Juliana: O candidato do prefeito, que se apresentava como candidato à continuidade, apresentou uma campanha suja, digamos assim. As pessoas, quando se depararam com os ataques, ofensas, muitas vezes, atitudes com raiva... Isso fez com que muitas pessoas não participassem do processo eleitoral. Tanto que nós tivemos mais de 33 mil pessoas que não estiveram votando. Uma abstenção muito grande. A forma com que conduziram o processo eleitoral reverteu, no sentido das pessoas não irem fazer a sua escolha. Uma campanha suja, onde levaram para as ruas cópias de jornais fraudados, indo contra a lei, tinha liminar para recolher esse material e mesmo assim estavam lá, entregando de madrugada, com ataques através das redes sociais. Nos próprios debates não estavam mostrando propostas, vinham para o tudo ou nada. Mas a resposta veio nas urnas.
Na campanha eleitoral a senhora foi acusada de caixa dois e, por sua vez, denunciou um possível aparelhamento da Secretaria de Segurança. Como pretende lidar com essas questões a partir de sua posse?
Juliana: O nosso corpo jurídico está atento a todas essas situações. Até porque sou cristã, eu perdoo, mas não vou esquecer. A campanha acabou, encerrou, o resultado veio na urna, mas agora cabe ao corpo jurídico dar o devido encaminhamento a tudo o que aconteceu. [Mas isso quer dizer que tem cicatrizes que não vão ser curadas?] Eu não esqueço e não esquecerei jamais o que fizeram. Até porque eu não esqueço o que fizeram com meu irmão em 2016, que foi o mesmo grupo político que hoje armou toda essa situação na campanha envolvendo o meu nome e o nome do meu pai.
Analistas afirmam que a senhora foi eleita com forte apoio dos bairros populares, o que pode indicar que seu governo será “menos elitista”. Qual é a sua visão?
Juliana: Sou muito grata pelo reconhecimento do povo de Balneário. Reconheço que a vitória foi nos bairros. Por isso que, desde o primeiro momento, eu sempre falei: serei a prefeita dos bairros. Claro, vou honrar o centro, mas a nossa caminhada pelos bairros de Balneário não parou. Eu estive por todos os bairros durante o legislativo, enquanto vereadora, e serei assim como prefeita também. Você tem que estar em contato com as pessoas. [A senhora tinha certeza da sua eleição?] Sempre acreditei na vitória. Eu posso dizer para vocês que desde o momento que eu me coloquei à disposição para estar como candidata à prefeita, a forma com que as pessoas iam nos abraçando, aceitando, foi fortalecendo a decisão. Você não entra numa campanha achando que vai perder. Você entra querendo ganhar... Confesso que teve momentos, principalmente na última semana, que eu balancei um pouco, sabendo que nós teríamos uma margem muito pequena de diferença. Mas em momento algum eu desacreditei.
Quais nomes estão confirmados na sua equipe de transição?
Juliana: A vereadora Jade Martins aceitou o convite para fazer parte da transição, ela conhece muito da gestão pública, já participou de outras transições. Convidamos o Leandro Índio, que foi o meu coordenador de campanha, ele estará na pasta da Controladoria e será o coordenador-geral da transição. Carlos Humberto, pai do deputado Carlos Humberto, na área do Planejamento. O doutor Diego Montibeller, na área da Procuradoria. A contadora Magda Bez, que eu conheço há mais de 30 anos, vai fazer parte da transição. Convidamos a Maria Ester Menegasso, que estará à frente da pasta da Educação. O Ary Souza, que vai fazer parte da Administração. [Esses nomes podem ser futuros secretários?] Alguns podem sim. [Haverá uma reforma administrativa no seu governo?] Nós vamos diminuir o número de secretarias. Eu penso em transformar a secretaria de Turismo em uma autarquia, e separar de desenvolvimento econômico. Vamos em autarquia justamente para captar mais recursos, tornar independente e trazer novas possibilidades para Balneário, justamente por ser uma cidade que é reconhecida como a Capital Catarinense do Turismo. Eu gostaria que a Defesa Civil fosse parte do gabinete da prefeita. [Teremos mais mulheres no seu governo?] Teremos!
"O governador Jorginho tem uma fatura a ser cumprida com Balneário”
Juliana Pavan
A senhora foi eleita em Balneário, enquanto seu pai, Leonel Pavan, venceu em Camboriú. Existe algum projeto em especial que será desenvolvido em parceria entre as cidades?
Juliana: A equipe de transição que o Leonel Pavan está montando em Camboriú e a nossa equipe de transição em determinado momento vão conversar. Tem projetos que precisam ser dados encaminhamentos já no início do governo. Essa integração vai acontecer já desde o primeiro momento do governo. Nós precisamos investir no parque inundável. Se nós não fizermos isso, nós teremos falta de segurança hídrica nos próximos anos, já está mais do que na hora desse projeto sair do papel.
A senhora acredita que pegará uma cidade andando ou com muitos problemas?
Juliana: Eu posso falar, com base num diagnóstico preliminar da situação fiscal do município, que é preocupante. Mas isso não é para assustar, de forma alguma, mas sim para dizer dos grandes desafios que nós teremos pela frente e da importância de termos um choque de gestão já nas primeiras semanas. [A senhora vai enviar para a Câmara a reforma administrativa?] Sim, já estamos construindo esse projeto, vou apresentar ao senhor prefeito para ver se ele tem a possibilidade de encaminhar à Câmara ainda este ano.
Durante a campanha, a senhora destacou a educação, em especial a reconstrução do CIEP. Qual será a sua prioridade nesse setor?
Juliana: Primeiro preciso ver para onde vão as crianças do NEI Ariribá. A escola vai ser demolida em função da passagem da avenida Martin Luther, mas nós precisamos trazer a segurança de onde essas crianças vão estudar. Nós vamos estudar uma forma de construir um novo núcleo. [O CIEP vai ser reconstruído?] Já no primeiro ano de governo. Pode anotar. Questão de honra. Tentaram derrubar uma história, mas ela não se apaga.
Como será o seu relacionamento com o governador Jorginho Mello (PL)? Já houve alguma conversa entre vocês?
Juliana: Não, não teve essa conversa ainda com o governador. Eu irei conversar com ele, até porque Balneário elegeu o governador Jorginho Mello, ele deve muita gratidão a esta cidade, independente do prefeito e do partido que está à frente da administração municipal. Eu acredito que ele tem essa compreensão. Tudo aquilo que ele prometeu relacionado à saúde eu não esqueci. E agora, enquanto prefeita, eu vou cobrar. Em relação ao Hospital Ruth Cardoso, a gente não pode terceirizar o problema. A gente tem que ter coragem pra ir para o enfrentamento, e eu vou buscar com certeza com o governo do estado. O governador Jorginho tem uma fatura a ser cumprida com Balneário. Até porque o Ruth Cardoso é porta aberta pra atender a região. O que não podemos permitir é que o hospital continue fazendo tudo o que faz hoje. Nós temos que dividir as especialidades, dividir os procedimentos com os municípios vizinhos. Itapema recentemente inaugurou um hospital, mas ainda não teve impacto na diminuição das filas em BC.
A senhora não terá maioria na Câmara. Como pretende lidar com o legislativo?
Juliana: Nós temos que respeitar o legislativo, trabalhar em parceria, propor as audiências públicas, as reuniões públicas, a prefeita precisa participar desses encontros quando é convidada. Nos últimos anos nós não tivemos isso. Me desculpe, era uma falta de respeito constante com o legislativo. Os vereadores são os políticos mais próximos do povo, são 19, nós temos que respeitar a escolha do povo. A Juliana Pavan não será somente a prefeita, será uma grande parceira do legislativo e eu já estou me colocando à disposição. Na semana passada, nós propusemos um encontro com todos os vereadores eleitos, nem todos estiveram presentes, mas todos foram convidados justamente para propor esse diálogo que é fundamental. [Vereadores do PL participaram?] Não, mas todos praticamente me ligaram. Só um que não me ligou.
João Rodrigues, uma liderança forte do PSD em Santa Catarina, já manifestou seu desejo de ser governador. Em uma possível campanha daqui a dois anos, a senhora estará ao lado dele, contra a reeleição de Jorginho Mello?
Juliana: Terá o meu voto e o meu apoio [João Rodrigues]. Eu sou fiel às minhas escolhas. Eu tenho ética nas minhas atitudes. A partir do momento que o PSD me convidou para fazer parte deste grande projeto para o Estado de Santa Catarina, porque a eleição municipal é um projeto que já visa o Estado, tanto eu quanto o meu pai, nós aceitamos o convite e fomos realmente abraçados. O prefeito João Rodrigues é um grande nome para Santa Catarina, ficarei feliz realmente de levar o seu nome como próximo governador do Estado. O meu candidato a governador, eu já posso dizer, é João Rodrigues.
Como será a sua relação com o governo federal? Balneário Camboriú enviará projetos para captar verbas federais?
Juliana: Claro! Eu não sou doida para rasgar dinheiro. A gente precisa captar recurso, captar convênios, a gente precisa resgatar emendas, buscar convênios e recursos com o governo federal. Independentemente do posicionamento, do partido do presidente que está lá... Independentemente se eu sou de direita, ele é de esquerda, a gente precisa pensar na cidade. Nós vamos ter uma conversa institucional entre a prefeitura de Balneário e a presidência da República.
Alguns candidatos a vereadores e a prefeitos, que foram seus opositores, foram convidados ou serão convidados para compor o seu governo? Candidatos do PSD derrotados de outras cidades farão parte do seu governo?
Juliana: Pode ser que tenha nomes de secretários que possam vir de municípios vizinhos. A gente está analisando. Eu convidei três pessoas para o secretariado e as três são moradoras de Balneário. [Algum nome já aceitou?] Planejamento. A primeira pessoa a ser convidada e ele aceitou: Carlos Humberto, pai do deputado Carlos Humberto, ele será o secretário de Planejamento.
A senhora pensa em concorrer à reeleição ou há algum acordo político com o deputado Carlos Humberto para 2028?
Juliana: Eu quero ser. Eu sou muito grata ao deputado Carlos Humberto. Eu aprendi dentro da minha casa: gratidão você não pode só falar, você tem que praticar. Hoje, estando no PL, como líder da bancada do PL na Assembleia, ele demonstrou o seu apoio à nossa candidatura e foi muito importante. Tudo o que aconteceu, a traição que aconteceu lá atrás, ele acabou escolhendo apoiar um novo caminho para BC.
