emocional pesa. “Eu tenho poucas dores, porque é como se eu tivesse quase acostumado a sentir dor, mas a dor emocional, eu não sei se algum dia vai passar”, diz.
Hoje, sonha em estudar e fazer cirurgias reconstrutivas. “Eu quero voltar a estudar. A minha ideia era voltar a estudar esse ano, porque eu quero cursar técnica de enfermagem. Esse ano me deu mais vontade ainda, porque eu quero ajudar as pessoas, principalmente quem passa por isso.”
Uma certeza ela já tem: “nunca mais voltarei a comer fondue. Tudo que passa que passa propaganda eu já bloqueio, pois não consigo nem ver. Tenho pânico, terror de fogo, de ter que colocar alguma coisa na tomada, tenho medo até pra tomar banho de chuveiro, tenho que tomar banho de porta aberta, pois eu tenho medo que aconteça alguma coisa”.