CRUELDADE NA BALADA
Corpo de paraense espancado e morto será cremado em Itajaí
Boteco da Brava, onde iniciou a confusão, vai entregar imagens da agressão covarde à Polícia Civil
Franciele Marcon [fran@diarinho.com.br]



O corpo do paraense Rodrigo Araújo, de 34 anos, morto depois de ter sido espancado por um grupo de homens na noite de domingo, na saída do bar Boteco da Brava, na Praia dos Amores, em BC, não será levado para Bragança (PA), onde vive a família dele.
A esposa, Kellem Vanessa, de 28 anos, contou que, conforme vontade manifestada por Rodrigo, ele será cremado e as cinzas levadas para a cidade natal. A Divisão de Investigação Criminal (DIC) investiga o caso, e o Boteco da Brava vai entregar as imagens das câmeras de segurança à Polícia Civil.
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Rodrigo e Kellem moravam no bairro Cordeiros, em Itajaí, havia menos de dois anos. O casal se mudou em busca de uma vida melhor no sul do Brasil. Kellem é técnica em enfermagem, mas atualmente trabalha como auxiliar de faturamento. Rodrigo trabalhava como auxiliar de motorista numa transportadora de Itajaí.
No domingo à noite, eles foram ao Boteco da Brava encontrar uma amiga do casal. Kellem relatou que a amiga estava um pouco alcoolizada. “Alguns homens estavam mexendo com ela. Eu falei para ele [Rodrigo] ficar de olho. Logo depois eu vi um deles tentando contato com ela novamente, eu fui pedir para parar, que não chegassem mais perto dela”, contou.
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Em seguida, Rodrigo também chamou um dos homens para conversar. “Acabou acontecendo uma confusão generalizada. Os seguranças apartaram, colocaram todos para fora. Os seguranças foram atenciosos comigo, perguntaram o que aconteceu, eu expliquei. Eles disseram que colocariam o grupo para fora e perguntaram se eu poderia acompanhar. Peguei nossos casacos e fui. Lá fora eles ainda trocaram socos, ainda ocorreu uma confusãozinha com todos, mas os seguranças novamente apartaram, jogaram spray de pimenta e a confusão acabou”, relatou.
Kellem conta que o marido atravessou novamente a rua e foi falar com o grupo com quem tinha brigado. “Não sei por qual motivo ele atravessou a rua. Daí vi aquela confusão novamente, com vários homens brigando. Eu vi que o meu marido estava no chão, sendo espancado. Comecei a pedir para pararem”, narrou. Os seguranças pararam a pancadaria.
Denúncia de negligência no hospital
Rodrigo sangrava muito e o Samu foi chamado. Ele foi levado para o hospital Ruth Cardoso e Kellem foi de Uber até o local. “Ele foi colocado em cima de uma maca. Funcionários me disseram que passados uns 50 minutos ele só tinha recebido medicação para dor e vômito. Eu comecei a ficar indignada com aquela situação, esperei mais um pouco, eu só conseguia ouvir os gritos dele de dor, muito altos...”, contou.
Ela então pediu para transferi-lo para outro hospital onde acreditava que seria melhor atendido. “Eu tirei por conta própria, assinei um termo de responsabilidade, chamei um Uber e o levei para o hospital Marieta, onde ele realmente foi atendido, mas pouco depois entrou em parada cardiorrespiratória, chegou a ser entubado, mas não resistiu”, relatou.
Kellem acusa o hospital Ruth Cardoso de negligência e pede à prefeita Juliana Pavan (PSD) que o caso seja apurado. Ela contou que ainda não foi chamada pela Polícia Civil para depor, mas que já conversou com representantes do Boteco da Brava, que devem entregar as filmagens das agressões à DIC.
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Perdeu o filho e o marido em Itajaí

Kellem e Rodrigo estavam casados há quatro anos. Em busca de novas oportunidades, vieram para Santa Catarina sonhando em empreender, há um ano e sete meses. Dois meses antes da morte do marido, o casal enfrentou outra tragédia: a perda do filho recém-nascido, prematuro de seis meses, que morreu em 6 de maio, com quatro meses e 16 dias.
A criança ficou internada desde o nascimento no hospital Marieta e faleceu poucos dias antes da alta prevista. Com a morte do marido e do filho, Kellem decidiu voltar para o Pará. “Não tenho mais nenhum motivo para ficar aqui. Eu penso em voltar, não vou permanecer na região”, afirmou.
Ela espera que os responsáveis pela morte de Rodrigo sejam presos e condenados. “Um homem corajoso, forte, de um coração imenso, gentil, odiava injustiças, sempre defendeu quem estava ao seu lado. Trabalhador, bom pai, bom marido”, desabafou.
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Imagens registraram as agressões

O advogado Claudemir Silva, que representa o Boteco da Brava, informou que as imagens serão entregues à equipe do delegado Vicente Soares, da DIC. Segundo ele, os vídeos mostram com clareza toda a agressão do lado de fora do bar, que resultou na morte de Rodrigo, além do início da confusão no interior do estabelecimento.
Claudemir explicou que os seguranças separaram a briga duas vezes, mesmo após o grupo estar do lado de fora. A confusão teria começado dentro do bar, quando alguns homens e uma mulher, com aparência masculina, assediaram a amiga do casal.
O advogado disse ainda que o Boteco da Brava vai colaborar com as investigações. Numa análise preliminar, Claudemir acredita que Rodrigo possa ter sofrido um trauma com a forte pancada da cabeça contra o chão. “Ressaltamos que a sequência dos acontecimentos se deu já fora das dependências do estabelecimento e que mesmo assim, a equipe de segurança agiu para apaziguar os ânimos dos envolvidos. Contudo, após a situação estar controlada, as partes entraram novamente em luta corporal, a qual ocasionou o fatídico desfecho. Ressaltamos que estamos colaborando integralmente com as autoridades e prestamos apoio à família da vítima”, finalizou o advogado da casa noturna.