Baixaria
Cabo eleitoral diz que mulher só se elege em Barra Velha “com a calcinha no joelho"
Áudio vazado causou indignação
Juvan Neto [editores@diarinho.com.br]
As mulheres de Barra Velha foram vítimas de um ataque misógino por parte de um cabo eleitoral da cidade na última sexta-feira. Em áudio vazado na internet, Márcio Curinga, morador de Itajuba, afirmou que Barra Velha seria uma cidade que “não elege vereador nem prefeita mulher”, e valeu-se da expressão chula “calcinha no joelho” para referir-se às atuais candidatas a vereadoras da cidade.
A fala do morador – que seria apoiador da coligação “Juntos somos mais fortes”, do prefeito atual e candidato Daniel Cunha (formada pelo PSD, PL, MDB e Avante), atingiu em cheio todas as mulheres, a começar pela primeira candidata a prefeita da história de Barra Velha, Elizabete Tamanini, a Professora Betinha (PT, PV e PCdoB), que considerou “repulsiva” a fala.
“Há uma possibilidade bem remota (...) que vai entrar uma [mulher na vida pública]”, diz Curinga, no áudio. “Nada contra, é uma opinião minha, mas é assim muito difícil, assim, vai entrar lá com a calcinha no joelho, entendeu? Barra Velha não elege mulher, a nossa retrospectiva mostra isso”, segue. “Pode ser que eleja, bom, tomara que eleja, independente do partido, mas é muito difícil, muito. Como eu falei, com a calcinha no joelho talvez ponha uma”, completa.
A fala, entretanto, não tem confirmação na história local. Barra Velha já teve cinco vereadoras ou suplentes eleitas e três candidatas a vice-prefeitas em eleições anteriores: Marlene Reinert, primeira mulher eleita, seguida por Oleias Nogaroli (MDB) e Márcia Aguiar (pelo extinto PFL), além das suplentes Conceição Freitas (MDB) e Marsilene Reits (PSB). Oleias e Márcia, inclusive, foram eleitas e reeleitas.
Mulheres são alvos diários de violência no Brasil
Ao DIARINHO, Elizabete Tamanini, que na sua chapa traz outras quatro candidatas a vereadoras, repudiou a fala. “Diariamente as mulheres no Brasil são alvo de todo tipo de violência, seja física, seja psicológica. É chulo e repulsivo esse comentário desse senhor, que se mostra desclassificado”, analisou a candidata.
Betinha disse que ficou ainda mais surpresa por saber a autoria do áudio, pois duas semanas atrás, na gravação de um podcast, conversou com ele sobre a importância da mulher na política e o direito que a mulher tem de estar na política, assegurado por lei.
A citação repercutiu ainda em outras candidaturas. Selma Soares, candidata do Podemos pela coligação “Orgulho e respeito por Barra Velha”, formada ainda pelo PP, PRD e União Brasil, lançou nota afirmando que Curinga deveria pedir desculpas em nome de si mesmo e “da chapa política que diz defender”.
O próprio prefeito interino Daniel, em nota, repudiou a fala – mas não abordou o fato de Curinga ser apoiador do PL. Daniel lembrou que em pleno Agosto Lilás, dedicado a combater a violência contra a mulher, a fala de Curinga é inaceitável. “Barra Velha tem em todas as coligações mulheres fortes, guerreiras e comprometidas”, analisou o prefeito.
Após o vazamento do áudio, Curinga se desculpou, em outro áudio, assumindo a autoria da fala, e alegando que “foi tirado do contexto” e que “quem o conhece sabe” que ele não seria “machista”. “Eu jamais ia degredir (sic) a imagem das mulheres porque sou devoto de Nossa Senhora e tenho duas noras maravilhosas”.
Segundo Márcio, o uso do termo “calcinha no joelho” seria uma expressão equivalente a “com as calças na mão”. “Distorceram as palavras, essa tropa de vagabundos que desvia cesta básica”, atacou, citando indiretamente o candidato a vice-prefeito Thiago Pinheiro pelo PP e Alan Batista (Podemos), que é réu numa denúncia sobre uso de alimentação pública para compra de votos na eleição de 2020.
Arquivo para download:
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