A movimentação na fábrica é intensa. Caminhões entram e saem pelo portão de acesso na avenida Reinaldo Schmithausen, no cais os barcos atracam, funcionários percorrem corredores gelados, transportam caixas, na esteira o pescado passa ligeiro, uma pequena multidão de trabalhadores manuseia o produto do forma quase sincronizada, no pátio motoristas trocam informações, nos escritórios o pessoal da administração dá o suporte necessário. 

E no meio de tudo isso surge um senhor de 86 anos, tão ágil quantos os outros, tão acelerado quanto os outros, a mesma aparência de quem não para de trabalhar. É David Gregório Neto, o homem que fundou a empresa há 56 anos e que, desde então, se dedica a fazê-la funcionar e progredir, com as próprias mãos. Ele cumprimenta o visitante e lamenta não poder ficar para uma conversa mais longa. O trabalho o espera.

Imigrantes

A história dos Gregório em solo brasileiro começa no século 19, durante a imigração italiana para o Brasil. Assim como tantos outros europeus, David Gregório atravessou o Atlântico com a família e desembarcou em Itajaí, com destino a Nova Trento onde iria cultivar terras, sobreviver e prosperar com a agricultura. Um pequeno ajuste de rota fez com que os Gregório se estabelecessem em Tijucas. David casou-se e ali teve seis filhos, entre eles Rosalina Gregório.

Rosalina Gregório mudou-se para Itajaí onde deu os primeiros sinais do empreendedorismo dos Gregório, com a criação de um restaurante entre as décadas de 1930 e 1940, servindo refeições para o povo que trabalhava no entorno do Mercado do Peixe. Foi nesse ambiente — num tempo longínquo em que o meio mais eficaz para se conservar carnes era a salga — que nasceu David Gregório Neto, filho de Rosalina.

O neto do imigrante italiano cresceu nos arredores do Mercado do Peixe, acompanhando a mãe no trabalho e observando o vai e vem de peixes e pescadores. “Eu sou a única pessoa viva que pode dizer que dormia dentro do Mercado do Peixe”, garante o empresário. Foi rodeado de pescadores e mercadores que David Gregório Neto teve a ideia de ingressar no mercado dos pescados em parceria com dois outros irmãos. 

Com uma caminhonete, começou a comprar o peixe dos pescadores nas praias da região pra revender no Mercado. Foi ampliando seus negócios até adquirir um terreno às margens do rio Itajaí-açu, na região onde hoje está instalado o terminal portuário Braskarne, na rua Blumenau. O terreno foi negociado posteriormente, na década de 1990, com a empresa Kowalski e a David Gregório Neto se instalou no bairro Cordeiros onde a empresa funciona até os dias atuais.

Trajetória

A David Gregório Neto teve sua origem na comercialização de peixe, mas depois de um tempo expandiu suas atividades para o transporte e a captura do pescado. A empresa chegou a ter uma frota de 12 embarcações e caminhões para o transporte de produtos para o Paraná, São Paulo Rio de Janeiro, Tocantins e todos os estados da região norte do país. 

Atualmente, a empresa atua no congelamento, beneficiamento e armazenamento de peixe e tem 190 metros de trapiche, com capacidade para descarregar 12 toneladas de pescado por hora. A empresa recebe o peixe no cais próprio, processa a lavagem e a classificação do produto que segue então para os túneis de congelamento. Depois o peixe é embalado, recebe as informações exigidas por legislação na embalagem, além do Selo de Inspeção Federal que a empresa tem desde 1969, e então é finalmente estocado.

 A estrutura ainda conta com quatro túneis de congelamento separados, com capacidade para congelar 70 toneladas de sardinha-laje e 220 toneladas de atum por dia. A câmara fria específica para armazenagem tem capacidade para estocar até 800 toneladas de pescado. A empresa também tem uma fábrica de gelo que produz até 240 toneladas por dia para abastecimento de embarcações, caminhões e contêineres.

Legado

Douglas Gregório, um dos seis filhos de David Gregório Neto, é quem leva adiante o sonho do pai, atuando como CEO da empresa. Ele destaca que, atualmente, a David Gregório Neto segue em crescimento e fornece produto para as principais indústrias de alimentos do setor como Nauterra, Kamil, Coqueiro, Tours e SMG. 

O administrador da empresa lembra que, mesmo não sendo a principal atividade econômica da cidade do ponto de vista de arrecadação, o setor pesqueiro é destaque na geração de empregos. A David Gregório Neto emprega mais de 50 funcionários diretamente e tem planos de crescimento. “O povo vai continuar se sustentando pelo mar. A pesca vai continuar a crescer e a gerar emprego e renda para as pessoas da nossa cidade”, afirma Douglas.